Frente a frente

Finalmente ali estavam frente a frente: o pedido por misericórdia e a frieza de um não. O seu olhar me implora por piedade, mas é tarde demais, não há espaço em mim para empatia. Não agora. Não aqui.

Mal posso disfarçar a sensação de soberanidade, tendo um homem ajoelhado aos meus pés e uma bela e afiada faca na mão. Ambos estamos com os corações acelerados, suando; mas só eu estou sorrindo. O suor da minha mão vai escorrendo pela lâmina brilhante, e logo vai se misturar ao sangue desse sujeito, desse homem, dese ser humano. Ele sabe que com a mesma mão que seguro a minha faca também seguro a sua vida, ou a sua morte. Ele me fala sobre sua família, sobre a filhinha que acabara de nascer, pede por desculpas, implora um perdão que não terá.

A única réstia de luz desse beco cai exatamente sobre mim, faz me sentir o protagonista, o imbatível. Estamos no clímax de uma cena com final já determinado. A garoa fina não lava a minha alma, nem a deste pedaço de merda indefeso que derrama suas lágrimas aos meus pés. - Este é o seu drama, amigo. E dramas não têm finais felizes. - pensei.

Quando se é criança é perigoso estar com uma faca nas mãos; é um erro. Mas quando se é adulto é ainda mais perigoso.

Finalmente dei um passo a frente. Com a mão esquerda puxei-lhe pelos cabelos, erguendo sua cabeça até que pudesse encontrar seus olhos. Quando o encarei só vi uma coisa: morte.

Ele sabia que a minha única palavra dita seria aquele 'não' de minutos atrás. Senti fogo no meu corpo. Meus músculos se contraíram, e num único movimento lá estava minha faca cravada na lateral do seu pescoço. Sem gritos, sem risos e sem perdão. Apenas o seu sangue imundo sujando a minha face.

- Preciso sair daqui.

William Telles
Enviado por William Telles em 13/03/2010
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