Jogos Estudantis: Uma reflexão.

O cenário - uma competição estudantil envolvendo escolas públicas e particulares. Nessa oportunidade enfrentam-se times bem distintos, o pano dos uniformes os diferenciam, a altura os diferenciam, a cor da pele e a marca dos tênis também os diferenciam. Naquela ocasião como mero espectador observo que enquanto um dos “times” possui como torcida limitada a alguns colegas, o outro conta também com apoio dos familiares. Duas figuras me chamam atenção, uma mãe exibindo seu corpo “sarado” ainda mais longilíneo sobre um salto alto, (deve malhar em alguma boa academia da cidade, pensei!) e um pai que mais parecia um atleta, trajando toda uma indumentária esportiva do ultimo tipo, tudo oficial!! oferecendo bebida isotônica ao seu futuro campeão.

Começado o jogo, percebo que muito mais que os fundamentos técnicos e tácticos fazem a diferença, a força, a envergadura e a velocidade é muito maior no grupo de garotos que ostentam seus nomes na camisa enquanto na outra equipe, a solidão de um número mal pintado no uniforme.

O placar, ele e principalmente ele, reflete ainda mais o desequilíbrio.

Terminada a partida eu paro e penso: Foi um bom jogo? Bom para quem? Para o técnico do time vencedor que não coincidentemente exibe camisa de direção do próprio evento? Será para os organizadores (empresas e governo) que apresentam o campeonato sob uma bandeira de equidade, cidadania e inclusão? Ou apenas para o time vencedor - o do filho do orgulhoso pai que agora vai cumprimentar pessoalmente a banca de árbitros?

Algo me angustia nisso tudo. A angústia de ver a ponta de um iceberg que é a esportivização da Educação Física Escolar, mais uma deformidade (como se isso fosse ainda possível) das nossas políticas de educação. Contudo não vou nem quero me aprofundar nesta questão pois percebi que (por incrível que pareça e daí vem minha angústia) por mais que se escreva sobre o assunto, floresçam novas faculdades, novos cursos de especialização e pós-graduação onde se formam continuamente gerações de professores e dirigentes escolares, essa realidade não muda. Quando anos deverão se passar? Quantos artigos deverão ser escritos? Me dá as vezes a sensação de que na função de Professor do Sistema público de ensino, vivo uma realidade onde “manda quem pode, obedece quem tem juízo”ou seria “em terra de cego quem tem um olho é rei”?.

A verdade é que ainda vivemos uma realidade de discursos vazios e projetos lugar-comum, para não falar dos saudosistas que sempre apelam para um passado historicamente construído (sem desmerecê-lo) como fonte de justificativas para “planos”, “aulas” e “projetos” a uma geração de estudantes que evolui em ritmo jamais visto. E o resultado esta aí, a educação como sempre atrás do placar.