Um pêssego e um giz

Esse é um “diálogo” poético com Mario Benedetti (os trechos de minha autoria aparecem delimitados por setas)

Para cruzá-la ou não cruzá-la

eis a ponte

=> Para abraçá-la ou não abraçá-la

eis a causa <=

na outra margem alguém me espera

com um pêssego e um país

=> Do outro lado, alguém sussurra:

“Tenho uma pedra e um giz” <=

trago comigo oferendas desusadas

entre elas um guarda-chuva de umbigo de madeira

um livro com os pânicos em branco

e um violão que não sei abraçar

=> Na pedra, são gravados estilhaços de história

entre eles, sangue de jovens e suores num capuz

Lembranças de um caderno que não teve memória

E de um piano que tinha medo da luz” <=

venho com as faces da insônia

os lenços do mar e das pazes

os tímidos cartazes da dor

as liturgias do beijo e da sombra

=> Queria eu clarear estas notas

Lembrar que passado é pai, não padrasto

Podem me chamar ‘idiota!’

Está bem fincado o meu mastro. <=

nunca trouxe tanta coisa

nunca vim com tão pouco

=> Nunca quis tão pouco

Nunca tive tanta sede <=

eis a ponte

para cruzá-la ou não cruzá-la

e eu vou cruzar

sem prevenções

=> eis a causa

Para abraçá-la ou não abraçá-la

E vou abraçar

Sem intenções <=

na outra margem alguém me espera

com um pêssego e um país

=> Do outro lado alguém já grita:

“Tenho uma lanterna e um giz!” <=

Ana Helena Tavares
Enviado por Ana Helena Tavares em 16/07/2010
Código do texto: T2381974