Você e Eu - II

Você me pune

Eu te faço imune

Cada vez mais te desejo

E careço do teu beijo

Você me maltrata

Não me tenhas por ingrata

Eu me retrato

O amor é abstrato

Você me apunhala

Nada ao meu amor se iguala

Eu te perdôo

Eu só finjo que magôo

Você me despreza

O sentimento é que pesa

Cada vez mais te amo

Acredite, eu não engano

Você se afasta

Você me arrasta

Eu me arrasto

E te afasto

Você diz não

E penso sim

Meus olhos imploram um sim

Meus lábios mentem o não

Você corre

Quem socorre?

Eu não consigo sair do lugar

Jamais deixarei de te amar

Você vive

Estou no declive

Eu morro

Eu corro

Você se protege

Temo tanto, quanto o herege

Eu me exponho

Quero um sonho

Você escuta os outros

Prefiro te ouvir aos poucos

Eu sou surdo

Eu me urdo

Você vê com clareza

Desejo a tua leveza

Eu fiquei cego

Se mentir, eu nego

Você fala coisas sábias

Pouco assunto e muita lábia

Eu permaneço mudo

Você reside em tudo

Você afasta o amor

Eu te quero um ganhador

Eu sofro intensamente a dor

Me fascina o teu humor

Você tem sua vida

Vou invadir tua lida

A minha, sinto, está perdida

Quero ser tua guarida.

Você dorme

Em sonho disforme

Eu vivo esse eterno pesadelo

Eu morro nesse constante desvelo

Você já se levanta

Qual pesadelo adianta?

Enquanto ainda estou acordado

Eu levo o ventre bordado

Você se veste

De carinho teu, não viste?

Eu me dispo

No meu olho um cisco

Você come

Aquela canção sem nome

Eu bebo

Num dia de enlevo

Você respira

A gente cantava e ria

Estou sufocado

Desejo estar ao teu lado

Você é luz

A dor pesa como a cruz

Eu a sombra

Você não sabe e 'inda zomba

Você nem vê

A vida nos lê

Você é racional

Somos a ordem vital

Eu um animal

Você é o espiral

Você tem certezas

Das minhas correntezas

Eu, os enganos

E, lamentando os danos,

Você a clareza

Ainda é dono da beleza

Eu a confusão

Deste frágil coração

Você me tem

Que hoje vem

Eu não.

Pra segurar tua mão.

Dario Castellões
Enviado por Dario Castellões em 02/05/2006
Código do texto: T149039