Dueto de Personagem/ Canto I /
“O Virtuoso e o Lírio”

 

Dueto de Personagem/ Canto I/ “O virtuoso e o Lírio”
 
Este é o canto do virtuoso rememorando seus anseios.
Frente à natureza, que o guarda e embeleza a decadência de sua juventude, sonha mais uma vez com o amor voraz que anima a alma dos que se fartam de emoções na aurora dos dias. Sua barba e seus cabelos de prata se desfazem como brumas do amanhecer de outono, a amada ergue-se em beleza de seu tumulo como um lírio semeado pelas mãos inocentes da Virgem; novamente as pernas mostram agilidade para correr nos campos dourados onde se encontram os amantes e onde, saudosa, aguarda o Lírio que embelezou lhe os dias:

O virtuoso - Eis que escuto a melodia de tua voz

Ela se confunde com o cântico dos pássaros em revoada
instigando-me as lembranças de nossos amores...

Eu e minha amiga em uma eterna estação das flores!
Como leão era eu, encontraste-me e entre teus seios fui amansado
Onde estás amada de minh’ alma? Apressa-te em teus passos!


O Lírio – E meu amigo assemelha-se a virtude dos olhos de uma criança...
Seus amores são doces e fulgura meu espírito no prazer de ver nascer o sol; luz anunciando mais um dia vivido na brancura de seu lençol!
Chego (amor meu) e mais uma vez será a natureza, nascida do amago do Criador, a nossa alcova...
Amar-te-ei na luz reveladora do dia e não cessarei meu amar, seguirei amando-te até que reine sobre nossas cabeças o luminar da noite!

O Virtuoso – Rica em beleza és tu senhora, sonda-me com teus olhos meigos, e tua virtude abrasadora derrama-se sobre mim como as muitas águas que vertem dos vasos celestes; vasos estes, carregados por anjos que velam os amantes em sua lealdade.

Nos abraçamos, entre juras de amor, deixamos o baile dos céus
para como serpentes enamoradas comungar o amor, sendo eu e tu, uma só criatura...

Alimento-te com as uvas de meus beijos e com a maçã herdada de nossos antepassados... Sendo tudo o que sou, dou-te mais do que tenho... Bela entre as belas!

O Lírio – Rico em beleza és tu senhor, deitas sobre minh’ alma teus encantos e tua poesia toca meus sentidos assim como aroma dos vales onde vive o absinto...
És forte e garboso como o cervo em liberdade, reclinando a cabeça em busca de ouvir os ventos de outras terras...
Sendo o que sou, recebo, amor meu, o que me ofertas na cumplicidade de teu querer... Sendo o que sou entrego-te as joias de meu amar...
Por ti deixei todo ouro e toda riqueza que faz nascer no homem a ganância, desfaleci em amor que não se compara aos tesouros de um rei!



O Virtuoso – Tal como o lírio eleito pelo beija flor é minha amiga perante meu olhar... Dela são todos os meus beijos... Seus lábios são quentes como a uva que repousa ao sol, saborosos como um favo pingando mel...
Seu corpo, templo sagrado de sua alma, é belo em contornos, tal como os sete montes... Seus seios são colinas, neles encontro refugio e repouso minha cabeça...
Não queira eu deste sonho, tão cedo, acordar... Deixe-me dormi mais um pouco, que somente seja desperto pelos clarins que anunciam o Juízo final!


O Virtuoso pressente que despertará do seio se seu de”lírio”, onde, como em passado amigo, canta junto a voz de sua amada os bens do amor.
Velho homem cujo o tempo minguou a vida, cervo que não mais busca ouvir os ventos de outras terras, amigo que chorou debruçado sobre o sepulcro de sua amiga, aquela que lhe presenteou com amores que foram o esmeril que o fez passar de pedra bruta à valioso rubi... Tão cedo morreu sua flor mimosa, tão cedo partiu para a casa dos espíritos.
Oculta entre os véus do templo suspenso no ar, o Lírio apaixonado assiste, comovida, os últimos suspiros de seu amigo, chora por ver-se sendo o sonho que o recebe na vida eterna. Desce então o Lírio das alturas da casa do Senhor:




Dueto de personagem/Canto II-Final- / “Finalmente o encontro... Finalmente a eternidade”

O Lírio – Eis que tão cedo parti de tua presença, óh! adorado entre as gentes!
Eis que não pude evitar as lagrimas que derramastes, vir-te, sem nada poder fazer, tu molhar minha face rígida e congelada pelos lábios da morte que me beijaram...

Lamentei tua dor e passei a beijar-te a face sendo intermediada pelas flores que tu abraçavas em busca de meus aromas.
Tal como anjo de tua guarda... Passei a velar-te os passos, a fim de que tua vida fosse longa...

Também chorei de saudade, mas com a tua saudade, a minha foi se aquietando e tornando-se doce e suave como os violinos de uma orquestra.
Tão esperado dia chega hoje, pegue em minha mão, amado meu, deixe teu corpo castigado pelos anos e partas comigo para as terras que vertem leite e mel!

O Virtuoso – Vejo-te saindo das cortinas do além, estou suspenso no ar e reconheço tua face e o perfume do balsamos que é o teu amor...
Quão confuso estado, onde vejo-me jazido em chão áspero enquanto meu espirito flutua até teu encontro... Dor alguma sinto, pois do que me vale a vida eterna em carne se é espirito que vivi a outra parte de mim?
Cumpri o tempo de minha desdita e na hora certa dou adeus a nossa eterna despedida e te abraço em reencontro sublime.
Deito minh’ alma em teus braços, amada minha, leve-me contigo para a terra que verte leite e mel, sejamos hoje irmãos cultivando em cumplicidade o amor sublime que se desprende das pétalas sedosas e brancas da Rosa entre todas as rosas, aquela que nos guardou das armadilhas de nossa mocidade, que te levou de meu seio e hoje me leva até tu...

Dos altos, amor meu amor, Deus guarda os que amam em virtude do primeiro amor e concede em abundancia as alegrias da eternidade...
Eu e minha amiga, pombas enaltecidas ao amor sublime que faz florescer a vida na Terra, partimos para os céus que nos guardou!

 



 
Noah Aaron Thoreserc
Enviado por Noah Aaron Thoreserc em 07/05/2013
Reeditado em 08/05/2013
Código do texto: T4278832
Classificação de conteúdo: seguro