Humano Desabafo do Artista

Desabafo

E quando viver se torna uma repetição de noites mal dormidas, palavras malditas, situações mal resolvidas e histórias mal vividas...
Como poderia ser esse que escreve, tão indigno, muitas vezes nem querido, se tornar poeta? Ter a audácia de se sentir poeta? E ousar se auto proclamar como tal...
Como poderia nascer arte de sua desgraça? E quando digo isso, me refiro na total falta de graça de sua vida mal vivida, muitas vezes não vivida que segue sendo mal resolvida enquanto por esse é assistida.
O ser poeta ou se sentir indigno seria um refúgio? Seu abrigo de palha?
Ou seria uma batalha de auto sabotagem armada?
Para então de sua doce libertação que ao mesmo tempo traz agonia, se livrar? E da responsabilidade que tem se tornado para esse expressar sua arte se libertar?!
Será que é querer voltar ao escuro ao que através das letras veio a luz? Seria isso possível? Seria isso preciso? E a sua arte não fazer jus?
Ou seria o querer se tornar poeta...Uma fuga de toda sua mediocridade que tão ansiosamente buscava.
Seria mais uma paixão? Como tantas outras que foram no meio da estrada largadas, esquecidas a primeira curva que fizesse a vida?
Que até então ainda seguia sendo mal resolvida... Sendo a repetição de situações que não faziam sentido e não traziam nenhuma libertação, nenhuma alegria ou real emoção.
Seria justo, certo, verdadeiro... Ousar pensar, achar ou dizer que encontrará isso na poesia?
Mas seria esse, digno? De uma arte sagrada, sendo ele tão desgraçado?!...
Ou apenas queria tanto um momento pleno, de real contentamento para sair da então mentira que vivia, que resolveu então criar uma outra? Será que tudo o que escrevia era mentira? Não, isso não poderia, pois ali naquelas letras ele derramava aquilo que nem ele sabia que possuía.
Não sei se nessas palavras que não tem obrigação de serem bonitas, ordenadas ou rimadas, ficam claros os dilemas, os questionamentos, o sofrimento e a batalha interna que vêm nesse que escreve sendo travada. Que no fundo espera e anseia ser poeta por total verdade... E não por mero querer ou vaidade.
Que seja algo real e não algo que por tanto admirar, em sua mente palavras bonitas resolveu criar e tentar fazer igual.
Mas esse então poeta (?) segue sendo questionado pela sua razão e por seu passado de fracassos...
Seria possível através das palavras isso mudar? Este que vos escreve em verdade ainda não sabe, mas sente que algo em seu íntimo de fato, genuinamente foi mudado, que depois das palavras não seguira sendo o mesmo, mesmo que assim o quisesse, e talvez por medo tem questionado e tanto racionalizado... Talvez pelo medo de outro fracasso?! Pois na verdade sabe que não suportaria ver a palavra quem a tanto em um curto espaço de tempo se apegou em sua então arte descoberta o deixar, partir o largar como tantos outros o fizeram em seu passado... E antes de a ver partir quer então primeiro se despedir.
Mas sente e sabe que isso não poderia ser mais possível, pois sua escrita traduz quem, esse que vos escreve é, ou quem vem se tornando. E mesmo ainda estando perdido, a letra a arte e a poesia finalmente e em definitivo mudou para sempre e definitivamente quem um dia pensei ser... E talvez ser poeta ser artista seja isso... Tomar a consciência que para se encontrar seja necessário primeiro antes se perder.
E se hoje uma escolha esse que vos escreve pode ter... Escolhe sofrer pela afasia do que pela apatia se outra opção for das letras e poesia ter que se despedir e assim dele mesmo novamente se perder.

Ana Beatriz



Fato “Mortis” Humanidade

Quantas vezes, e não foram poucas, iniciei meus cantos noturnos,tal como um corvo ferido e insone a procura de algo que de tão bem guardado foi esquecido?
E sempre iniciei com perguntas ao vazio: “E quando?”
E quando tudo faz tanto sentido que não faz sentido algum, e a busca por sentido passa a ser não fazer sentido, e eu, mortificado, mas sempre sorrindo, dei um sentido ao meu “não sentido” em cada letra que desenhei pelos papéis da vida; a maioria deles eram com a cútis de virgens iludidas, que eu rasgava com minhas unhas, pois quando o sentido do sentido de procurar sentido já não faz mais sentido, então nasce a crueldade, e por um bom tempo eu fui um poeta cantando amor em falácia, sonhado mecânico, mas ...Que Droga! Eu emocionava, e as pessoas me buscavam como mariposas enfeitiçadas pela luz opaca de uma lanterna sem valor.
Quantas vezes a indignidade me cobriu como o manto negro de uma noite perene, e eu me misturava a essa negritude, engolia minha alma e impotente a via verter contra minha vontade na ires de meu olhar, ao me sentir indigno da arte eu criei a minha arte de me esconder em letras.
Sim, assim o fiz, pois era somente escrevendo que eu conseguia existir; podia ser forte ao ponto de ser fraco e cair; podia ser frio ao ponto de me ferir até que todas as lagrimas que engoli viesse de meus olhos como tempestade, e escrevendo eu fazia chover, fazia ventar, destelhava casas... me tornava calamidade, mas por fim percebia que depois da chuva a poluição diminuía, e em meio a desordem que os ventos traziam as pessoas encontravam coisas que haviam perdido e se livravam de lixo que pensavam ter valor; assustado poeta das noites insones, que não queria ser visto, que não queria ser amado e muito menos lido; eu me vi sendo o caos para a ordem... Encontrei um sentido e então senti arder em meu peito a minha parcela tão vulnerável de humanidade... Aquela que renego todos os dias por costume, já nem por força da vontade.
Não gosto de delegar minha arte ao sagrado, mas é meu Deus, é santo e profano... É tão parecido com Jeová, ciumento e tantas vezes arrogante.
Há quem diga que me dedico em esconder o que tenho de melhor, mas se podem ver tal empreendimento de minha parte, então talvez eu não esteja escondendo de verdade, apenas camufle, pois não quero procurar, talvez assim o faça porque goste de ser encontrado, entendido e esmiuçado...

- Agora você; Ana, mesmo que te escreva ao contrário, ainda será Ana... Como ousas apunhalar meu coração?
Cada palavra de sua batalha doeu como se milhares de agulhas tivessem sido espetadas em meu corpo
Por mais que eu tentasse não pude reter o choro, e cada lagrima saia de mim como pedra de sal desidratada, meus olhos rasgavam, e eu em minha humanidade, tão escondida, sangrava... Pois cada palavra remontou em perfeição as questões mais profundas de minha alma.
Como ousas me invadir sem nada de mim dizer?
como ousas falar de mim quando na verdade fala de você?
Amiga, sua batalha não se difere da minha; talvez eu seja um tanto mais suicida... Quem sabe sofrer e sentir-se indigno seja a lei do artista.
Acredito que a tristeza no coração do palhaço é sua motivação...
Que o silêncio dos gritos de dor no mundo, do musico, é inspiração...
E sem dor, sem solidão e sem tristeza não seriamos poetas!
Ouso acrescentar um parágrafo em sua prosa e deixar uma pergunta: Somos caçadores de tristeza para ter inspiração para falar de felicidade e assim aprender a ver muito além que somente dores?

Eu, sou sempre triste, e me proclamar artista pode ser uma forma de tornar esse fator de minha humanidade mais rico em beleza, o lirismo do poeta trágico como um idílio escrito por Homero.
Há quem me diga que meu vazio é auto infligido para que eu o preencha de poesia... Mas e se for?
Qual o pecado nisso, não seria eu exercendo o fator vida?

Thoreserc
Noah Aaron Thoreserc e Ana Beatriz
Enviado por Noah Aaron Thoreserc em 31/03/2016
Reeditado em 31/03/2016
Código do texto: T5591178
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