O Amante de Alice Lidell.

A idéia de realizar esta compilação de textos, veio da necessidade de relacionar as diversas leituras possíveis de um clássico com a biografia do seu autor. A escolha do autor e da obra deu-se pela abundância de informações acessíveis sobre o objeto da nossa atenção.

Antes, porém uma questão: Alice no Pais das Maravilhas é um livro infantil?

Charles Lutwidge Dodson nasceu em Inglaterra em 1832, foi matemático, fotógrafo e romancista sendo reconhecido como tal, após o seu sucesso com "Alice no País das Maravilhas".

Filho de um pastor protestante teve uma educação religiosa, preparando-o para uma carreira também religiosa. No entanto, Charles Dodson ingressou na Universidade de Oxford e, em 1855, foi convidado para aí permanecer como professor de Matemática. Lecionou em Oxford até 1881.

Seus primeiros livros abordaram temas de relacionados à Geometria e Álgebra, mas foi como lógico que Dodson se destacou. O seu interesse pela lógica matemática e pelos jogos levou-o a publicar alguns livros sobre lógica entre os quais se destacam The Game of Logic (1887) e Symbolic Logic (1896).

Durante o período que lecionou em Oxford, conheceu aquele que viria a ser o seu grande amigo, Henry Liddell, pai de três meninas - Alice, Lorina e Edite - a primeira das quais viria a ser a fonte de inspiração para o seu primeiro grande romance publicado em 1865: “Alice no País das Maravilhas”.

Dodson adota então o pseudônimo de Lewis Carroll para as obras literárias, reservando o seu verdadeiro nome para as obras científicas. Após o sucesso de “Alice no País das Maravilhas”, escreveu “Alice Através do Espelho” (1871) que alcançou tanto sucesso como o primeiro. Seguiram-se-lhe: “A Caça ao Turpente” (1876) uma poesia plena de nonsense que fascinou a crítica e “Sílvia e Bruno” (1889).

Quando criança Carroll brincava com marionetes e prestidigtação, e durante a vida inteira gostava de fazer passes de mágica, especialmente para as crianças. Gostava de modelar um camundongo com um lenço e em seguida fazê-lo pular misteriosamente com a mão. Ensinava as crianças a fazer barquinhos de papel e também pistolas de papel que estalavam ao serem vibradas no ar.

Interessou-se pela fotografia quando esta arte mal havia surgido, especializando-se em retratos de crianças e pessoas famosas e compondo suas imagens com notável habilidade e bom gosto.

Carrol era apaixonado por vários tipos de jogos, tanto que inventou um grande número de enigmas, jogos matemáticos e de lógica; gostava de teatro e era freqüentador de ópera.

Ambos os livros infantis de Carroll contêm inúmeros problemas de matemática e lógica ocultos no seu texto. Em ¨Alice no País da Maravilhas¨, a personagem Alice entra em uma toca atrás de um coelho falante e cai em um mundo fantástico e fantasioso. Muitos enigmas contidos em suas obras são quase que imperceptíveis para os leitores atuais, principalmente os não-anglófonos, pois continham referências da época, piadas locais e trocadilhos que só fazem sentido na língua inglesa.

A história de Alice se originou em 1862, quando Charles Dodson fazia um passeio de barco no rio Tâmisa com sua amiga Alice Liddell (com dez anos na época) e suas duas irmãs. Lá ele começou a contar uma história que deu origem à atual. A Alice do mundo real pediu-lhe que ele lhe escrevesse o conto.

Dodgon atendeu ao pedido e em 1864 ele a presenteou com um manuscrito chamado Alice's Adventures Underground, ou As Aventuras de Alice Embaixo da Terra. Mais tarde ele decidiu publicar o livro e mudou a versão original, aumentando de dezoito mil palavras para trinta e cinco mil, notadamente acrescentando as cenas do Gato de Cheshire e do Chapeleiro Louco.

A tiragem inicial de dois mil exemplares de 1865 foi removida das prateleiras, devido a reclamações do ilustrador John Tenniel sobre a qualidade da impressão. A segunda tiragem esgotou-se nas vendas rapidamente, e a obra se tornou um grande sucesso, tendo sido lida por Oscar Wilde e pela Rainha Vitória e tendo sido traduzida para mais de cinquenta idiomas.

Em 1998, a primeira impressão do livro (que fora rejeitada) foi leiloada por um milhão e meio de dólares.

Essa obra foi fundadora de um novo jeito de contar uma história, o surrealismo, e tem enorme importancia literaria, sendo uma história aparentemente infantil, porem com uma mensagem subliminar que poucos conseguem compreender.

Considerando os dados biograficos de Dodson é permitido conjeturar sobre o tanto de suas predileções que permaneceram em sua obra, ainda que tenha assumido o recurso do pseudônimo através de Carroll. Discutimos ainda hoje a relação pessoal de Dodson e Alice Lidell, e se houve, de fato, uma relação, ainda nos vemos no campo da suposição.

Alice no País das Maravilhas é uma obra da necessidade do encantamento e da inocencia que não desvenda qualquer intenção; o tanto do angustiado Dodson que transbordou em Carroll num passeio de bote no Tâmisa rendeu alta literatura, possível situá-las em diversos gêneros e ainda assim brilharia em todas.

Apartado do reflexo moral, que a paixão de Dodson por Alice Lidell pudesse evocar, esta obra reflete o nosso próprio curso moral e de como eventos que sucediam com alguma naturalidade foi revelando os aspectos mais complexos da nossa humanidade.

Esta obra e a trajetória do seu autor servem como todo conteúdo artístico cultural para o ser humano situar-se diante dos juízos que os governam.

Alice no Pais das Maravilhas e sua meta linguagem é uma concepção infantil para nossa história de gente grande.

Charles Lutwidge Dodson faleceu, em 1899, no dia 14 de Janeiro em Guilford, Inglaterra.