André Anlub e Rogério Camargo 36

As misérias da Miséria encostaram a testa no muro do desconsolo,

Assistiram com olhos úmidos o contemplar prepotente do mau agouro

Desenvolveram uma reza estranha, uma patranha com os céus, sem muito escopo

E nos copos erguidos, com sangue – com vinho –, brindaram e blindaram o que não tinha vindo.

Estava na imaginação, como num louco delírio, como num delírio louco, e não era pouco, era de tamanho brilho que iluminava o brio escondido no fundo do poço.

Fazia estremecer a esperança que um dia animou aquele destino roto

E, de um jeito torto, com muita ganancia e deselegância, algo despertou de morto...

As misérias da Miséria então reuniram num só todo aquele logro,

Levantaram um estandarte de que a felicidade estaria ao lado delas,

Para dar um tempo no sufoco, uma mão de tinta no reboco, pagando caro e ao menos ficando com o troco.

E veio a anistia, como “Anastácia” ganhando nova biografia; veio a nova chance de deixarem a sombra da Miséria

Parar com o jogo de joão-bobo, drenar o lodo, espanar o mofo, destronar o Rei Momo neste carnaval de falsa folia, de improdutiva regalia, fazendo terapia com um médico louco.

Rogério Camargo e André Anlub

(17/1/15)

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