André Anlub e Rogério Camargo 127

A lâmina da espada reluziu ofuscando os olhos inimigos.

O mesmo brilho partiu do escudo e do peitoral, abrindo estradas na escuridão assassina.

Caiu à tarde escarlate com uma flecha atravessada no sol de um domingo.

A marcha do olhar determinado avançou sobre a covardia infame, fazendo da fama a foice e da fome a sina.

Batalhas não são fáceis e guerras são batalhas após batalhas. Quando desembainha sua espada o guerreiro sabe disso.

Os brilhos se apagam enquanto o sol dorme na colina. O sangue fica fosco, o rosto fica triste, o poço é fossa e cova para os guerreiros que perderam seu viço.

É dor, é grito de dor. Mas não é grito de socorro nem de piedade. É a guerra da vida, cotidiana e implacável. E é a vida da guerra.

Uma fera que nasce todos os dias – noites, se cria – cresce, se defende – ataca, se maltrata – achincalha, se descobre – se enterra.

Morre e renasce. Renasce e morre. Nem sempre pela espada do guerreiro. Mas ela está sempre ali, a espada do guerreiro.

A lâmina futuramente pode ficar sem fio, pois amolarão somente à paciência alheia; na lâmina poderá não haver mais luminescência e assim perder a ciência e ganhar certo mistério:

Como conseguiu vencer a guerra, se as batalhas continuam? Como vive em paz, se ainda é um guerreiro?

A fera ouve a pergunta e se resguarda na incoerência de uma possível resposta torta; em silêncio e apavorada ela ouve o som da paz e da inexistência de cobrança; ela se desfaz e se delicia.

Ele também se desfaz e se delicia. Ele é a fera. Ele é a luta e o campo de luta. Ele é a morte e o que resulta da morte, num brilho que é sol mais do que sol.

Agora vemos a lâmina ainda mais afiada, ainda mais frenética e sedenta – porque está em (merecido) repouso.

Rogério Camargo e André Anlub

(20/4/15)

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