O Anticristo e o capital

Há muito medito sobre o que leio e escuto a respeito do Anticristo.

Há uma tendência a visualizá-lo como um líder mundial, pessoal, que pregará a paz (aparente) em todo o mundo. Numa civilização de guerras, isso levaria as pessoas, inclusive muitos que se dizem cristãos, a se iludirem com o assolador.

Fico pensando o que aconteceu nas civilizações que antecederam a Cristo. Também esperavam que o Messias fosse um grande rei, um líder que devolveria o poder e a paz de imediato a Israel. Nada disso se concretizou e é com este raciocínio que quero desenvolver o tema.

Desde que comecei a refletir sobre o que seria o Anticristo, exercitei várias possibilidades, da teoria do líder mundial à tecnologia da informação, passando pela Igreja Romana. Nenhuma delas me satisfazia inteiramente, não tinham força interior de sustentação e não atendiam a todas as conseqüências descritas na Bíblia.

A questão do líder mundial, pelo fato de que, no desenrolar da história do relacionamento do homem com Deus, nada aconteceu tão obviamente assim. É através da fé, e só através dela, que podemos ver o invisível, ou seja, os fenômenos bíblicos. Temos o exemplo do Messias que até hoje não consegue convencer a grande maioria do seu próprio povo, que tem arraigado o modelo mental de Salvador, cristalizado em sua forma, como um rei poderoso aos olhos do mundo.

A igreja romana, por sua própria deterioração em vez de crescimento, também não se sustenta na questão.

Hoje se fala muito na tecnologia da informação (TI) como sendo o Anticristo porque ela separa os homens levando-os ao isolamento e possibilitando a prática de atrocidades emocionais e reais as mais variadas possíveis, além do domínio que vem exercendo sobre a população. Essa teoria tem se fortalecido com o advento do chip que registrará no homem a sua existência e o seu valor de acordo com seu saldo bancário ou coisa que o valha. A TI em si, apesar das contra-indicações, tem trazido benefícios inúmeros para muitos, quando utilizada corretamente. A questão do chip será vista em outro contexto.

Agora, uma nova possibilidade brilha em minhas reflexões e parece vir com força total, deixando em seus rastros os efeitos da passagem do assolador. Ele, o Anticristo, está presente desde o Paraíso (a serpente) que se transmutou no desejo humano de dominar o mundo, ser Deus, a partir do momento que Adão e Eva aceitaram provar do fruto proibido. Sendo expulsos do Éden e obrigados a sobreviverem do suor de seu próprio rosto, tal desejo passa a ser representado pela necessidade do homem de acumular bens e riquezas (avareza/cobiça), o grande Outro que se opõe a Deus e promete o retorno imediato ao Paraíso, simbolizado em nosso tempo pelo Capital.

O Capital tem crescido e dominado o mundo silenciosamente, prometendo paz, seguridade e poder, sendo o objeto de desejo da quase totalidade das pessoas. Está presente em todas as organizações humanas, inclusive nas igrejas de Cristo, e já aponta para se tornar sinônimo das bênçãos do Senhor.

Assim, as instituições, inclusive as igrejas, são transformadas pelo homem em organismos vivos que crescem e submetem o próprio homem ao seu poder, enfraquecendo-o na medida que substitui a noção da unidade individual/pessoal pela de grupo. Nesse momento, o homem, objetalizado, passa a ser um mero componente de uma ordem maior, que é o novo ser – a instituição. Sua sobrevivência passa a exigir capital e este se torna o ponto nuclear desta nova relação, o indicador do seu desenvolvimento/crescimento, voltando a armadilhar o homem em seus próprios laços.

Hoje, você é obrigado a pagar tudo. Paga para nascer, paga para se alimentar, paga para se curar de uma doença, paga para exercer uma profissão, paga para especializar-se e paga também para exercer sua especialização. Paga para freqüentar a igreja, dízimos, eventos e promoções para sustentá-la, paga para organizar-se em grupos em quaisquer das áreas, paga impostos e por aí vai, a lista é grande.

Resultado, sem o Capital, o indivíduo está condenado à marginalização, não havendo possibilidade de congregar-se a quase nenhuma associação humana institucionalizada. Todas as pessoas estão sendo estimuladas a fazerem parte das novas associações e surge um grupo de “malsucedidos e infelizes homens desejosos” capazes de tudo no sentido de usufruir das promessas do Capital. Assim o inferno começa a se delinear, em sua forma mais concreta.

Então aqui, a questão do chip parece ter sentido. Esta será a marca da besta (o Capital), que é a ação final do destruidor, quando ele, definitivamente, escravizará os seus ludibriados e tentará aniquilar os que, pela fé, não se submeterão as suas enganações.

Karl Marx denunciou-o e visualizou um modo de enfrentá-lo, mas cometeu o pior dos erros, deixou Cristo de fora.

Não há possibilidade de enfrentar esse inimigo por nós mesmos. A batalha é espiritual, árdua e inumana, só o poder de Deus sustentará os que não se permitirem ser enganados cumulando-os de força para não desistirem. Uma vez que nos insurgimos e denunciarmos a estratégia que está sendo implementada pelo Anticristo, ele nos condenará a marginalidade através do descrédito das pessoas, impedindo o convívio social, rotulando-nos de revoltosos, desobedientes, ignorantes, insociáveis e inibindo qualquer ação contrária a sua, nos colocando nas geleiras da existência. Uma perseguição sutil e subliminar nos alija e nos derruba.

Mas Cristo, pedra fundamental de nossa criação, está conosco e não devemos desistir. É preciso crer que só Ele nos sustentará no alvo que é a vida eterna, na presença do Pai.

Nele já somos mais que vencedores!

E eis que, aproximando-se dele um jovem, disse-lhe: Bom Mestre, que bem farei para conseguir a vida eterna? E ele disse-lhe: Por que me chamas bom? Não há bom senão um só, que é Deus. Se queres, porém, entrar na vida, guarda os mandamentos. Disse-lhe ele: Quais? E Jesus disse: Não matarás, não cometerás adultério, não furtarás, não dirás falso testemunho; Honra teu pai e tua mãe, e amarás o teu próximo como a ti mesmo. Disse-lhe o jovem: Tudo isso tenho guardado desde a minha mocidade; que me falta ainda? Disse-lhe Jesus: Se queres ser perfeito, vai, vende tudo o que tens e dá-o aos pobres, e terás um tesouro no céu; e vem, e segue-me. E o jovem, ouvindo esta palavra, retirou-se triste, porque possuía muitas propriedades. (Mt.19. 16-22)