André Anlub e Rogério Camargo 118

O sol hoje acordou com algum complexo de lua.

Quis aos poetas inspirar, mexer com marés, espiar a donzela nua tomando banho de mar.

Quis trocar o ouro pela prata e andar muito devagar por entre a sombra das árvores.

O sol hoje tem o lado negro. Dizem que é suntuoso, quente, alegre e ouvem-se batuques no estilo AfroReggae.

Ninguém sabe o que a lua diria se ouvisse este sol. Nem o que o sol faria se fosse uma lua negra assim.

Há boatos de choramingo do sol na fase Minguante, cantares pop na fase Novo, garbosidade na fase Crescente e na fase Cheio dieta de peixe.

Quatro semanas bastam para o sol ser de todo tipo, quando lhe bate o complexo de lua.

Depois pode voltar ao seu eixo, iluminando tudo em volta, bronzeando corpos em praias e cachoeiras e fervendo a própria cabeça.

Mas hoje ele acordou com este complexo e exige um seresteiro em vez de bronzeadores.

Hoje tem temores de noites frias, de estrelas guias e desfeitos amores.

Hoje agasalha-se nas estrelas e segue a trilha dos sonhadores.

O sol não quer mais se pôr. Quer pôr os pés pelas mãos e se expor pelas noites de verão, sem claro e escuro – sem céu, órbita e chão.

Quer que a NASA envie uma Apolo e um astronauta crave a bandeirinha dos EUA na sua pele.

O sol realmente está louco e ainda faz drama, quer encabular a dama da noite. É um açoite querer ser pisado. O sol deveria ouvir: “Tendo a Lua” dos Paralamas.

Como a lua faria (ele sabe), para, olha, pensa, reconhece, agradece como um cantor ao fim de seu número, acha graça das palmas imerecidas e sai do palco levando o sonho da visita não de militares, mas de poetas meninos, bailarinos, de estrelas aos milhares e de “você e eu”.

Rogério Camargo e André Anlub

(10/4/15)

Site: poeteideser.blogspot.com