André Anlub e Rogério Camargo 176

Você sabia o tempo todo que o tempo todo você não sabia.

Era a certa incerteza de uma sincronicidade da mais pura idiossincrasia.

Insistia porque era isso, um modo pessoal de funcionar. Funcionava?

Você sabia de quase tudo e o quase tudo sabia de você... Mas não era o bastante.

Nunca é o bastante quando uma pessoa não sabe e sabe que não sabe.

Satisfatório a ela é ela pensar que sabe. Ou até mesmo saber; insatisfatório ao mundo é ela pensar que sabe.

O mundo não sabe o que ela sabe. Mas está sempre insatisfeito. Formam um par perfeito.

Na obscuridade ela sabe claramente onde fica o lume... Sai louca, obstinada e ágil floresta adentro trocando a pilha dos vagalumes.

O mundo gira porque os loucos são “giras”. O mundo vai adiante porque ninguém para. É o que ela sabe.

Por saber de tudo ela não lia mais seus livros, não conversava com amigos, não esperava o nascer do dia e com nada se entretinha.

Ela já se tinha. Ela/você. A pessoa/uma pessoa/você já se tinha. Com tudo isso que a sabedoria chama de saber.

A vida torna-se um círculo vicioso, pois já sabe a largada e onde irá chegar; o seu ser torna-se somente um ser rancoroso, pois ousar torna-se tão somente o verbo arriscar.

Ah, riscar! Riscar dos horizontes o sol do pode ser, o sol do também é e o sol do talvez. Não há talvez. Só há uma certeza: a de que você sabia o tempo todo que o tempo todo você não sabia.

Rogério Camargo e André Anlub

(15/6/15)