Pensamentos avulsos

Quase não tenho mais escrito neste espaço, e em nenhum outro. Me chateia isso, pois percebo que não sou mais o mesmo que se emocionava ao escrever, que tinha alguma esperança de ser o Shakespeare pós-moderno, ou algo que o valha. Mas o mundo também não se apresente diante de meus olhos como o mesmo. Não vou falar sobre originalidade porque acredito que, a partir do momento que saímos da barriga de nossas boas mães, deixamos de ser originais, assim como afirmava Jung. E essa é uma eterna discussão no meio literário. Uma discussão que, por hora, me cansou. Não me importo mais com originalidade, me importo apenas em escrever o que me vem em mente, mas nem isso tenho conseguido. Não me importo com o que os outros escrevem. Isso é problema deles. Odeio a crítica, mesmo a mais especializada e técnica.

Não vou falar da vida agitada que o capitalismo nos proporciona e, com isso, a consequente falta de criatividade para construir algo que não seja necessáriamente comercial, como textos literários, feitos por amor a literatura ou ao próprio ego. Cada um faz as escolhas que bem entende. Escreva para deleitar sua alma ou passe fome. Tenha um prato de comida e seja um qualquer na multidão que se espreme para entrar na linha vermelha paulistana. O que passa disso é exceção.

O que quero, sim, falar é a falta de graça que esse mundo tem, e nos induz a ter, com sua confortável anestesia diária. Isso, sim, talvez seja um bom motivo que nos leve a não escrever. Eu não me emociono mais com hinos nacionais, nem com meninas atiradas de janelas. Não perco meu tempo estudando a desgraça de um bairro todo em Bagdad que foi destruído por um bombardeio errado. Não acho graça nenhuma no presidente negro dos EUA. Para mim, ele é mais um desses engodos, um produto hollywoodyano. Não me importa também se a crise estourou e meus negócios vão mal.

Não me importa se jovens se babaquizam cada vez mais ouvindo musicas cantadas por vozes medíocres, xerocadas e lineares, achando que ouvem o máximo, o que há de mais cult. Madeleine Peyroux, Michal Buble, Jamie Cullun são exemplos da falsa erudição. Por que não se submetem a ouvir Billie Holiday, o próprio Frank Sinatra com o coração e não somente com a intenção de ser in, cool?

Aposto com qualquer um que não há estética nesse mundo, assim como havia no mundo de Dostoievsky, de Maugham. Mesmo que o mundo deles fôssem feios, havia um convite explicito à extração do belo dali. O nosso mundo de hoje é contrastante, sui generis. A imagem é confusa. Não sabemos direito onde estamos o que somos ou o que queremos, bem como quais são as nossas aspirações existênciais. Não sabemos nem se estamos alegres ou tristes. Não conhecemos ao certo nossa identidade cheia de tantos traços e sangues.

O coletivismo nos anula, o individuo deixa de existir diante até mesmo do Estado para maior confirmação de que somos um povo sem razão de ser.

Estes são pensamentos avulsos e vagos sem a menor intenção de determinar o que é verdade ou não.

Otto M
Enviado por Otto M em 05/12/2008
Reeditado em 29/04/2010
Código do texto: T1320752
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