A Grande Morte

Dizem que ela é resultado das pequenas... Pequenas mortes, vixe! E pode um homem morrer e nascer e morrer e nascer até a grande despedida? Jesus já dizia que sim. "Louco, tem é demônio!" diziam os seus opositores. Eu fui atrás desse negócio. Comigo é assim, cada causo tem que ser bem esclarecido, tintin por tintin.

E não é que o "demonizado" tinha razão. Consultei meus alfarrábios (passado e presente são uma coisa só) e descobri que a tal da pequena morte além de viva está sempre na moda, isto é, presente, respirando e nos chacoalhando. Coisa de loucos... Ela se apresenta sempre que precisamos abrir mão de alguma coisa: um trabalho, um amor, um comportamento, a morte de um ente querido e mais uma infinidade de coisinhas ou coisonas que temos que deixar passar em nossas vidas, por vontade própria ou não (ah essa marvada!). Dói e como dói, maltrata, machuca, entronxa... Não mata, porém exige despedida, finalização. Nós (ou será que só eu?) temos o hábito de não fecharmos esses espaços que um dia ocupamos e fomos destronados, empurrados e enxotados...snif, snif, snif.

Passamos a vida carregando pesos mortos que atrapalham a nós e a meio mundo, aqueles que querem passar para outra, aqui ou do lado de lá, ou os que convivem com a gente e não guentam mais tanta lamentação, choro e esperança vazia... Ah se eu tivesse feito diferente, ah se eu tivesse mais uma chance, ah se não tivesse acontecido isto ou aquilo, e mais um corolário de argumentos construídos para assegurar o que não dá mais pra segurar... Explode coração!

É isso aí, Gonzaguinha tinha razão... O que passou passou, não dá mais prá segurar, explode coração (o velho) e deixa surgir o novo... O novo emprego, o novo relacionamento, o novo comportamento, o novo modo de pensar, o novo estilo de vida... bate, bate, bate coração... dentro desse novo peito... Fim do luto, até luto tem fim, um novo mundo, um novo olhar, um novo viver.

Assim, essas tais de pequenas mortes vão nos preparando para o "grand finale", o futuro, nos ensinando a perder para ganhar, a nos despedir e despedir de uma vez por todas pessoas e/ou coisas que não podem mais estar com a gente, liberando velhas crenças e assumindo novas, enfim deixando passar o que tem que passar e recebendo o que vem: o novo. Fim do sofrimento, passou...

Desconfio que desta forma, Ele está forjando todos os vasos para conformá-los a Sua semelhança, ao mundo onde um dia viveremos sem mortes, nem as pequenas nem as grandes... só Vida Viva e Verdadeira - Un grand finale. Tomara que assim seja!