Com classe...
...Você chegou em noite nublada,
Disfarçada de garoa fina
Sorrateiramente
Molhou minha face.
Percebi tuas pegadas,
Gotas finas e orvalhadas
Desciam pela vidraça
Da sala desarrumada.
Havia folhas no chão,
Recados de amor partido ao meio
Varridas pelo vento.
As rosas agonizavam,
Vasos desaguados,
Terra árida...
Pétalas secas pelo tempo,
Espinhos e lágrimas
Misturadas às escritas.
Versos e poemas
Sem métrica, sem rima.
Letras sem melodias,
Sem horizontes,
Sem destino...
Em papeis sem margens,
Amareladas fotografias.
Acendeu a lareira
E o meu coração se aqueceu por um instante.
Pôs um disco a tocar,
Minha alma alçou vôo, em outras eras.
Canções inéditas,
Em acordes angelicais
Inspiradas, lições de amor.
Ecoando pelo vento,
Varrendo em mim lembranças,
Bailando a cortina,
Envolveu-me de repente,
Uma luz de esperança.
Aquietou o meu ser
E aqueceu toda a casa,
De novo me senti vivo
Neste palco, sem emoção.
Cenário da última dança:
Fadas, amor, sonhos, ilusão?
Enquanto lá fora,
Os trovões tocam canções de "Bach",
Nuvens lavam o telhado
E minha alma se liberta.
Relâmpagos iluminam a passagem
Da luz que deixaste.
Caminho da sua partida,
Marcas de nostalgia
Apagando seus rastros,
Eliminando o acaso
Sem nada dizer.
Ao sair, deixou a porta aberta.
Querendo voltar,
Querendo amar...
Mas recuou,
De modo que o vento,
Brando e traiçoeiro,
Viesse apagar as chamas.
Acordando a solidão
Esse manto oculto
Que no interior de nosso quarto
Abraça-nos todos as noites...
Sei que esteve aqui,
Senti teu cheiro...
No travesseiro,
No tapete,
E numa peça que você deixou cair;
Um lenço branco de cetim,
Autografado assim:
Não chores mais, essa noite eu passei por aqui !
Márcio De Oliveira - Sônia Sylva
10/06/2012 11/06/2012