A FILOSOFIA DA PRÁXIS E A PRÁXIS DOCENTE

A FILOSOFIA DA PRÁXIS E A PRAXÍS DOCENTE

Resumo: Este estudo busca discutir a práxis docente numa articulação com a filosofia da práxis uma vez que, nem de longe interessa para a “elite dominante” a emancipação do ser humano via rompimento com o capital e suas manifestações. A preferência da utilização do termo “práxis” se deve ao termo utilitarista no qual está envolto o termo prática. Assim, evita-se cair na ambigüidade proporcionada por expressões do tipo: “homem prático”, “resultados práticos” etc. A práxis deve ser entendida enquanto “ação de levar algo a cabo, mas uma ação que tem o seu fim em si mesma e, que não cria ou produz um objeto alheio ao agente ou a sua atividade” (Vasquez). A filosofia da práxis é revolucionária uma vez que não se trata só de interpretar, mas também de transformar o mundo. Sem este entendimento o próprio marxismo pode ser reduzido a uma simples metafísica materialista.

A problematização acontece na medida em que as condições históricas sob as quais o trabalhador docente se encontra inserido ser baseada no trabalho alienado. Um trabalho nestas condições se liga a uma sociedade também alienada. Nesta linha de reflexão compreendemos que para a lógica do capital interessa que todos sejam reduzidos ao nível do “senso comum”. Deste modo, uma escola “pública”, “gratuita” e de “qualidade”, destinada á classe trabalhadora é extremamente contraditória numa sociedade baseada na alienação do trabalho, pois, esta exige instituições alienantes. Nas instituições educacionais, o professor é um dos principais responsáveis para que o processo ensino-aprendizagem ocorra. O professor lida com a transmissão do saber historicamente e socialmente produzido. Sendo assim, ele se encontra no “olho do furacão” e é convidado a diuturnamente fazer uma opção pela manutenção ou pela emancipação. Sua neutralidade legitima e justifica a exploração do homem pelo homem. Esta funesta realidade, de per si, já justifica o debate sobre a análise dos limites e possibilidades para a aplicabilidade da filosofia da práxis no trabalho docente.

O homem é um ser integrado ao mundo. Não obstante, imerso no “senso comum”, “utilitarista”, o homem deixa de compreender as coisas e a realidade. Não se escandaliza com a inversão do racional e o irracional. Uma práxis baseada na fragmentação e unilateralidade que hierarquiza e justifica as posições sociais. Envolto na cotidianidade tudo passa a ser naturalizado. A educação, por exemplo, passa a ser vista como uma mercadoria. Temos assim, a “pseudoconcreticidade”. Sendo assim, devemos estar atentos ao fato de que as formas fenomênicas ao mesmo tempo em que desvelam a essência também a escondem (Kosik). Por outro lado, se houvessem conexões imediatas entre forma fenomênica e essência, então, não haveria a necessidade do filosofar, do raciocinar, dado a tamanha obvicidade. Se a essência e sua forma fenomênica coincidissem tudo seria supérfluo (Marx). Portanto, o particular só adquiri significado no universal/contexto. Este fato justifica o trabalho do pesquisador que deve ter uma postura. Ele deve ter consciência do fato que existe uma verdade oculta para além dos fenômenos imediatos. Se tivesse equivalência natural entre fenômeno e essência, então não precisaríamos da filosofia da ciência. Logo, a tarefa da filosofia é “descobrir a estrutura da coisa e a coisa em si” (Kosik).

Espontaneamente os fenômenos se reproduzem no “pensamento comum”. A práxis utilitária cria o “senso comum”, forma ideológica do agir humano de todos os dias. A dialética do concreto nega a pretensa independência dos fenômenos para com a essência (coisa). Os fenômenos são apresentados como derivados e mediados da práxis social da humanidade. A escola passa a ser vista enquanto um “construto social” resultado da correlação de força entre classes antagônicas: burgueses e proletários. Destruir as mais variadas formas de alienação se transformou numa das questões essenciais: em que medida a partir da escola (inserida na sociedade) é possível construirmos valores que possam superar as contradições do mundo capitalista?

Para satisfazer as suas necessidades de existência/sobrevivência o homem comum imediatista não sente a necessidade de rasgar a cortina de preconceitos que mascaram o real. Socialmente condicionado encontra-se em certa situação histórica e social que engendra essa perspectiva. A superação da consciência comum, da consciência filosófica idealista se dá pela consciência da práxis. Contudo, a teoria da práxis revolucionária – que supera o ponto de vista limitado e mistificado da consciência idealista sem voltar a um estado pré-filosófico – só é possível com a superação do “senso comum” adotado pela consciência comum do proletariado. O homem comum deve percorrer a distância entre a consciência comum até a consciência reflexiva, com a finalidade de nutrir uma verdadeira práxis revolucionária. A consciência comum reduz o prático ao prático-utilitário. Esta postura coincide com o ponto de vista da produção capitalista: prático enquanto aquilo que produz mais-valia. Logo, o homem comum para ter uma idéia correta da práxis precisa sair da cotidianidade e se elevar ao plano reflexivo (atitude filosófica).

É útil para a classe dominante o desprezo pelas atividades artísticas, políticas e revolucionárias, na sua luta para manterem a ordem social vigente. Para os detentores de poder, o mundo deve ser regido pelo prático-utilitário. Imerso no mundo de interesses e necessidades da cotidianidade, o homem comum não se eleva a uma verdadeira, consciência da práxis, na sua compreensão, antropológica, gnoseológica e social. A “práxis” do homem comum não deve ir além da práxis em um sentido utilitário, individual e auto-suficiente (a-teórico). Para os “poderosos de plantão” é necessário que os indivíduos não saiam do “senso comum”. O resgate da filosofia da práxis preocupa os “donos do poder”, principais beneficiários com o falseamento da verdade. Caso contrário, se a verdade se desse a conhecer facilmente, então, não haveriam ideologias suficientemente capazes de manter o trabalhador alienado, explorado e excluído de tudo aquilo que produziu. Interessa, assim, para a classe dominante a circunscrição dos trabalhadores, aqui de modo particular os professores, na esfera do “senso comum”.

SolguaraSol
Enviado por SolguaraSol em 21/09/2008
Código do texto: T1190156