DO MITO AO DIVINO
 
 
 
Uma sinopse evolucional da idéia sobre Deus.
 
 
 
Bom, sabemos por uma definição científica que, o mito, é uma narrativa de caráter simbólico. Considera-se que esse foi o primeiro caminho de cunho místico que os primeiros homens (Homo Sapiens, talvez até antes deles), nessa ocasião, exerceram de forma ritualística essa expressão mística dentro de suas cavernas. Isso deve ter acontecido quando ainda nem possuíam uma língua organizada ou inteligível, apenas em transe dançando ou sob o efeito de algo psicoativo, grunhiam fonemas ininteligíveis tais como: Ugh... Ugh... Ugh
À medida que o cronômetro evolucional ia picotando a passagem inexorável do tempo, também nesse mesmo interregno a natureza e o meio ambiente por sua vez, também picotavam o inconsciente do recém surgido ser humano. Dessa feita, criando silenciosamente em seu primitivo inconsciente, as primeiras imagens ou figuras arquetípicas que, daí por diante, também iriam sofrer as nuances da incoercível evolução. O inconsciente, também conhecido como a caixa preta do ser humano ou a economia psíquica que, no processo evolutivo arrastou pelo tempo, através de enes gerações, toda a contextura existencial e arquetípica desse ser. E, com esse processo de condução pelo tempo nos fez conhecedores dos mitos, das lendas e das religiões, que também fizeram e ainda estão fazendo parte do processo evolucional do homo.
Esse processo é muito bem entendido por todos os povos, pois em seus livros tidos como sagrados, constam que, o Criador após ter feito o homem a sua imagem e semelhança, proferiu a seguinte sentença: “Crescei e multiplicai-vos”. Bom, hoje, já muito distante da caverna paleolítica e das estepes africanas, nós podemos sem escrúpulos de consciência dizer e substituir o dito do Senhor pelo seguinte: “Evolui e multiplicai-vos”.
Já se disse com muita propriedade que nada na natureza está definitivamente pronto, tudo vai continuar sofrendo mutações evolucionais, não somente as físicas como e principalmente as psíquicas. Pois nunca haverá um chegar, mas sempre haverá um tender ascensional e evolutivo. É a famosa teoria ou elucubração do pré-socrático Heráclito, a do vir-a-ser ou devir. É evidente que somos parte integrante da economia do universo. Pois nele somos considerados singularidades de vida, que estão sujeitas obrigatoriamente à extinção. Isso é a regra. Mas também devemos considerar que a sobrevivência é uma exceção, e que, essa mesma sobrevivência, num futuro não muito distante, quando o ser humano, não só já dominou a terra como profetizaram os livros sagrados, mas também é certo que dominará e administrará o próprio universo que é o seu berço.
Pois é verdade que a nossa volta ou sobre nós, como queiram entender, estão rodopiando a velocidades da luz a nossa origem, ou melhor, a fornalha de elementos químicos que nos deram a vida. Pois é claro que somos feitos de material estelar. Nesse processo todo, a humanidade ávida por evoluir, inteligiu e, conseqüentemente criou os mitos, as lendas e as religiões, com o fito de falar e pretender conhecer o grande desconhecido. Umas das primeiras manifestações do ser humano primitivo para entender o sopro ou o entusiasmo místico que lhes criavam os deslumbramentos foi, sem dúvidas, através do TOTEMISMO.
Totem, conforme o dicionário Aurélio é: “Ser vivo, fenômeno natural ou objeto em relação ao qual, em certos povos, um grupo ou subgrupo social tem uma relação simbólica especial, que envolve crenças e práticas específicas (por ex., considerá-lo como um ancestral ou protetor e cumprir certas obrigações para com ele)” Isso quer dizer que, esse Totem era cultuado numa manifestação simbólica e mística e com uma reverência respeitosa exercida como coisa sagrada. Na verdade, era um conjunto de idéias e práticas baseadas na crença e num parentesco místico entre os homens e animais, plantas, objetos ou fenômenos naturais, que passavam a constituir o totem.
Essa manifestação mística simbólica foi observada em todos os povos primitivos da Austrália, da África, da Europa e do Oriente, assim como também foi muito observada e estudada nas Américas. O totemismo foi por muito tempo cultuado pelos índios norte- americanos, pelos Astecas, pelos Incas e pelos Maias. Cada cultura, segundo a sua organização sociológica adotava o seu Totem. Inclusive, havia quem adotasse até um animal feroz e de difícil captura. Outros adotavam até árvores, rios e montanhas. Havia uma cultura primitiva que adotava para cultuar como Totem os seus antepassados. Tem-se conhecimento de que até certas crianças eram cultuadas como Totem, em virtude de se assemelharem a um antepassado Totem. Era o Totem redivivo. É lógico que esse processo simbólico e místico permaneceu por muitos anos, milhares até, como Totens sagrados, objetos, animais, coisas e o próprio semelhante, que eram cultuados e reverenciados num tipo de religião primitiva.
Com o tempo, a necessidade grupal e mística de um Totem, foi sendo refinada e substituída por um processo seletivo de idéias que naturalmente desembocou no ANIMISMO. Para os animistas dessa época histórica, note-se que não estamos falando do “animismo espírita”, o homem primitivo, mas já um novato intelectivo, passou a acreditar que tudo na natureza possuía alma. Os rios, os animais, as árvores, o sol, a lua, o mar, as estrelas e a própria terra. Assim como também os fenômenos naturais, tais como: chuva, tempestade, dia e noite. Esse elenco de fenômenos e coisas tinha alma e, por isso, passaram a serem objetos de culto e adoração.
É verdade que estamos passando ligeiramente por cada corrente ou idéia simbólica e mística, haja vista o grande contencioso que teríamos de nos debruçar por páginas e páginas. Seria uma longa explanação. Deve-se observar que estamos oferecendo apenas uma sinopse, para elucidar como o homem partiu do mito para chegar ao divino. É bom que se esclareça que, esse foi um processo que evoluiu em paralelo com o crescimento intelectivo do homem, rumo ao infinito do saber. É natural no ser humano a tendência ao refinamento do saber, por isso, ele ainda se encontra na auto-estrada evolutiva, donde partiu há milênios do marco zero: O mito.
A expressão “Panteísmo deriva do grego ‘pan’, que tem o sentido de ‘tudo’; e de ‘theos’, que significa ‘Deus’. Desta forma este termo se traduz aproximadamente por ‘tudo é Deus’. Segundo esta doutrina, Deus está presente em todo o Universo, em cada elemento; ela defende igualmente a existência de várias divindades ligadas aos mais variados componentes da Natureza. - Fonte: Wikipédia. - É fácil de conferir que, o Panteísmo levou o homem ligeiramente ao Politeísmo. Depreende-se desse processo que Deus é uma idéia, que, aos poucos”, vai sendo elaborada, cada vez mais com um maior refinamento, segundo a evolução e a necessidade intelectual do homem que sofre os processos naturais dessa mesma evolução.
Nesse estágio evolutivo o homem passa a ver Deus em tudo, para, logo em seguida, criar Deuses conforme as suas necessidades culturais e subjetivas. A humanidade viveu por muitos séculos, abraçada aos seus Deuses. Havia uma profusão de Deuses, os Deuses eram um produto da imaginação, da cultura e das necessidades de um ser tido como racional que evoluía. Particularmente, o homem passa, inclusive, a adorar um Deus somente nas dependências da sua família, era o Deus doméstico ou caseiro.
Essa crença em vários Deuses e num Deus doméstico, segundo a Bíblia, também vicejava no sul da Caldéia. (hoje Iraque) Lá da cidade de Ur no sul do hoje Iraque, cansado de muitos Deuses, um distinto cidadão de nome Abraão, hoje muito conhecido pelos Judeus, inteligiu ou imaginou a existência de um único Deus. Muito embora, a Bíblia, a história ou o mito conservado até hoje, nos diz que foi Deus que se manifestou a Abraão, pelo sim ou pelo não, os judeus a partir do seu Patriarca passaram a adotar e a acreditar no único Deus, também conhecido como pensamento MONOTEÍSTA ou propriamente dito a corrente do MONOTEÍSMO.
O monoteísmo de Abraão prosseguiu como crença através de Isaac, Jacó, para desaguar em Moisés, um suposto e revoltado príncipe egípcio. Este organizou e estruturou o povo judaico tirado da escravidão, dando-lhe leis e mandamentos (10 Mandamentos), que segundo o próprio Moisés foi dado pelo próprio Deus. Daí em diante, o povo judeu passa a ser o povo escolhido por Deus e, com ele, Deus estabelece acordos (alianças) e promessas. Esse período passou a ser conhecido por nós como o período do “Deus Mosaico”. Na verdade, nessa fase do Deus Mosaico passou-se a conhecer um Deus violento, vingativo, belicoso e que sempre estava de mau humor com o seu povo, que outrora fora escolhido como predileto conforme a Bíblia.
O prosseguimento da história, eu quero crer que todos conhecem, até que, no ano I da nossa era, nasce um profeta que dizem os cristãos ser filho de Deus. E que, mansamente, vem nos trazer outra idéia de Deus, totalmente diferenciada daquela de Moisés. Jesus, tido para os cristãos por força da fé como filho de Deus, intuiu ou tinha a certeza em sua mente profética que o Deus tão temido pelos judeus, era e é na verdade, um Deus bondoso, misericordioso, puro amor. E que, esse Deus estava de forma presente em nós, quero dizer: Imanente. Foi exatamente isso que Jesus, o Nazareno, nos passou com as seguintes sentenças: “O reino de Deus está dentro de vós, Lucas 17:20-21. Portanto não busqueis aqui ou acolá. “Vós sois templos vivos de Deus”. Coríntios 6:16.
Nada é mais esclarecedor do que isso, mas o catolicismo pós Constantino, preferiu humanizar Deus e torná-lo transcendente, isto é, torná-lo totalmente impossível e inalcançável. É lógico que entendemos muito bem o que foi realizado no Concílio de Nicéia. Quando era Constantino que ditava e exigia as mudanças, para que ele mesmo satisfizesse as suas ambições políticas e, o próprio clero intimidado, também pudesse acomodar os seus interesses eclesiásticos que não eram poucos.
Em suma, podemos observar que os seres humanos, em sua marcha evolucional desde os primórdios e através dos mitos, das crenças e das religiões, foram conforme o seu estágio evolutivo e as suas necessidades subjetivas, refinando o seu entendimento a respeito da idéia de Deus. Para, atualmente, já perceber um Deus conforme Jesus havia dito. A imanência é um conceito religioso e metafísico que defende a existência de um ser supremo e divino (ou força) dentro do mundo físico.
Entretanto, agora, depois de uma caminhada de alguns milhares de anos, sempre tendendo a uma incansável evolução ascensional, chegarmos a um porto mais seguro conhecido pelo Deus psíquico. O Deus imanente em nós ou o Deus arquetípico que sempre fez morada em nós. Somente agora nós podemos acessá-lo livremente, sem os ditames das religiões tendenciosas, pois já somos menos tardos de compreensão. Lembre-se que Jesus já havia alertados os seus apóstolos da compreensão tardia, na verdade, da ignorância em aceitar o Deus em si mesmo. “Vós sois deuses e filhos do Altíssimo, todos vós podeis fazer tudo o que faço e muito mais". Salmo Davi (82; 6). João 14:12 e 10:34
Apesar de toda a evolução e a conseqüente abertura intelectual do ser humano, juntando-se também a isso, o conceito oriental e muito conhecido pelo ocidente da imanência de Deus no ser humano. Assim, é com muito pesar que ainda estejamos notando certa arrogância do poder eclesiástico em continuar antropoformizando Deus. Com isso, fazendo com que os seus fiéis, (cristãos) tenham fé em um Deus transcendente, residindo num reino em uma latitude astronômica qualquer, totalmente fora do nosso alcance.
Entende-se que o poder eclesiástico, com essa teologia blandiciosa e tendenciosa, pretende continuar pelos séculos futuros a ser o único intermediário entre Deus e os homens. Tudo o que for bom para o poder eclesiástico será admitido in Eclésia e o que não for bom, será considerado anátema. Aqui nessa última sentença, sente-se o cheiro da arrogância milenar do Bispo Agostinho de Hipona ou Cartago.
No ocidente, os cristãos, silenciosamente caminham aceitando a imanência, o Deus presente em nós, como o próprio Jesus já havia profetizado. É lógico que ainda se submetem aos seus cleros, por uma questão de hábito e tradição. A natureza não dá saltos, por isso levamos milhares de anos, desde as primeiras cavernas na África com os seus mitos e os seus totens, até chegarmos ao presente estágio com a nova aurora do Deus Psíquico. Aqui estamos nos referindo à “imago dei” de Carl Gustav Jung. Mesmo assim, eu acho que nós, durante o processo evolutivo, arrastamos pelo tempo os totens. Pois ainda hoje erigimos no alto das montanhas, nos logradouros públicos, na entrada das cidades e em diversos lugares, com certa prioridade em certos templos, e que são adorados ou venerados como verdadeiros totens de concreto armado ou de gesso. Entretanto, já sentimos uma imanência real, que está desembocando no homem intuitivo, para um dia, galgarmos com um maior refinamento a idéia de Deus, até as profundezas infinitas do oceano cósmico.