Peregrina ou mochileira, eu?

Sempre tive gosto pelas viagens. De todos os tipos não, mas para qualquer lugar. Visitar uma cidadezinha no interior no meu Estado ou mesmo nos outros do meu País. Ou ainda visitar o País de outros. Viajar é comigo mesma. Gosto da sensação de ser anônima na multidão, de olhar pra gente em mundos tão diferentes e sentir-me tão igual. Gosto do descompromisso com o vestuário – um par de calças compridas e bermudões, algumas camisetas, um agasalho e uma boa mochila que ofereça várias possibilidades. Transporte qualquer um, preferencialmente o público, a bicicleta ou os tradicionais pés. Caminhar com gosto. Nada de pressa. Tempo para sentar, olhar ao redor. Conhecer pessoas, conversar ou tentar entender e ser entendida. Experimentar muito: comidas, bebidas, uma dança ou ritual diferente, viver o novo. O regime e a culpa vão para o brejo... Fazer uma refeição frugal nas praças ou na padaria da esquina. Hospedar-me em lugares simples, até sem conforto. Perder e perder-me em trens, endereços, mapas ou em um grande espetáculo. Tudo motivo de divertimento, a vida do jeito que ela é fortalece a alma!

As férias terminam, volta-se a rotina, mas o efeito permanece e, durante alguns dias, ainda fico a sentir-me visitante no meu lugar. Algo sempre muda em mim. Torno-me mais igual, universal, as diferenças vão diminuindo.

Penso que será assim no reino do Deus, viveremos como peregrinos ou mochileiros, não é a mesma coisa? Aí a grana não faz diferença. Acumulação torna-se peso, endereço fixo torna-se aprisionamento, aparência tira a possibilidade de ser “invisível” e reduz as possibilidades do ser apenas o que nós somos e sermos iguais a todo mundo e em todo o mundo.

Os jovens de uma maneira geral aproveitam muito mais estas experiências, mas não deixam que elas se tornem o hábito. Um dia “amadurecem” e lá vão seguindo os ritmos do mundo que diz para você se fixar, congelar, enrijecer, adotar os padrões de acumulação de bens e riquezas e aparecer. Aí, penso eu, eles começam a perder o prazer pela Vida Viva, aquela que Jesus praticou e anunciou. Alguns de nós ainda conseguimos vivê-la numas boas férias. A maioria, no entanto, perde a capacidade de gozo com os pequenos prazeres e andam correndo atrás de outras viagens que apagam as suas almas, destroem as suas luzes e esconde os seus dons além de, incentivarem a seguir gurus que não entendem, não vivem e nem deixam que as pessoas vivam como Deus quer...