A ESCOLA E A SOCIEDADE DE CLASSES.

Tendo por pressuposto que o trabalho docente adquire significado a partir da sua relação com os alunos na escola e que esta não se explica por si mesma, ou seja, sua compreensão passa pelo entendimento das suas múltiplas relações com a sociedade e da própria sociedade. Neste entendimento, buscamos a seguir demonstrar o contexto histórico sob o qual a escola foi instituida. Esta tarefa é realizada com base nas idéias de Aníbal Ponce, que em seu livro sobre “Educação e Luta de Classes”, apresenta a instituição escolar inserida dentro dos interesses da burguesia triunfante. Segundo Ponce, a burguesia substituiu o regime feudal e com isso a situação das massas piorou, indivíduos aptos para a competição foi o ideal desta burguesia triunfadora. O autor, menciona vários educadores renomados e apresenta a postura de cada um deles. Critica Rousseau (1712 – 1778), por exemplo, pois este “não se incomodou com a educação das massas e sim, apenas, com a educação de um indivíduo suficientemente abastado para permitir o luxo de contratar um preceptor” (PONCE). Questiona Basedow (1723 – 1790) por não ver inconveniente nenhum em separar as escolas grandes (populares) das pequenas (para os ricos e também para a classe média). Basedow afirmava que os filhos das classes superiores devem começar cedo a se instruirem pois estão obrigados a estudar mais porque devem ir mais longe... Os filhos dos trabalhadores, por outro lado, devem estudar e trabalhar, pois estarão a serviço dos filhos das classes superiores. Outro pedagogo citado por Ponce é Filangieri (1752 – 1788), para quem “o agricultor, o ferreiro etc, não necessitam mais do que uma instrução fácil e breve para adquirir as noções necessárias para sua conduta civil e para os progressos da sua arte” (PONCE).

A partir da leitura de Ponce não resta dúvida da ligação entre a escola e a sociedade e, por conseqüência, do mundo do trabalho. A educação escolarizada não pode ser compreendida descolada das lutas de classe. Ao citar Pestalozzi (1746 – 1827), Ponce esclarece isto ainda mais, pois, para Pestalozzi á ordem social havia sido dada por Deus e o filho do aldeão deve ser aldeão, e o filho do comerciante, comerciante. Logo, em resumo, este grande “educador da humanidade”, segundo Ponce, “nunca pretendeu outra coisa a não ser educar os pobres para que estes aceitassem de bom grado a sua pobreza”.

Diante desta realidade histórica é muito difícil aceitar discursos que visam defender a neutralidade da escola. Segundo Saviani, a escola ou o professor que se apresentam como neutros explicam e legitimam a exploração do homem pelo homem. Esta reflexão Saviani apresenta ao escrever sobre “Os Desafios da Educação Pública na Sociedade de Classes”, onde faz um retrospecto desde as comunidades primitivas, onde a apropriação dos bens era coletiva e somente se produzia o necessário para sobreviver. Nestas comunidades, “a educação coincidia com o próprio processo de existência. Era a própria vida” (SAVIANI). Na seqüência afirma o autor que foi com a instituição da propriedade privada que surgiram as classes e é neste momento que surge a escola. Subentende-se assim que a escola assinala também a cisão entre o pensar e o fazer, o ter e o não ter. Portanto, com a instituição da propriedade privada passarão a existir os proprietários e os não-proprietários, onde estes últimos para sobreviver terão que trabalhar e os primeiros passarão a “gozar” do privilégio do viver no ócio. No entender de Saviani “surge assim, uma classe ociosa, que vive do ócio, já que não precisa trabalhar, pois vive do trabalho alheio”. Deste modo, podemos afirmar que os alicerces da educação estão situados neste contexto de luta de classe que levam a divisão para o interior da educação.

Tendo presente que a escola representa a reprodução dos interesses da classe dominante (SAVIANI). Corrobora com esta reflexão Orso ao afirmar que: “a educação tende a “refletir” a sociedade que a produz, pois, expressa o nível de compreensão dos que a fazem, permitida pela sociedade de cada época, de acordo com a etapa de desenvolvimento e das relações sociais”. Mais adiante, acrescenta que para a sociedade capitalista não há problema na universalização da escola, desde que esta não coloque em risco a propriedade privada, e quanto a universalização de uma educação de qualidade a todos conclui que isto depende da pressão popular. Segundo Orso, “a extensão da educação a mais ou menos pessoas, dependerá da pressão da sociedade, da exigência social e das necessidades do capital em cada época”.

Se o trabalho no contexto do capitalismo globalizado sofre constantes derrotas frente o imperialismo do capital. Se a escola esta inserida num contexto de luta de classes. Se o professor faz parte da sociedade que por meio da educação busca preparar seus membros para viverem nela mesma (ORSO). Se para o sistema de produção capitalista vigente, uma escola pública que funciona, de qualidade universalizada á todos cidadãos entra em contradição com sua lógica intrínseca, então como entender as conquistas que os trabalhadores em educação estão a receber nos últimos anos? Dito de outro modo, um professor - bem remunerado, vivendo bem, bem alimentado, bem vestido, com saúde, sem preocupações com as contas que vencem no fim do mês, feliz, realizado profissionalmente, com tempo para preparar bem suas aulas etc - com todas condições para conduzir seus educandos, filhos de trabalhadores, ao saber científico historicamente produzido, não entraria em contradição com o modo de produção capitalista? A saber, a lógica do capital é a concentração de riquezas e pouco se importa com a saúde e com a vida do trabalhador.

SolguaraSol
Enviado por SolguaraSol em 20/09/2008
Reeditado em 22/09/2008
Código do texto: T1187809