André Anlub e Rogério Camargo 141

O tempo valioso perdido aos ventos – no ar –, perdido na chuva que cai e banha e refresca.

A valia do tempo encontra-se com a valia da eternidade, que já se esfumou em nuvens que não mais.

Foram os tempos de leva e trás – sabor de júbilo na veia. Nos tempos de hoje o tempo vale ouro, mas o que é jogado fora se torna areia.

Areia espera água, água espera cimento. Nada é para sempre, mas tenta. Isso atenta.

O tempo que não volta atrás – frase difícil –, mas o preocupante é o tempo que não segue em frente.

Pré-ocupação. Vem antes do que de fato existe. E o que de fato existe é tão passante como o que não se consegue prender com as mãos.

Como a água que passa entre os dedos – cai ao chão –, passa entre empecilhos e como um trem em tortos trilhos viaja e se mistura com a gravidade do tempo, terra do tempo, mar do tempo e areia.

No coração do coração há uma incerteza. E é exatamente o que dá certeza de viver. No coração do coração há uma insegurança. E é exatamente o que dá chão para viver.

Se o tempo for errado e absurdo, em breve passa num estampido mudo. Se há o tempo certo para tudo – ele fica e deixa fruto, aprendizado e acerto de quem um dia pode ter sido errado.

O que é “errado”, pergunta o tempo. E já passou. Se o errado não passa com ele, alguém está... errado.

O que é o “acerto”, pergunta o errado. E já acertou. Se há a curiosidade do esclarecimento.

Tudo isso o vento varre. Tudo isso é eterno já passando. O que fica é o que vai junto. O substancial é o que se desmancha e vai junto.

Os ponteiros não param e a bola não cansa de girar – são duas certezas menos precisas que o próprio tempo que as move. “O tempo é o senhor da razão” – agora sim, os ponteiros e o mundo apostam suas fichas.

Apostam e perdem. Porque a razão pretende ser senhora do tempo quando diz que o tempo é o senhor da razão...

Rogério Camargo e André Anlub

(4/5/15)