O Profeta que não era profeta

Amós era boieiro. Não tinha eira nem beira, muito menos curso de interpretação das escrituras. Deus falava com Ele. Confidencializava os seus planos. Ordenava-lhe que fosse lá onde estavam os letrados e os avisasse. Amós apenas ouvia a voz de Deus e atendia ao seu chamado.

Os intérpretes da lei o rejeitavam. Deus só fala com os diplomados, que são preparados para fazerem a leitura dos seus livros, diziam eles. Essa palavra de Amós é armação, complô contra o reino. E perseveravam nos seus estudos, interpretações, assembléias solenes e coleta de dízimos nos templos, a custa do pobres e cativos. Tinha cada um o seu deus-estrela e o adoravam. Como Amós incomodava, decidiram expulsar Amós de seus arraiais e foi o que fizeram. Deixaram de ouví-lo.

Daí o castigo.

“Eis que vêm dias, diz o SENHOR Deus, em que enviarei fome sobre a terra, não de pão, nem sede de água, mas de ouvir as palavras do SENHOR. Andarão de mar a mar e do Norte até ao Oriente; correrão por toda parte, procurando a palavra do SENHOR, e não a acharão.”

O reino cresceu, multiplicaram-se os intérpretes da lei. Multidões agora correm em busca de Sua palavra, querem ouvir a voz de Deus, mas essa fome nunca é saciada porque Ele não está mais nesses arraiais. Expulsaram-no. O lugar é de deus-estrela, o deus que não sacia em nenhum dos sentidos.

Amós continua a falar, fora dos arraiais de onde um dia foi expulso. Continua sem eira nem beira, tangendo os seus bois. Deus fala com ele. Ele ouve apenas a sua voz e o segue. É uma relação estreita, forte e fortalecedora. Daquela que sacia. Amós não têm mais fome da Palavra. A Palavra fez nele habitação e o guia.

A profecia do que não é profeta anda a se cumprir e eles continuam sem ver, nem ouvir.