Um pêssego e um giz
Esse é um “diálogo” poético com Mario Benedetti (os trechos de minha autoria aparecem delimitados por setas)
Para cruzá-la ou não cruzá-la
eis a ponte
=> Para abraçá-la ou não abraçá-la
eis a causa <=
na outra margem alguém me espera
com um pêssego e um país
=> Do outro lado, alguém sussurra:
“Tenho uma pedra e um giz” <=
trago comigo oferendas desusadas
entre elas um guarda-chuva de umbigo de madeira
um livro com os pânicos em branco
e um violão que não sei abraçar
=> Na pedra, são gravados estilhaços de história
entre eles, sangue de jovens e suores num capuz
Lembranças de um caderno que não teve memória
E de um piano que tinha medo da luz” <=
venho com as faces da insônia
os lenços do mar e das pazes
os tímidos cartazes da dor
as liturgias do beijo e da sombra
=> Queria eu clarear estas notas
Lembrar que passado é pai, não padrasto
Podem me chamar ‘idiota!’
Está bem fincado o meu mastro. <=
nunca trouxe tanta coisa
nunca vim com tão pouco
=> Nunca quis tão pouco
Nunca tive tanta sede <=
eis a ponte
para cruzá-la ou não cruzá-la
e eu vou cruzar
sem prevenções
=> eis a causa
Para abraçá-la ou não abraçá-la
E vou abraçar
Sem intenções <=
na outra margem alguém me espera
com um pêssego e um país
=> Do outro lado alguém já grita:
“Tenho uma lanterna e um giz!” <=