André Anlub e Rogério Camargo 181

O cianureto percorre os versos no coreto, no correto de um soneto que envenena todo o mal.

Mal e mal envenenado, o mal-estar do mal versado invade o verso, perverso, e ri como um demente.

Vai verão – vem verão, vão-se os caroços de feijão e ficam os dentes; morre a intenção de jogar água fria ou colocar panos quentes.

Fantasias rasgadas e jogadas no fogo. Jogo com novas regras: se pregas o esquecimento, esqueça!

Vai inverno – vem inferno, vão-se os talentos que estavam lentos e ficam os talos azedos; morre o arremedo de um sonho bom.

Bom é sonhar que o sonho nunca acaba. O que acaba em travesseiro babado de lágrimas e de frustração.

Bom é saber que o sonhar e o voar dormem acordados, e são palpáveis e podem pousar suaves na realidade. Basta tirar o brevê de piloto.

Quer voar? Voa. Mas não vem aterrissar na minha fronha, diz o travesseiro babado de frustração.

Quer versar, verse; quer prosar, prose. Mas me empreste esse veneno para matar meus cupins, diz o coreto com “osteoporose”.

Quer misturar tu com você? Fica à vontade: é tudo nós mesmo. É tudo ir embora ficando e ficar indo embora.

O voo aterrissa em completo segredo, e arrisca sem medo acordar o sonho o tu e o você. Todos acordam indecisos, remelentos, e não dão corda para o que veem.

A corda acorda o enforcado. Pelo menos é o que ele pensa, antes do cianureto.

Rogério Camargo e André Anlub

(20/6/15)

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