Reflexões sobre o cuidar dos filhos

Reflexões sobre o cuidar dos filhos

Os últimos tempos têm exigido muita reflexão para toda a sociedade brasileira. Constantemente, somos informados pela mídia de tragédias que envolvem as famílias. São pais que agridem os filhos, filhos que matam os pais, numa sucessão de fatos inconcebíveis.

Ao lidar com os jovens, pensemos neles como seres preparados para o amor. São portadores de sentimentos especiais, são receptivos à palavra dos pais e com eles podem manter uma relação sadia, amiga e cuidadosa, se o relacionamento entre pais e filhos for sadio, amigo e cuidadoso.

Educar os filhos é tarefa difícil, mas gratificante. Educar bem os filhos é grave dever. Para isso devem-se os pais pautar suas vidas no exemplo de dignidade, amor ao próximo e a si mesmo e no cultivo das virtudes.

O Concílio Vaticano II diz que “os pais devem cumprir a sua missão com plena responsabilidade humana e cristã e com um compromisso cheio de docilidade para com Deus”. É nessa hora que os pais devem assumir sua paternidade procriadora e assumi-la com responsabilidade e generosidade.

Os pais devem envolver-se dessa missão tão digna que enobrece o espírito e dignifica a vida: a missão da paternidade e da maternidade. Todos nós, como pais cristãos, teremos a incumbência primeira de dar aos nossos filhos uma educação religiosa consistente, ao lado da educação informal, num trabalho de parceria com a escola. Se os pais querem ser amados verdadeiramente pelos seus filhos, devem também dar exemplo desse amor verdadeiro e desinteressado, cujos reflexos vêem-se nos seus atos e palavras.

Como vivemos num mundo de pluralidade cultural, mister se torna uma reflexão mais profunda sobre a educação que os pais dão hoje a seus filhos. A informação chega aos lares de forma acelerada por vários meios de comunicação. O pai e/ou a mãe, ocupados com suas atividades que o mundo moderno exige, não têm muito tempo disponível para filtrar as informações verdadeiras e que possam trazer benefícios aos filhos. Eles ficam submetidos a tudo que recebem pela televisão, pela internet e por outros meios. E a paternidade responsável que se baseia em dar amor e prestar os cuidados essenciais, assumindo os filhos como um todo, não acontece.

Os pais têm compromisso de amor para com seus filhos e ter compromisso de amor significa assumi-los até quando eles estiverem prontos para darem o vôo da águia e enfrentarem o mundo, com toda a problemática que o envolve. Amar os filhos é cuidar bem deles. O cuidado é a exteriorização do amor. Amor verdadeiro, incondicional, comprometido com a vida; um amor que não olhe para as diferenças morais, intelectuais e físicas, mas que considere o ser, numa visão ontológica. Amar os filhos, apesar de seus defeitos, seus vícios e ajudá-los a superar as dificuldades. Isso é forma de externar amor, um amor maior, um amor operativo que se traduz nas obras que os pais realizam a bem de sua prole.

O que vemos hoje? Vemos pais que se eximem da sua missão de educar, ao entregar seus filhos a terceiros, às escolas, como se essas tivessem o papel redentor de curar as feridas, de amenizar as dores, de apagar as marcas de uma estrutura familiar desorganizada e omissa em relação à educação dos seus filhos e à formação do seu caráter.

Se existem problemas com as crianças, em geral, existem pais ausentes que não procuraram sedimentar a personalidade de seus filhos através de bons exemplos, da presença constante, ao externar afeto e ternura. Os desvios surgem, naturalmente, ao longo do caminho e vão deixando cicatrizes numa personalidade que não foi construída com amor e com os cuidados necessários. Quando não são consolidados os valores da vida, as crianças crescem e se transformam em pessoas inseguras que ora dão para um lado, ora para outro. É a personalidade flutuante que acontece com os filhos, cujos pais não souberam discutir limites. Educar é mais que isso. Educar é estabelecer regras, é ajudá-los é externar-lhes um amor exigente que os leve a pensar em sintonia com a verdade, com o bem, com a harmonia de todos, para se chegar à maturidade humana. Esse trabalho exige sensibilidade. A verdade não pode ser imposta, assim como o bem, a harmonia. Eles é que devem buscá-los e discuti-los com os pais.

Educar é, pois, tarefa sagrada. Temos em nossas mãos, sob nossa responsabilidade de pais, o grande compromisso de ensinar coisas belas para vivermos em paz conosco, com nossos filhos e com Deus. Os valores autênticos da vida fundamentam-se em ações que se voltem à felicidade do ser humano, pois vida nutrida nos valores éticos, estéticos e morais será, por certo, uma vida feliz.

Nessa era conturbada por toda espécie de desajustamentos humanos, oriundos dos mais diversos avanços tecnológicos, é de importância vital pensar nas crianças e nos jovens com mais ternura, desvelo, liberdade com responsabilidade para o seu desenvolvimento bio-psico-social.

No passado, os pais impunham a seus filhos os seus pensamentos, as suas vontades, a sua forma de sentir e ver o mundo. Hoje, os pais sabem que eles lutam pela sua liberdade, numa busca de si mesmo e de sua identidade. Eles precisam saber quem são para desenvolver sua auto-cognição, segundo Maurício Knobel. Na adolescência, os jovens recorrem à companhia de outros como reforço da sua identidade, transferindo ao grupo a dependência que mantinha com os pais. Esse é um momento circunstancial que deve ser amparado e entendido pela família.

Devem os pais estar atentos às mudanças trazidas pela pós-modernidade, ao observarem idéias novas que chegam a casa, novos apelos que vêm da sociedade. Nestas horas toda atenção é pouca e o diálogo deve ser constante, respeitando suas vidas. Que a limitação da liberdade seja entendida como algo que aconteça para melhorar a sua vida e não para podar-lhes as idéias, embargar-lhes as emoções, quando elas querem sair para não explodir no peito. Tudo precisa ser explicado de antemão para que os filhos possam compreender que sua “liberdade interior precede a sua liberdade exterior”, que deve ter limites. A liberdade não pode ser dada com isenção total. Aí entra o diálogo como o grande mediador na relação entre pais e filhos que deve ser aberta, terna e afetuosa. Dessa forma, os pais poderão dizer de si mesmos que são os educadores de seus filhos, que os amam e que os vêem como uma graça de Deus.