Virtude em Aristóteles

Esta breve inferência trata do conceito de virtude (arethés – αρεθής) em Aristóteles, o qual é apresentado no Livro II da Ética a Nicômacos (1106b35) e vem expresso a seguir em duas diferentes traduções:

1) Tradução Leonel Vallandro e Gerd Bornheim. Coleção Os Pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1979, p.73

A virtude é, pois, uma disposição de caráter relacionada com a escolha e consistente numa mediania, isto é, mediania relativa a nós, a qual é determinada por um princípio racional próprio do homem dotado de sabedoria prática.

2) Tradução Mário da Gama Kury. Brasília: UnB, 1999, p.42

A excelência moral, então, é uma disposição da alma relacionada com a escolha de ações e emoções, disposição esta consistente num meio termo (meio termo relativo a nós) determinado pela razão (razão graças à qual um homem dotado de discernimento o determinaria).

Como se pode observar, em Aristóteles, a virtude é fruto de decisão (escolha), cuja constância produz o hábito (disposição da alma); é um trabalho prático peculiar ao homem que vive em grupo (mediania ou meio termo relativo a nós) produzido pela observação do phrônimos (homem dotado de sabedoria prática), isto é, aquele que reconhecidamente pelo grupo sabe observar as circunstâncias e a realidade na qual está inserido, pelo uso apropriado do logos. Assim, virtude não é uma faculdade ou qualidade natural do homem, mas uma conquista que o logos (característica exclusiva e qualificativa do ser humano) oferece e permite, porém, pelo trabalho em comunidade.

Glossário comparativo das traduções:

a) virtude = excelência moral = arethés

b) disposição de caráter relacionada com a escolha = disposição da alma relacionada com a escolha = hexis proairetikhé (hábito de decidir)

c) mediania = meio termo = mesotes

d) principio racional = razão = logos

e) homem dotado de sabedoria prática = homem dotado de discernimento = phrônimos (aquele que possui phrônesis = sabedoria prática = prudência)