Sedução astrológica

Questiono a postura diante deste tremendo mistério e astro-beleza abismal. Pergunto onde a delicadeza de perceber que o momento de travar conhecimento com alguém é o momento de estar diante de todo o Universo: instante de reverência, de atenção, de saudar no outro - "Namastê" - o Deus que está dentro dele por meio do Deus que está em mim. É para o deleite, a escuta, a recepção do Mistério. E será que por meio de um mapa astral este momento pode, segundo a gente espera na nossa pragmática desatenção, se tornar mais breve, mais sobrenaturalmente iluminado, etc, etc?

Eu creio que pode até, pelo contrário, ser empobrecido o momento de prece diante das possibilidades afetivas e de crescimento que o Outro nos proporciona. E fico a matutar quais as possíveis motivações para cenários do tipo: o cara conhece uma mulher interessante, atraente. Então ele logo se informa dos dados dela e se debruça sobre seu mapa - prá que? Prá entender o que ela gosta, prá potencializar seu poder de sedução? E como? Através de uma tremenda insegurança da qual o cara padece e nem todas as leituras de seu próprio mapa astral teriam sido capazes de amenizar e muito menos resolver? Ou por conta de um desejo de controlar aquele perigo com que a mulher lhe acena, o perigo de cair nos abismos da paixão, da perda de si mesmo, de atravessar a garganta de águas agitadas rumo à "petite mort"? Ou ainda o desconforto de uma velha conhecida sensação de vertigem diante da caverna genital feminina e seus montes gêmeos, onde a brisa sopra o perfume da embriaguez? Bem, sendo estas as motivações ou outras para além de qualquer previsão, o risco de construir uma caricatura daquela mulher a ser ainda descoberta e conhecida, antes de ser conquistada, soa como um alarme de que o tesão vai sair chamuscado e no final frustrações podem estar se avolumando para cair como um raio nas cabeças envolvidas. E o mais lamentável: caricaturar não apenas um ser, mas uma relação de afeto que poderia, respeitosamente, ser construída ao enlaçar mais de um - aqueles dois diretamente envolvidos e outros mais, a eles relacionados. Sem mencionar o patético das pretensões de compartimentalizar os amores, de prever como reage uma fêmea (e já aí a mulher é reduzida a fêmea e desprovida de sua inteira humanidade) de câncer ou aquário, com lua em sagitário que se pode comparar àquela que tem vênus em escorpião, mensurar graus de promessas de devassidão ou intensidade erótica...

Exatamente porque inexiste "meia gravidez ou meio amor", assim também inexiste meia pessoa, seccionada por alguma virtual impossibilidade de se reduzir alguém a uma tela de projeções de desejos, mesmo devido a que o mapa astral do outro, onde se projeta os próprios desejos, não corresponde nem mesmo à imensidão do ser daquele que os projeta.