André Anlub e Rogério Camargo 172
Menina solitária olhando a solidão pela janela e vendo mais que a solidão.
Vê argumentos, versos sedentos; vê o instante sempre rompante e as roupas voando no varal.
Vê o que não vê mas está lá. Como a alma, como a sombra da alma.
A janela é sua caixa de Pandora, e pensa que está mais que na hora de fechar e jogar a chave fora.
Pensa. Mas só pensa: não afasta um milímetro que seja a sua solidão da “saída” que encontrou/desencontrou.
Sorri timidamente, mas quase chora. Quer passar uma imagem positiva, pois sabe que o sol a adora.
O sol é sempre o mesmo. Ela não é sempre a mesma: às vezes esquece que o sol é sempre o mesmo.
Os olhos brilham encharcados refletindo a solidão do céu. Pensa: os olhos do céu devem brilhar olhando a minha.
Pensa. E se compensa com os pés flutuando na terra, com os pés firmemente flutuando na terra.
Queria entrar na varanda do céu, abrir a porta do infinito, abraçar o sol e só.
Querer é poder... entender os limites do desejo. E da ânsia. E da sofreguidão. E da avidez.
Antes mesmo do fracasso dela, o sol tomou à frente: chegou à sua varanda, entrou por sua porta e lhe deu um abraço caloroso.
Menina solitária recebendo a companhia do sol, no abraço do sol, na música que o sol lhe traz à pele pela janela que ela não abandona.
Durante o abraço pensa: não jogarei as chaves fora! Farei cópias de todas e só irei fechar a janela no inverno, mas apenas a parte de vidro.
Sente que o sol sorri. Entende uma aprovação no sorriso do sol.
Menina solitária que só tem o sol, o céu e o mundo... E só. Só com sua solidão interna, debruçada, enjanelada pela vida ao seu redor.
Rogério Camargo e André Anlub
(9/6/15)