Sobre Escrever

Apenas fluxo de Consciência. Nada mais.( N.A. )

Nada de glamoroso nessa vida maldita de escrever.

Para escrever você precisa de dez por cento de inspiração e o restante de pura transpiração. Labor braçal, pressão psicologia e vícios múltiplos. Cigarros, muitos cigarros tragados. E a bebida, então? Tem gente que prefere café e aí os seus contos, crônicas, poemas e qualquer coisa que essa escumalha tente escreve ficha chato e pretensioso. Café não combina com escrita. Não para mim. Prefiro bebida. Muitas cervejas. Cinco, seis, oito. Assim você pira de verdade. Assim você entra naquele estado total de torpor que você se cala e fica observando ao seu redor. Outra coisa para mim é rua. Vejo zumbis por onde quer que eu vá. Vejo vidas vazias. Vejo pessoas que mais se parecem com postes e que tem a mesma atitude. Talvez eu possa dar um pouco de ânimo nesse bando de “casas vazias” sem nada a oferecer a não ser medo e arrogância. Não pretendo com isso dizer que sua superior. Muito pelo contrário. Escrevo apenas para corrigir uma velha deficiência minha que dizem se chamar compaixão. Mas eu não compreendo essa dita compaixão. Na verdade as pessoas reais (eu disse reais?) que transporto de sua existência medíocre para a tela em branco do computador são os maiores cães sarnentos que possam existir. Eles já perderam a condição humano a muito tempo á guisa de suas ambições limitadas, da sua arrogância fingida e de suas crenças absurdas. A humanidade não tem salvação. Ou melhor, a humanidade não quer salvação. Salvação é abdicar de tudo que foi ensinado desde que você estava nadando e com guelras dentro da pança da sua mãe. E isso dá muito trabalho. O ser humano não quer se dar ao trabalho de olhar no espelho pela manhã e chegar a conclusão de não passa de um merda e que deus não existe e que ele não vai para lugar algum quando findar seu tempo nessa dimensão confusa. Isso seria o fim. Acabam-se as ilusões e o que nos resta? A vida real. Pura e simplesmente a vida real sem realces ou retoques em tons pastel. Você acha que o ser humano agüenta? Nem com Prozac aplicado diretamente na jugular do cidadão.

Por isso eu escrevo. Essa pode soar apenas uma justificativa vã da minha parte. Pode parecer que eu me importo com o universo em meu redor. Pode parecer que eu me importo com o que você – incauto leitor que por acaso começou a olhar esse texto – pensa. De boa fé. Realmente não me importo com o que você pensa. É isso aí. Pode parecer duro e vaidoso de minha parte, mas não é. Eu lhe digo novamente de boa fé. O que você pensa, o que você veste, quais são seus programas preferidos, qual é o único livro do Paulo Coelho que você consegui ler sem achar muito complexo, o que você faz, qual é o sobrenome da sua família, como seu pai lhe educou ou onde você estudou no primário realmente não me interessa. Se alguém disser que eu escrevo muito bem isso para mim não é um elogio. Pelo contrário. Continuo martelando incessantemente essas teclas porque as pessoas costumam mentir para mim dizendo que sou bom escritor. Bom escritor é Oscar Wilde. Talvez só ele. Escritor honesto é o “Gonzo” Hunter Thompson e o Sallingher que escreveu dois Best Sellers e virou recluso para viver exatamente à sua maneira. Gosto de sentir o uísque me pegando bem no meio da cabeça. Gosto de ver a imagem das pessoas se desfazendo de todas as suas defesas na minha frente. Gosto de plantar dúvidas. Gosto de semear ventos. O que colho são apenas tempestades. Já me acostumei com isso. Com energia negativa demais sendo dirigida a minha pessoa porque não sei fingir ser uma coisa que não sou. Tenho quatro vértebras da coluna seriamente danificadas e lesionadas porque não sei agir dessa forma atabalhoada que vejo os “cidadãos de bem” agirem pelas ruas do mundo afora. Porque não consigo me imaginar guiando um carro veloz de um valor que eu não posso nem pensar e ainda assim me sentindo realizado. Não sou um hippie velho. Muito menos um asceta, um monge, um iluminado. Não sou da nova era. Minha meditação é silenciosa e solitária. Minha crença eterna é a de que dias piores virão. Meu ato de escrever apenas um brutal estupro contra essa ordem vigente que glorifica o consumismo e o tédio e a rotina. Quantas pessoas você conhece que já ouviu MÚSICA na vida? Pode te responder com o coração aberto e com toda pureza de minh’alma: Pouquíssimas. Conheço algumas e não enchem os dedos de uma mão. O que a alma morta e comum escuta são apenas um ruído sem sentido sobre uma batida descompassada. Já ouvi isso demais vazando pelos “potentes” sistemas de som de seus carros do ano. Aquilo não me diz nada. Somente vou seguindo meu caminho balançando a cabeça com as composições que brotam do meu cérebro. Já tentou fazer isso? Nem tente. Leva tempo e necessita de total empenho. Coisa que você não tem porque ainda vai a igreja, acredita num ser barbudo que mora e fica sentado no céu e ainda tem preconceito por raça, cor, credo e ideologia. Não tente. Não quero ninguém dizendo que o degas aqui é responsável por internações em massa em estabelecimentos psiquiátricos. Para as pessoas comuns e banais que “não incomodam ninguém” e que vejo por todos os lugares aos magotes como moscas sobre a merda recomendo apenas o velho “método Kurt Cobain”. Ou Hemingway, se você for daqueles que dança balé sozinho diante do espelho vestido em espartilhos e com as persianas fechadas. Não acho que a vida humana valha alguma coisa. E quanto mais leio e escrevo vou nivelando o serzinho cada vez mais para baixo. É extenuante esse ato. Às vezes ele parece o amor físico. Em outras nada mais que sessão de tortura. Com esses humildes contos apenas tento traçar um perfil de época conturbada em que vivo. De uma época cada minuto mais fútil, caótica e materialista e com pretensões de pós-moderno. Entro nas lojas como um zumbi e tudo que vejo ao meu redor para mim não passam de lixo. Todas as roupas parecem ser desenhadas por imbecis para imbecis. Eletrônicos me dão engulhos. Celulares, ojeriza. Acabei me desapegando mesmo sem querer. Meu pesado corpo dolorido vai virar cinzas depois desaparecer no vento. Já tomei as providências legais para isso.Meu parcos bem terrenos serão doados ou vendidos para um sebo qualquer por qualquer trocado que queiram pagar. Não consigo entrar num cinema e compartilhar minhas emoções com as pessoas, principalmente quando essas estão adestradas para rir na hora errada e chorar na mais errada ainda. Arremedos de emoções. Somos apenas replicantes. Replicamos as emoções que achamos ter, mas apenas endurecemos sem nenhuma sabedoria por debaixo de nossas carapaças de pura matéria orgânica, ossos, sangue e dor. Nem a dor é autêntica. Apenas uma pseudo dor. Um pseudo estado de ser. Não sou de ficar me lamuriando. Pode parecer que esse inocente texto é uma lamuria, porém se você interpretar assim você não sabe ler nas entrelinhas que é o que realmente conta. O melhor da historia foi o que ficou de fora. Que dúvida. Não vou ficar enumerando novamente o número de imbecis, broncos, rudes, mal-educados, mal-agradecidos, mal-amados, mal-fodidos, mal informados, malas sem alça, malacos e malandros agulhas que ficam me vigiando e me espreitando todos os dias porque já fiz isso aqui e seria chover no molhado e gastar espaço precioso na rede. Ou quem sabe em impresso. Para mim não é doloroso escrever. Doloroso é quando termino o escrito e fica o dito pelo não dito. Ficção ou realidade? Apenas um delírio de uma mente ligeiramente doentia ou uma psicopatia realmente não tratada e de muita gravidade? Apenas um recurso estilístico ou fantasias perniciosas de um viciado em drogas perigosas? Um louco prestes a ser amarrado em uma camisa de força e jogado na sala acolchoada babando torazina ou apenas um jovem senhor que achou seu nicho e seu público. Um visionário ou apenas um borra-botas qualquer com pretensões literárias menos nobres? Um mártir que luta pela sinceridade de sua obra ou apenas outro aproveitador no vácuo da ignorância do homem médio? Nenhuma constatação de fato. Apenas escrevo para não enlouquecer. E escrevendo fica difícil. Que diga sem escrever...

Geraldo Topera
Enviado por Geraldo Topera em 13/09/2010
Código do texto: T2495605
Copyright © 2010. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.