André Anlub e Rogério Camargo 180

Chego da rua sem trazer a rua para dentro de casa.

Chego na raça, mas como pluma; chego palhaço sem rumo e sem graça.

Quero minha casa quando chego da rua. A rua não é a minha casa.

Quer faça o que faço, falam à vontade; querem forca à força, que forcem essa farsa.

Lá é tudo lá. Essa coisa toda é toda lá. Quando vou lá, passo por essa coisa toda. Mas ela fica lá.

Aqui é guilhotina, é tônus muscular; é tato – faro – retina –, aqui é “here” e “voilà”.

Não volto para casa para ser feliz. Volto para casa para estar em casa. Há muito deixei o conceito de felicidade vendendo maças na feira.

Quer queira ou não queira estarei em casa se em casa me sentir; seja na minha confortável cama, ou chupando manga bem no alto da mangueira

Ou com a mangueira em riste molhando as plantas de meu jardim. Este é meu jardim: estar em casa. Estar na rua não é meu jardim.

Chego de casa sem trazer a casa para a boemia da rua.

Vou à rua porque preciso, não porque escolhi. Mas escolho não levar minha casa à rua.

Na rua gosto de lugares inóspitos, bares sujos e cabarés de “quinta”. Não vou levar minha casa, mas acabo levando... pois levo meu corpo e minha alma.

Levo minha casa comigo como levo comigo tudo que é meu e meu continua, no mais fundo profundo inatacável não-compartilhado. Dou aos amigos o que os amigos merecem. Mas a minha casa é minha.

Como um caramujo às avessas sigo às pressas sem mostrar as presas para ver em que mundo me aceitam, em que mundo caibo e me completo.

Rogério Camargo e André Anlub

(19/6/15)

Site: poeteideser.blogspot.com