PEQUENO MANUAL DE CONSULTA MÉDICA - ( INDICADO PARA CLIENTES DE MÉDICOS PACIENTES )

Pequeno Manual de Consulta Médica

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Dr. Márcio Funghi de Salles Barbosa

INTRODUÇÃO

A idéia do presente trabalho é criar um conselheiro que ensine as pessoas a obterem uma consulta bem aproveitada, com respostas precisas e claras às suas dúvidas.

Inúmeras são as pessoas que, após a consulta, apresentam dúvidas sobre o diagnóstico, principalmente o que significa, se é mesmo aquele que foi dado pelo médico atendente, o que significa aquele resultado de exame, se o tratamento está certo, se a doença é grave e se tem cura. Isto faz com que repensemos melhorar a qualidade destas consultas.

A Lei de Defesa do Consumidor nos ensina que é responsabilidade do prestador de serviços, esclarecerem ao cliente todos os aspectos do trabalho a ser prestado, ocorrendo-lhe penalidades graves, caso ocorram insatisfações, ou prejuízos não alertados, quando do início daquela prestação.

Da mesma forma, o Código de Ética Médica, o Código Civil e o Código Penal reforçam esta lei.

Médicos e clientes precisam compreender que: "Sedar a dor é um ato divino" e "O trabalho médico só deve beneficiar a quem o pratica e a quem o recebe". Assim preconizava Hipócrates, que viveu cerca de 400 anos antes de Cristo e ele estava certo!

Este manual tentará fazer com que clientes compreendam o que é e como se faz uma boa consulta. Como entender o método de diagnóstico e tratamento.

Tentará ainda mais, ensinar às pessoas a serem cidadãos, buscando seus direitos, cumprindo seus deveres e auxiliando seu parceiro, o médico, a chegar a um diagnóstico mais preciso.

Assim esperamos.

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Marcio Funghi de Salles Barbosa

I. A HISTÓRIA MÉDICA

QUEIXA PRINCIPAL

O ponto de partida para conseguir uma boa história médica é a queixa principal. Aqui o médico quererá saber, e o cliente deve lhe relatar qual o motivo principal que o trouxe à consulta. São exemplos: "grosseiro no corpo", "soluços sem fim", "dor de cabeça", "dor de garganta", "quebradeira", "intestinos soltos", "dor pra urinar", ou seja, o que ele sente de mais incomodante. Durante a consulta, o médico e o cliente irão falar sobre os outros sintomas, mas o que é informado aqui, é: o que o cliente sente de mais importante.

HISTÓRIA DA DOENÇA ATUAL

Aqui, o médico quererá saber a ordem como as coisas aconteceram. Quais os problemas iniciais que surgiram; como e em quanto tempo evoluíram.

A seguir, que medidas foram tomadas: como e o que fez o cliente, se buscou ajuda, de que tipo foi a ajuda, o que conseguiu com esta ajuda, se fez exames, repouso, tomou medicamentos, desde um chá caseiro, até uma benzeção, massagem, ou qualquer outro tipo de atuação. Conta aqui, também, como o cliente sentiu-se em relação às medidas tomadas e os resultados. Isto é muito importante.

É importante também que o cliente conte fatos associados ao aparecimento dos sintomas, pois às vezes, acontecimentos trágicos, emocionais, de alegria, alimentação diferente da comum, usos de produtos ou substâncias diferentes, podem fazer surgir problemas. O cliente deve procurar se lembrar de todos os ocorridos que ajudem a entender o processo da doença. Relatar se fez viagens, como pescarias, passeio fora de sua cidade, se levou quedas, se teve diarréias, tonturas, dores, vômitos, uns dias, ou horas antes dos sintomas, ou dos sinais da doença atual. O médico irá complementar estas informações, com outras perguntas. Quanto mais detalhada a história mais dados terá o médico para entender a doença.

ANTECEDENTES PESSOAIS

Neste ponto, o médico irá falar sobre a gravidez e o parto do cliente, sobre seus primeiros desenvolvimentos, se teve outras doenças importantes, se sofreu outras cirurgias e tratamentos, se a doença atual teve algum surto (acontecimento) anterior, enfim, falarão sobre todos os acontecimentos da vida do cliente, que possam trazer informações úteis para a compreensão do quadro clínico. Uma avaliação do gênio do cliente, do seu modo de vida, do seu estado emocional, pode trazer dados sobre se a doença que está tendo, é de fundo emocional, ou psicossomático, como é chamado.

Muitas consultas médicas, de todas as especialidades, segundo a Organização Mundial da Saúde, são na verdade, manifestações orgânicas de um transtorno psicológico, como o estresse, a depressão, a ansiedade e certos problemas reais, que o cliente, ou não consegue ver, ou se nega a perceber, ou mesmo a relacionar com as queixas. Estas queixas psicológicas causam, quase sempre, problemas (sintomas) orgânicos.

ANTECEDENTES FAMILIARES OU HISTÓRIA FAMILIAR

A esta altura, importa ao médico saber se existem informações familiares, que possam ajudar a compreender a doença atual.

Como são os pais, do ponto de vista da saúde física e psicológica. Descrever com detalhes o gênio dos pais: se eram estressados, deprimidos, angustiados, se faleceram e de que causas.

O mesmo vale para os irmãos e parentes próximos.

Os avós eram doentes? O que tinham?

Houve casos parecidos com o do cliente, na família?

A família é calma, compreensiva, ajuda o cliente, ou o deixa aflito, afobado?

Existem muitas doenças familiares e hereditárias que tendem a aparecer com freqüência. Aqui é o momento para se descobrir isto.

EXAME FÍSICO GERAL E ESPECIALIZADO

A esta altura da história, o cliente já forneceu dados importantes que irão orientar o exame físico a ser feito. O médico deverá fazer uma tomada de pressão arterial, uma escuta (ausculta) do coração, uma avaliação da respiração, e uma verificação de dados básicos, como postura, algum sinal particular, antes de se passar ao exame especializado. Isto, além das informações sobre o estado geral do cliente, permite uma busca preventiva de outras problemas, como pressão alta, doenças cardíacas e respiratórias, indícios de outras doenças, como infecções, alterações da alimentação, do funcionamento das diversas glândulas, de doenças alimentares, do sistema nervoso e assim por diante.

Em seguida é feito o exame específico que mostrará ao médico como andam os órgãos envolvidos nas queixas do cliente.

Está claro, que um oftalmologista, por exemplo, não irá fazer um exame ginecológico, mas uma verificação básica, como indicado acima, é imprescindível.

DIAGNÓSTICO PROVÁVEL

Neste ponto, o médico já é capaz de formular as hipóteses de diagnóstico, somando os dados obtidos. Isto acontece, pelo fato de não ser a medicina uma ciência exata, como a matemática, a física ou a engenharia. E a não ser que se trate de algo muito evidente, isto é, com muitas chances de ser um problema definido, deverá o médico procurar fazer exames complementares que o ajudem.

É preciso que os clientes aprendam um conceito: O diagnóstico médico é sempre de probabilidade, isto é, possivelmente se trata daquela doença conhecida.

Se não entendermos esta verdade, médicos se frustrarão, ao tentarem se julgar infalíveis e os clientes, explorados, traídos, se não lograrem êxito imediato.

Explorados pela imprensa sensacionalista (não nos referimos à imprensa de informação e de vigilância, muito saudáveis), clientes têm sido levados a protestar, de forma difamatória, por não compreenderem estas verdades. Não se tenta aqui, com esta fala, dizer que a má prática da medicina não deva ser denunciada e apurada. Para isto existem os Conselhos Regionais e Federal de Medicina, os PROCONS, e os Códigos Civil e Penal.

Outro dado importante a ser acrescentado, é que o médico, ao prestar o compromisso de trabalhar pela cura de uma doença, se compromete, segundo a lei, "a usar dos meios que conhece, para este fim”.

A cura é uma conseqüência de diversos fatos, como a capacidade de reação do paciente; seu estado físico anterior à doença atual; a sua sensibilidade ou rejeição ao medicamento; o diagnóstico bem feito; a medicação administrada com precaução e habilidade, sem que o médico negligencie o cuidado ao cliente.

EXAMES COMPLEMENTARES

Aqui as expectativas de médicos e clientes deveriam ser iguais. O médico só deverá pedir exames, se pretende confirmar ou afastar uma suspeita de diagnóstico (nome da doença). Se já entendeu o que se passa, o exame é um encarecimento da consulta, portanto desnecessário.

Entretanto, muitas pessoas com posses ou usuárias de um convênio de atendimento médico crêem que devem fazer muitos exames. Tolice! Encarece a mensalidade dos convênios e a história médica é muito mais importante que qualquer exame, que só serve para "complementar" um diagnóstico. Quando não existiam todos os exames de que dispomos, nem por isto o índice de cura era proporcionalmente muito mais baixo, do que é hoje.

Os exames devem ser realizados, levados ao médico que anotará os resultados e devolverá os mesmos ao cliente.

É proibido ao médico conservar em seu poder, exames de clientes, a não ser que deseje estudá-los em profundidade, quando então, deverá fornecer um recibo pelo empréstimo dos mesmos, que será devolvido pelo cliente, quando do retorno dos exames pelo médico. Isto faz parte de uma regulamentação do Conselho Federal de Medicina e deve ser respeitado pelo médico.

DIAGNÓSTICO DEFINITIVO OU DE PROBABILIDADE

Como foi dito linhas atrás, o diagnóstico(nome da doença) definitivo é feito na maioria dos casos, quando a doença corresponde ao descrito nos manuais de medicina. Os manuais ensinam também, as formas variantes conhecidas para as doenças, mas nem sempre os sinais e sintomas permitem concluir o diagnóstico preciso, tendo o médico, com franqueza, que alertar ao cliente e aos seus familiares, que o diagnóstico é provável. Isto não significa insegurança ou incompetência médica. Medicina, repito, não é uma área matemática da ciência.

PROGNÓSTICO E TRATAMENTO

O julgamento médico do diagnóstico, possibilidades de tratamento (se fácil, complicado ou impossível), avaliação de reação do cliente, tempo de duração do tratamento, conhecimento se aquela doença é curável, parcialmente curável ou incurável, a avaliação das possíveis complicações e marcas deixadas pela doença, formam o que chamamos de prognóstico. Resumidamente, significa medir as chances de cura e de recuperação perfeita.

Assim, o prognóstico daquele cliente, sobre certa doença, pode ser bom, favorável, moderado, grave ou mau, dependendo de como avalia o médico os fatores que acabamos de citar.

Isto é importante, para que o médico, sem exageros, diga o que pode ser esperado. Esconder o prognóstico de uma doença revela insegurança médica, ou em casos de doenças irreversíveis (graves, de mau prognóstico), uma proteção ao cliente. Mas nesses casos, os familiares têm que ser advertidos e informados, com todos os detalhes.

É permitido ao médico negar se a tratar determinado cliente, desde que não omita socorro, isto é: sendo ele o único médico capaz de tratar aquela doença, deve atender o cliente. Se resolver deixar de atender alguém, tem o dever de arranjar outro colega para fazê-lo, sob pena de ser processado por negligência.

O tratamento tem que ser indicado e observado de perto pelo médico, para que previna surpresas inesperadas, reações secundárias do tratamento e avaliação da evolução.

Um fato importante, desconhecido pela maioria dos clientes, é que o Estado, pela Constituição Brasileira, se obriga a dar assistência à saúde de todos. Assim, caso o cliente não seja capaz de pagar pelos seus medicamentos, e tenha um pedido de tratamento negado pelo S.U.S., deve recorrer à Promotoria Pública, que de pronto, obrigará aquele Órgão, a fornecer os medicamentos. Entretanto, o médico, deverá procurar fornecer receita de medicamento existente para aquela doença, dentro dos remédios básicos do S.U.S., ou justificar, com bases racionais o porquê de estar fazendo a indicação de outro medicamento.

EVOLUÇÃO

A evolução da doença tem que ser muita bem seguida e documentada pelo médico, que determinará os retornos que o cliente deve fazer para acompanhamento, se for o caso. Todos os problemas decorrentes ou que surjam durante o tratamento, devem ser relatados ao médico assistente. Esta é uma forma de se conseguir que o médico continue responsável pelo tratamento. Incluir ou seguir opiniões de amigos e outras pessoas, mesmo que farmacêuticos, no tratamento, é sinal de ignorância, e de estar desviando a responsabilidade para quem não entende do assunto. Em caso de dúvidas, busque aconselhar-se com o médico assistente. Se quiser, o cliente tem o direito de ouvir opiniões de outros médicos e não precisa se preocupar, achando que isto magoará o profissional competente e seguro do que faz.

II. AVALIAÇÃO FINAL OU ACOMPANHAMENTO PROGRAMADO

É dever do médico e direito do cliente ser avaliado após terminado o tratamento, ou em casos de doenças de longa duração, ou de cura não conhecida, ser traçado um esquema de acompanhamento médico, onde as modificações de medicamentos e orientações de tratamentos ajudem na melhora ou recuperação do cliente.

Deixar de seguir estes acompanhamentos é retirar do médico a responsabilidade pelo sucesso ou fracasso do tratamento.

Muitas pessoas, sentindo-se sem condições financeiras para prosseguirem determinado tratamento, por vergonha ou indiferença, abandonam a orientação médica ou partem para tratamentos alternativos, quando deveriam discutir o assunto com seu médico e pedir que o oriente, sobre o que fazer.

O médico, se puder, poderá estudar um atendimento com remuneração parcelada, ou encaminhar o cliente para outro colega que o atenda de forma satisfatória.

Crer que o “sacerdote da medicina” deve jejuar, não sustentar sua família, manter-se desatualizado cientificamente, que a Providên-cia Divina o suprirá de todas as suas necessidades materiais e científicas é retornar aos tempos das cavernas, onde os pajés desprovidos de conhecimentos, brandiam seus chocalhos e queixadas de burro, em total despreparo para tratar, mas fingiam evocar espíritos que destruiriam quem o desobedecesse.

Negar que isto ainda ocorre, é o mesmo que ignorar a proliferação de certas crendices, que devem fazer chorar ao Criador, ao ver Seu povo tão ingênuo.

III. ORIENTAÇÕES COMPLEMENTARES AO CLIENTE E AOS SEUS FAMILIARES

Se o cliente e/ou familiares tiverem dúvidas que não foram esclarecidas pelo médico assistente, sejam estas dúvidas relacionadas ao diagnóstico, tratamento ou prognóstico devem ser encaminhadas à Associação Médica Local, Estadual, ou Federal, ou à Associação da especialidade a que pertence o médico, ou ainda ao Conselho Regional, ou Federal de Medicina.

Lembre-se a dúvida mata mais que muitas doenças, causa várias delas e nos deixa com a sensação dos servos pacíficos, que se omitem, por medo de serem ridicularizados.

IV. CONCLUSÕES

Além do que foi dito, achamos conveniente acrescentar:

1 - Não é necessário saber medicina, para se submeter a uma boa consulta; é obrigação de o médico saber indagar, examinar, traçar o diagnóstico, informar o que significa aquela doença e o tratamento correspondente. Entretanto, o cliente que procura entender como será sua consulta e o que esperar dela, sairá convencido ou não, dependendo de como for atendido.

2 - Na redação deste trabalho evitamos usar a palavra paciente (o que padece) e usamos cliente, pois é preciso que se retire este "carimbo" de quem precisa do serviço médico, tem todo o direito de ser impaciente e de exigir paciência do médico. É Importante ficar bem claro: qualquer que seja a retribuição pelo trabalho médico (um sorriso, por exemplo), o cliente tem o direito de ser bem atendido, entendido e retribuído com um tratamento, o melhor que a medicina possa lhe oferecer.

3 - Resultados de exames, cópias ou resumos de laudos, ou prontuários médicos, atestados sobre seu estado, receitas suplementares até a data do retorno à consulta, ou ao acompanhamento, são direitos do cliente, que não devem e nem podem ser negados, muito menos, cobrados novamente.

4 - Todo ser humano tem o seu corpo comandado por um cérebro, que também é parte deste corpo. Assim uma consulta que só analise o sistema nervoso, ou só um órgão, ou aparelho, é uma consulta incompleta.

Médicos, que após examinarem seus clientes, dizem que ele nada tem, estão dizendo que só viram uma parte do corpo e não compreendem o cliente, como um ser físico e psíquico. Quando muito, podem afirmar que o cliente não tem um problema ligado à sua área. Da mesma forma, médicos que dizem que todos os problemas têm origem psíquica, estão exagerando.

É preciso ressaltar um fato conhecido da maioria dos médicos e alertado pela Organização Mundial de Saúde: a maioria das consultas que passam pelas especialidades médicas são consultas psicossomáticas, isto é, acontecem em pessoas que apresentam sintomas e sinais de causa psicológica.

5 - Muitos médicos sabem da necessidade de se conhecer bem o cliente, seus hábitos, inclusive alimentares, seu meio social, suas atividades profissionais, suas crenças e sua família, para complementarem o estudo das queixas apresentadas. Faz-se com isto uma medicina completa, que se chama medicina holística. Estes profissionais, a exemplo de seus colegas do passado, chegam ao grau máximo na confiança do cliente e se tornam amigos, conselheiros, "médicos da família". Esta é a maior retribuição, que se pode pretender, dentro do trabalho médico.

6 - Muitos de nós guardamos em nosso íntimo, um certo medo e respeito exagerado ao papel do médico. No fundo são restos do pensamento mágico, que guardamos de nossos antepassados, ao lidarem com os "pajés" das tribos, senhores da vida e da morte, que decidiam sobre o indivíduo, explorando seu misticismo e temor à morte.

7 – O artigo 122 do Código de Ética Médica, em seu parágrafo único, diz: O atestado médico é parte integrante do ato ou tratamento médico, sendo o seu fornecimento direito inquestionável do paciente, não importando em qualquer majoração de honorários. Acrescido ao Direito Constitucional do Cidadão, que proíbe o pagamento duplo por qualquer serviço prestado, torna os selos médicos aposto aos Atestados, uma exigência descabida.

8 – O prontuário médico deve ser redigido por este, com as anotações de suas descobertas, diagnósticos, tratamentos e a evolução clínica do cliente, mas apesar de fazer parte de seu fichário e servir como prova de seu trabalho aplicado, é aberto ao cliente, que tem o direito de solicitar a qualquer instante, uma cópia do mesmo, para orientar possíveis tratamentos com médicos que venham a se beneficiar destas informações. Deverão ser remetidos ao médico substituto, de forma lacrada, confidencial, de preferência por familiares dos clientes, se o seu conteúdo puder trazer alguma revelação que possa chocar o cliente, se o diagnóstico, ou o prognóstico forem desfavoráveis.

9 - Não deve crer o cliente, que o fato de pagar honorários médicos, lhe dê o direito a atestados de licença, afastamentos do trabalho, ou para aposentadorias, se estas solicitações não estão respaldadas num diagnóstico que comprove tais necessidades. Além disto, tais atestados, quando fornecidos, precisam ter a devida comprovação pelos médicos Peritos da Seguridade a que faz parte o cliente, ou mesmo pelos médicos do trabalho. Estes devem manter sua independência de julgamento, não deixando influenciar-se pelo cargo que exercem, não podendo intervir nos tratamentos realizados ou emitir pareceres desabonadores ao médico assistente, reservando suas observações para o laudo médico trabalhista ou pericial.

10 – Sendo constatada pelo perito, ou médico do trabalho alguma anomalia no tratamento, ou diagnóstico levado a cabo pelo médico assistente, mandam as boas práticas, que notifique o colega, ou aos órgãos de controle da profissão, como o Conselho Regional, o Conselho Federal de Medicina, ou suas Delegacias de representação.

11 – Um cliente com uma educação mínima razoável, jamais cobrará de seu médico assistente a execução de práticas desleais, de exageros diagnósticos, ou qualquer outro favor, que não a boa prática da medicina. Se o fizer, merece ser educado pelo médico, que lhe mostrará as implicações legais e morais que isto acarretará.

12 – O cliente não deve acobertar atos médicos equivocados, ou fora do contexto médico, apenas por medo da figura autoritária, que possa tentar impor o médico assistente. Lembre-se que: “Direito tem, quem direito anda”.

13 – Lembre-se de que tratar os sintomas emergentes, nem sempre é sinal de que está sendo tratada a doença que causou o sintoma. Assim a Gastrite, a hipertensão a batedeira cardíaca e tantos outros sintomas, precisam do diagnóstico da causa.

14 - Muitos clientes enxergam os exames, como medir a pressão arterial, examinar os olhos, boca, cabeça, ver os reflexos, como uma necessidade essencial para a cura. Entretanto, um dermatologista, por exemplo, consegue fazer um diagnóstico só visualizando uma mancha. Se conseguir que o medicamento dê certo e cure o problema, ótimo! Senão é possível que seja dito a seu respeito: "Também, nem me colocou a mão!..." São os ossos do ofício, que os médicos têm que compreender e tentar modificar. Afinal, o exame médico é parte fundamental do tratamento e é obrigatório.

Finalizando: a medicina se apóia em levantamentos e estudos de casos (estatísticas) e num raciocínio de avaliações do que deu certo e do que deu errado, na maioria dos casos. Por isto, ela é racional, ou seja, usa da razão, mas não é matemática, exata. Por isto, o médico sensato, diz sempre: "Vamos tentar resolver este problema...”

Crer que somos infalíveis é o caminho mais fácil para nos transformarmos em incompetentes exibidos e mentirosos, pouco importa se somos médicos ou não.

O médico que se julga com poderes incríveis é um imprudente. O cliente que atribui poderes incríveis ao médico é um ingênuo.

"Só sei, que quase nada sei!", deve ser a máxima repetida por todos: médicos e clientes. Todos os dias.

PENSE NISTO!

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Este Manual foi divulgado e recomendado pelo Jornal de Medicina, edição de março de 2002, publicado em conjunto pela Associação Médica Brasileira e Conselho Federal de Medicina.