O Direito ao Delírio
Eduardo Galeano¹


Que tal começarmos a exercer
O direito de sonhar?
Que tal se delirarmos um pouquinho?

No próximo milênio, o ar estará limpo
de todo veneno
O televisor deixará de ser
o membro mais importante da família
As pessoas trabalharão para viver,
em vez de viver para trabalhar.

Os economistas não chamarão
nível de vida o nível de consumo,
nem chamarão qualidade de vida
a quantidade de coisas.

Ninguém será considerado herói
ou tolo só porque faz aquilo que
acredita ser justo, em vez de fazer
aquilo que mais lhe convém.

A comida não será uma mercadoria,
nem a comunicação um negócio,
porque comida e comunicação
são direitos humanos.

A educação não será um privilégio
apenas de quem possa pagá-la.
A polícia não será a maldição daqueles
que não podem comprá-la.

A justiça e a liberdade,
irmãs siamesas
condenadas a viverem separadas,
voltarão a juntar-se, bem unidas
ombro com ombro.

E os desertos do mundo e os desertos
da alma serão reflorestados.

¹Eduardo Hughes Galeano
* Montevidéu, Uruguai – 03 Setembro 1940 d.C.
 
 
 
Vamos saudar o sol que renasce
Em nossos olhos refletido.
Vamos demolir o muro
Das lamentações,
Como se nunca houvesse existido.
Vamos crepitar em arrebatamento
Tudo o que ousamos sonhar,
Em ousadia, em ousar!
Porque amanhã seremos só
Um pouco de cinza ao vento.