André Anlub e Rogério Camargo 59

O sol inclemente fazia a pele gritar por sombra e a boca exigir água.

Na areia cálida, ilusões: cálices de um Château gelado e banhos de chuvas de granizo.

Na calçada escaldante, os pés sonhando com lagoas e os olhos mirando miragens impossíveis.

O mundo gira com o sol acoplado; seu corpo balança e parece flutuar no ar quente, entrando quase em autocombustão.

Os pulmões querem o que os pulmões não podem ter. Mas os pulmões querem, os pulmões querem.

Mente e corpo definhando, grito seco na garganta, olhos vermelhos em braseiros e uma única probabilidade de sair ileso:

Não estar ali. Mas ele está ali. Ele e seu corpo gritando para não ficar. Ele e o desafio à lógica da sobrevivência.

Sim, ele está em evidência, pois talvez seja um insano andando perdido no destino; não, não está em um manicômio, mas nem ele sabe ao certo; só se sabe que de perto todos são loucos indefesos.

Não está num hospício mas é um sacrifício viver neste sol louco. Ergue a voz num canto esquisito, vendendo seus picolés, e dentro de um som sustenido o sol se torna amigo, sócio fiel.

Rogério Camargo e André Anlub

(10/2/15)

Site: poeteideser.blogspot.com