André Anlub e Rogério Camargo 57
A rosa abriu-se em perfumes e cores que ninguém tinha visto ainda.
Patchouli com mais de mil odores – Arco-íris com mais de cem cores.
O encantamento dos que passavam era também o impulso de pegar dos que passavam,
Vai e vem de mãos sedentas movidas pelo egoísmo evidente e inerente dos sem amores.
Ânsia de ter para ser. Ânsia de não ser quem não tem. E a rosa apenas ali, sendo o que era.
Dentro dos homens, a fera; dentro das mentes, megera; dentro da rosa, modéstia.
Modéstia esplendorosa, capaz de virar cabeças e disparar incontinências nas mãos ávidas, atordoando os olhos e abrolhando imbróglios em quem não se contenta em apenas apreciar.
Quando essas mãos chegaram, com a pressa dos apressados, com a fúria dos furiosos, com a gana dos enganados, a rosa foi mártir.
Fez parte da paisagem, e agora parte – sem despedida, some num estalo – suas cores no vento, as fragrâncias ao faro.
Já não está mais o que estava, a beleza é apenas uma recordação na memória do vento, como uma oferenda sutil que a avidez também não reconhecerá.
Rogério Camargo e André Anlub
(8/2/15)
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