Do coração

Tenho tanta vida no meu riso que às vezes esqueço que tenho vida nas lágrimas, e as acho uma coisa ruim. Tudo que vivi e que me fez chorar lavou a minha alma e me ajudou a não desabar. As feridas podem ser curadas, mas as cicatrizes vão ficar pra lembrar o que eu passei, pra lembrar o que eu venci e lembrar que se não fossem algumas pessoas eu não teria tido força suficiente e não teria acreditado. Fé foi o que eu aprendi ao longo do tempo. Não a fé das religiões de Deus nem fé por segundas intenções. Fé em mim, nas pessoas, no mundo. Acreditar... Já duvidei muito, já me escondi, me camuflei, fingi que não doía e que nunca mais ia doer. Por um tempo acreditei nas minhas mentiras... Coloquei uma máscara bonita, sedutora, despojada e irreverente. Coloquei uma armadura, um batom vermelho e escondi o que mais queria que achassem. Fui levando assim, até perceber que a armadura pesava demais e a máscara sufocava... até perceber que o batom era pra esconder as palavras que eu queria tanto dizer. Já me maltratei emocionalmente e fisicamente, por achar que o resto do mundo ia parar pra me ver, pra me ouvir, mas não. Não há quem goste da voz da dor, dos atos de desespero, dos hematomas da derrota. Um dia percebi que o sorriso atraía mais pessoas, o som da risada fazia o dia mais colorido.

Aprendi que ser leve traz mais coisas boas... e leva as coisas ruins mais facilmente embora. Aprendi que ser interessante depende só do interesse de quem ouve... não importa se fizemos 3 voltas ao redor do mundo ou se fomos no boteco da esquina... o que importa é o céu que fazia aquela noite, o cheiro da minha flor favorita do lado da minha casa... interessante é um olhar, observar a evolução dos sentimentos, o esforço que se faz pra demonstrar carinho quando é tão difícil se entregar. Interessante é um chocolate vindo com uma frase ‘pra ti’ e um sorriso... interessante. Interessantíssimo conhecer uma nova vida, novos lugares, novos amigos, novos sentimentos que fazem o coração disparar do nada e fazer aquele friozinho na barriga. Criar laços é interessante. Criar coragem é interessante. Deixar o coração te levar por caminhos desconhecidos, andar de mãos dadas. Coragem é dizer o que se quer dizer sem tampar os ouvidos pra resposta. Coragem é fazer o que se quer, quando se quer, mesmo quando o que se quer parece idiota aos olhos dos outros. Idiota mesmo é deixar as coisas passarem por medo. Idiota é deixar a insegurança crescer no lugar da confiança, o medo crescer no lugar do carinho. Coragem é escrever um texto como esse, num dia como esse, sem saber o que vem do outro lado... (e o coração fica apertado). Idiota é saber que, com ou sem resposta, meu coração já está entregue. Coragem é saber a hora de ser idiota...

23/03/2010