Maternidade de Verdade

Impressionantes as lendas e mistérios que as pessoas criam acerca da maternidade. Ficava pensando que quando fosse a minha vez seria tudo como um sonho, com música de fundo e tudo. Depois da mágica de ver a criança na hora do parto, a enfermeira me entregaria o bebê limpinho que delicadamente sugaria meu seio no momento único da primeira amamentação, onde o contato entre mãe e filho seria quase como que chegar ao céu...

Na verdade, era o que eu esperava. Na hora que o bebê nasceu, eu estava tão tonta que mal consegui olhar pra ele antes de desmaiar - efeito da anestesia. Quando, no quarto, recebi meu filho - um garotão enorme de quase quatro quilos - pus-me a tentar amamentar, para então descobrir que as coisas nem sempre saem tão mágicas como nos filmes. E que a musiquinha de fundo era meu gemido de dor .O moleque arrancou-me a pele em menos de cinco minutos de sucção, mas o que era aquilo?

Sangue. Mas não era pra sair leite? Dor. Mas não era pra ser lindo, a melhor coisa do mundo, amamentar o filho, um sonho?

Com o passar dos dias, e com muito sofrimento, fomos, enfim, nos adaptando, e todos sobrevivemos. Seja qual fosse a fase – parto, amamentação, os dentes nascendo, as noites de sono, as doenças infantis intermináveis, a escola etc etc – nunca foi como nos filmes. A música de fundo jamais soou, e muitas lágrimas foram derramadas durante o percurso. Lágrimas de medo, de apreensão, de saudade, de dor, e, é claro, de alegria.

À medida em que amadurecemos, podemos compreender que estes momentos extremos de dor, de tristeza e alegria tão íntimos, é que fazem da relação entre mãe e filho única, mágica, e incomparável – o que nenhum filme ou música poderiam contar.