André Anlub e Rogério Camargo 76

Vem chegando o outono, com ares de galã, trazendo frutos, florindo caminhos e convidando à caminhada pela manhã.

Se eu precisasse ter uma estação preferida, seria o outono. Ele e sua cor de vida mais vida, mais colorida.

Voo alto e torno-me laranja, vermelho, amarelo e muito marrom. Torno-me bom em entornar-me no tom.

Se eu pudesse beber uma estação até encharcar-me dela bem mais do que o mais encachaçado bêbado, seria o outono.

Ele é meu dono, meu trono no bônus das estações. O que eu falar é pouco, é parco, é especulação.

Se eu pudesse comer uma estação até ficar com o estômago dilatado, seria o outono. Ele e o seu sabor de eternidade instantânea.

Agora voo baixo e torno-me eu mesmo em preto e branco - humano e sonhador. Torno-me na língua o sabor do que saboreio e às estações apenas os olhos no entremeio.

Se eu pudesse vestir uma estação até nunca mais sentir frio ou calor ou alergias ou asperezas ou qualquer coisa que não fosse a certeza de estar agasalhado em beleza pura, seria... Bem, seria. Ainda não é. O outono ainda não chegou.

Rogério Camargo e André Anlub

(27/2/15)

Site: poeteideser.blogspot.com