Capítulo 8
Aprendendo a Ouvir e Valorizar as Crianças.
Sabedoria é algo diferente do simples conhecimento intelectual.
Quando nascemos neste mundo físico, trazemos a sabedoria de toda a experiência passada da humanidade, que fica como que arquivada em nosso inconsciente.
O bebê tem que se adaptar a este mundo físico, aprender a controlar os movimentos, a fala, depois aprender a se relacionar com os pais, irmãos, parentes. Mais tarde, na idade escolar, começa a socialização com colegas e professores.
Nesse processo existe um intercâmbio, pois todos nós temos nossa cota de colaboração na troca de experiências que é a Vida.
Na relação de sala de aula, temos à nossa frente pequenos seres que trazem muita Sabedoria inata; é importante que saibamos ouvir, valorizar e interpretar todos os acontecimentos de nossa sala de aula à luz de algo mais profundo: a interação pessoal, o intercâmbio das energias, presente em cada momento, em cada ato, em cada palavra.
Se soubermos observar à luz de uma compreensão mais profunda, notaremos que cada dia de trabalho constitui-se numa peça de um jogo, numa cena de representação teatral, num passo harmonioso de uma dança; cada gesto e cada palavra ligados a significados ricos e profundos.
Tudo tem significado nesta vida e nada acontece por acaso, Se nós aprofundarmos nossa capacidade de observação, perceberemos que há uma dança harmoniosa em toda a natureza, em toda manifestação de vida.
A Energia cria constantemente, e se permitirmos e enriquecermos seu fluxo, essa criatividade produz frutos visíveis, saborosos, maravilhosos.
Como entrar nessa compreensão mais profunda dos fatos aparentemente superficiais do nosso dia a dia?
Resposta: abrir nossa percepção e nossa atenção para tudo que acontece a cada momento, com a compreensão de que tudo tem significado e ter a intenção de compreender.
O nosso trabalho como professores, por exemplo, não aconteceu por acaso: nós escolhemos esta oportunidade para nosso próprio aprendizado, muito mais do que para ensinar algo a alguém.
E se não o realizarmos com amor e dedicação, perderemos a oportunidade de grandes alegrias e muita realização profissional e humana.
Outra coisa que não é por acaso é estarmos trabalhando nesta escola, com estes colegas, com estes funcionários, com estes superiores, com estes alunos!
Todos são espelhos, mostrando a nós mesmos nossos defeitos, nossas qualidades, que estão refletidos nos demais.
Observe bem: aquelas pessoas com as quais temos mais dificuldades no relacionamento têm algo a ver conosco; quando conseguimos entender o que há em nós que as faz ficar insuportáveis, elas deixam de ser perturbadoras.
Quanto à nossa sala de aula, estas crianças estão aí por um admirável jogo da vida, que as reuniu criando uma rede de relações que irá ensinar muito a todas, durante o tempo que estiverem juntas.
Há relacionamentos escolares que durarão anos, às vezes toda a vida; outros se desfarão como se nunca houvessem se encontrado.
Cada aluno colocado à nossa frente (por mais que não pareça!), é uma jóia que a Vida está nos oferecendo como oportunidade de auto-reflexão e aprendizado: são eles que nos ensinam!
Ensinam a humildade de perceber que nada sabemos e que a Sabedoria pertence a todos; ensinam a ter paciência com cada parte da personalidade que falta burilar em todos nós; ensinam a recompensa que há no convívio humano pacífico, respeitoso e aceitando nossas diferenças...
Não vamos desperdiçar tantas oportunidades nas queixas, nas críticas, nos comentários irônicos e maldosos; vamos procurar ver em todos os fatos, as causas mais profundas.
Isso não quer dizer que seremos condescendentes nem permissivos com as crianças: elas precisam ter firmeza e limites para se sentirem seguras.
As atividades que se seguem têm o objetivo de desenvolver a participação com responsabilidade; a valorização de cada elemento do grupo; a sintonia entre todos e a sincronicidade dos movimentos em todo o trabalho escolar.
continua.... 
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