O suicídio do Rock

Segundo Muddy Waters, quase 60 anos atrás, o Blues teve um filho e o chamaram Rock'n Roll. Na década atual, como você já deve ter lido em inúmeras outras fontes, o atestado de óbito finalmente foi emitido. O Rock morreu. Mas diferente do que essas mesmas fontes falaram, não houve outro assassino a não ser ele mesmo.

O suicídio do Rock é evidente. A depressão profunda que resultou na sua auto-destruição não foi de data recente, mas foi percebida por poucos. O filho primogênito de um dos ritmos mais influentes e tradicionais do século perdeu a sua principal característica de modo degenerativo, lento e doloroso. O rock deixou de ser original.

Surgido como uma disparidade quase imperceptível no som de grandes ícones, como o próprio Muddy, Chuck Berry e outros Bluesmans e artistas negros mais desconhecidos, deu seus primeiros passos independentes - Passos bem largos por sinal - junto com o Skiffle inglês, trazendo à luz os dois maiores nomes da música do século passado. Logo, o Rock diferenciou-se fortemente dos seus pais. O garoto era irreverente. Tinha uma incrível capacidade de criar e se modificar. Era inovador.

O rock crescia e logo mostrava que se tornaria um gigante sem precedentes - e garanto que essa será a minha única afirmação impassível de contestação. Era imitado e recriado por todos. British Rock, Surf Rock, Folk Rock, Rock psicodélico, progressivo, Glam Rock, Hard, Punk. Sons que, para qualquer desavisado, só tem duas coisas em comum: O nome, obviamente, e a capacidade de inovação. Durante 20, 30 anos de vida o garoto nunca parou. Crescia e misturava-se para se tornar algo novo, mas nunca deixando de ser o Rock.

Encantando multidões, como não podia deixar de ser, o jovem prodígio gerou dinheiro. Muito dinheiro. Não, o suicídio não foi por motivos financeiros, antecipo-me antes dos comentários de certos seres impertinentes. É possível que um ritmo, mesmo tão complexo como o rock, continue em pé após a influência do mercado, sem perder sua independência e criatividade. Os Beatles que o digam.

Após 2 décadas magníficas que vieram após o fim do grupo dos garotos de Liverpool, o Rock demonstrava seus primeiros sinais de cansaço. O público pedia mais, entretanto, o sangue criativo que deu origem ao fenômeno não corria mais em suas veias. Por fim, encontramos os culpados. Acuso, sem medo de retratação: O público, desde então se contentando com pouco, agradando-se e comprando uma anomalia sem criatividade que ousaram chamar de Rock; E o artigo original, por sua vez, que não fez a única coisa que se esperava dele desde que nasceu: Inovar. Ouvimos a quase uma década um mesmismo repugnante, sem capacidade de renovação. São poucos os sonhadores que ainda tentam ressucitar o cadáver, que suicidou-se ao ver-se sem saída, deixando o caminho livre para que cópias fajutas assumissem seu posto.

É triste ver uma criatura tão fascinante acabar assim. Aqueles que, assim como eu, não se conformam com isso - Sim, faço parte dos poucos sonhadores ali citados - não serão capazes de trazê-lo de volta a vida, mas talvez possamos usurfruir o pouco que restou de sua criatividade e beleza. Daqui a alguns anos, poderemos falar com orgulho do nosso eternamente jovem rock'n roll, que estará, seguramente, em qualquer lugar destinado aos bons esquecidos que um dia brilharam no nosso mundo musical.