André Anlub e Rogério Camargo 121

As manhãs presas no bucólico doentio, arrepiador nublado infindável e sombrio. Há dias assim! O sol às vezes surge à tarde e não apraz para meu majestoso sorriso.

As manhãs ficam presas no que poderiam ser, lá longe, como a névoa que engoliu a caravela.

Dói à saudade dela – a poesia e ela –, a vida e ela. Dói a liberdade de estar sozinho, de fazer o que quiser, sem cárceres e ninhos.

Caminhos ébrios de vinhos ruins. Tonteira. E tropeços. Cair, chorar a queda – que arremeda a vida – e tentar de novo.

A cobra comendo o rabo não pode pôr o ovo; então solta-se o calor e salta-se o frio, absorve o pavor aquecendo o café frio.

Minha vida é um amanhã agora. Desencapo a harpa que não sei tocar, ponho os dedos na harpa que não sei tocar e toco.

Troco umas notas – ré por mi. Ando de ré, mas para a direção sensata para mim.

O som me embala e cala a voz atroz do “tudo por nós , nada por eles” – sendo que eles são os todos outros que também sou eu.

O bem me fala e me segreda que o bom é vê-la em sonho, vê-la em vida, vê-la em tudo em todos, sobretudo em mim.

Mas é manhã ainda, o sol continua não cumprindo o que prometeu (ou acho que prometeu) e por entre o cinza da neblina brilha apenas uma esperança de que se dilua.

Se nada acontecer ainda terei a lua, e com ela a visão sua, nua, como sempre há de ser.

Se tudo acontecer, terei a lua ainda, e com ela a revisão crua, nua como sempre há de ser.

Rogério Camargo e André Anlub

(14/4/15)

Site: poeteideser.blogspot.com