Voadera.
Quando olhais para a janela fechada
Percebe o tracejar da abelha
A voar no bocejar da madrugada
A indecisão de cada centelha
(Kenner)
A cada vez que bate a asa
Na sua demora defasa
Em um quase descaso
De seu grande extravaso
(Marcela)
E nem a simétrica de minhas palavras
Veementemente perturbando a alvorada
Percebe a brasa que consome
O ar carregado das nascentes
(Kenner)
Mas não só com palavras
Cutucada a alvorada
O poente se sente alvoroçado
Em ver grande chuvarada
(Marcela)
Dos antigos campos verdejantes
De antigas batalhas consumadas
O antigo chorar dos viajantes
Que no mercantil porto comandava
(Kenner)
No posto brilhante de chefe
E dos mais tristes viajantes
Enquanto voltavam das guerras
Traziam consigo não só vitórias...
(Marcela)
E nas antigas praças cantava
O alongar longínquo do crepúsculo
A ser queimado pelo ar do aluno
Que aprende a vender seus sapatos
(Kenner)
E vende também seus valores,
seus sonhos
Suas conquistas.
E tudo perde para o mundo crue e violento.
(Marcela)
E nesse misterioso ar de calamidade
Se estende a esteira de esmeralda
Em seu lindo vestido de calda
Procurando evitar a verdade
(Kenner)
E nada mais espera,
A não ser a mentira de quem a rodeia
E quer o mundo e suas mãos
Mais o mundo a cria assim
(Marcela)
Que corre em sua epopéia
A veia de sua criação
A teia de sua canção
Que todos os corações incendeia
(Kenner)
Obrigada Kenner,
agora, nossa obra está ai!