VIVÊNCIAS

Nesta manhã, quando o sol insiste em atravessar as janelas de meu quarto, e um novo dia se inicia é que me dou conta da vida que pulsa em meu corpo. Começa assim: os olhos entreabertos, um misto de preguiça com despertar, o pensamento ressurgindo aos poucos, seguido das lembranças do dia anterior. O ritual segue impecavelmente, até então.

Pela janela o que vejo é diferente hoje, algo mudou.

Será hoje um dia especial?

Sem saber exatamente como e porque, avisto, como que pela primeira vez, aquela majestosa árvore. Não estava ali ontem. Ou estava? Completamente vestida de cor-de-rosa, dando morada aos pássaros que entoam músicas para meus ouvidos e sombra fresca às crianças que brincam ao redor dela.Então me vêm à cabeça: o quanto a infância se distanciou de mim.Entretanto, descobri que a aproveitei ao máximo, e me conforta saber que posso olhar todos os dias as mesmas coisas com olhares diferentes.

Basta querer e abrir-se pra tal.

Meu coração se enternece ao vê-las, correndo, sonhando, brincando de ser crianças, de ser feliz, num faz de conta sem fim.Seus movimentos rítmicos ensaiam cantigas de roda, de mãos dadas giram em torno daquela que lhes dá a sombra.E, perfumada, ela exala o aroma que faltava aos meus sentidos.

Esses novos pensamentos e olhares me invadem e me permito olhar mais distante ainda. Uma praça se desenha à minha frente, como aquela em que brincava quando menina. Ela esteve ali todo tempo sem que eu me desse conta disso.Contudo, não a percebi.

Porém, hoje é um dia especial, o dia em que abri os olhos para a realidade a minha volta.E nesse despertar percebo que perdi algum tempo com coisas supérfluas, tive pressa de viver, sem me dar conta de que viver é isso, um dia de cada vez, sem pressa e sem atropelos, saboreando cada momento com prazer e cautela.

Nesses momentos únicos de lucidez, percebo que “dar um tempo” é, olhar com olhos do coração, como diz Exupéry, em "O pequeno Príncipe".

No entanto as minhas vivências foram, e serão, certamente intensas porque aprendi nesta manhã ensolarada, o quanto a vida pode ser bonita!

E o presente que ganhei, a vida, desembrulhá-lo.