O Meu Diálogo

_ As palavras que foram ditas, não são jamais esquecidas, Bruna. As palavras são perpétuas, assim como a verdade.

_ "Que a verdade seja dita!"... Se a verdade deve ser dita, o que farei eu com a carga do "para todo o sempre"? Muitas vezes é insuportável.

_ Carregará a tua carga, querida.

_ Mas, é muito peso... Não sou forte o suficiente.

_ Se não fosse, não escolherias o amor como teu lema.

_ Não... Não fui eu quem o escolhi, foi ele quem me escolheu e não me larga.

_ Isso te faz mais forte ainda, amorzinho.

_ Hum... Não entendo.

_ Não precisa.

(pausa)

_ Mas, e a razão? A sociedade cobra tanto a razão...

_ Eles cobram a razão deles. A tua razão é o que vale para ti. Qual a tua razão?

_ A do coração. Acredito que por ele as coisas são mais saudáveis, puras e corretas- tirando os sentimentos ruins, porque não acredito que esses saiam do coração, deve haver algum órgão obscuro responsável por coisas obscuras... É ingênuo, eu sei. (risos). Mesmo que para eu, agir com o coração traga algumas consequências doloridas, eu me sinto mais segura ao usá-lo.

_ Bonitinha... Essa é tua razão. É o que importa. E você parece uma criança, por isso é um ser tão belo e diferente.

_ Isso não me faz muito bem. Não tenho idade para ser criança. O mundo cobra mais, as pessoas cobram mais e eu me cobro mais. Não gosto que me chamem de bonitinha. Pode me chamar de "minha pequena" ou algo assim, mas bonitinha, não. Please!

_ Bruna, para com isso. Você tem uma alma de criança, uma ingenuidade bonita. Quanto ao resto, você é bem adulta. Quero dizer, é bem madura... É mais bonito. Continue em tua caminhada, sua trajetória é bonita.

_ Assim como a de todos.

_ Sim, assim como a de todos. Anjo! Teimosa...

_ Nem sou. Eu só... Não sei. Devo mesmo ser teimosa.

_ Sabe, eu sei o que quero. E quero muito isso que sei. Mas a vida parece me levar para um caminho diferente.

_ Para que você aprenda, amor. Vá! Vá com ela e aprenda o que ela tem para te ensinar.

_ Aprender dói... Que seja, né. (pausa). Nossa, às vezes acho que me julgam maluca. Devo ser e não sei.

_ Te garanto que não é.

_ E quem é você?

_ Você. Sua essência. Sou aquela que te ama, que te acompanha e que te diz a verdade.

_ Nossa, devo mesmo ser maluca.

_ Te garanto que não.

_ Como pode? Se estou falando comigo mesma como se estivesse em diálogo com um alguém... Devo estar precisando de pessoas. Devo estar precisando de... Um Elo.

_ Querida, se você fosse louca e o resto das pessoas fossem sãs, o mundo não precisaria de tanto profissionais de psicologia. Você é uma sã que se refugia em si mesma para escapar dos loucos.

_ KKKK, isso vindo de mim mesma... Devo ser muito presunçosa e egocêntrica. Que feio, Bruna! Ou, isso tudo é um ato vão de escapar de minha própria loucura.

_ Pare de falar bobagem, menina. Você não é louca e muito menos presunçosa ou egocêntrica. E sabes disso.

_ Tá, tá. Eu sei... Sou o quê?

_ Você. E se contente com isso, pois se já reclama da carga de seus sentimentos, imagina se carregasse a carga da razão.

_ É... Melhor eu parar. Mas, me responda essa: Terei?

_ Sim, terás! O que tiver que ter. Eu sei o que diz e o que quer... Um Elo, talvez até consigo mesma.

_ Estás a falar de amor, criatura? Não posso, devo estudar, trabalhar. Não posso... Eu amo sem amar. Compreende?

_ Bruna, não brinque, você sabe muito bem do que estou falando.

_ Sei sim, amor. Tu falas do que falo, já que sou eu mesma.

_ Sim, é isso que queres agora, um Elo. Porque és o que sente no momento, é o que seu coração pede no momento e não importa o que diz a razão, você vive do amor, porque ele te escolheu. Não é isso? Você sabe.

_ É sim. Mas, porque “Elo”, com letra maiúscula ou Caps Lock?

_ Porque a palavra é pequena, mas tem um enorme significado. É apenas um signo, uma abreviação de algo bem maior... Vamos lá, não me faça falar o que eu sei que tu já sabes.

_ Tudo bem, eu sei.

_ Então, agora durma. Estou cansada, Bruna. Preciso dormir, pode?

_ Sim, posso.

_ Ou então se distraia com outra pessoa e me deixe descansar, querida. Se deixe descansar de si mesma.

_ Eu vou... Até mais.

_ Até, querida.

_ Mas eu queria brigadeiro... Você também quer?

_ Querida, vá dormir.

_ Tá bom... Tchau!

[FIM de um ato de muitos].