A Virtude da Esperança

Esperança é o dom de quem sabe esperar da maneira correta... Essa seria uma definição um tanto mais sugestiva. Por uma razão simples: Os homens, via de regra, carregam dentro de si um quê de sentimento imaturo, não ponderado, em outras palavras, tratado da maneira errada.

Quando era menor, nos dias de comemoração das minhas primaveras, então a esperança ficava entre o embrulho de papel e o presente almejado. Não raro, a decepção de ganhar uma camiseta se ancorava ao desejo de ter ganhado o brinquedo que outras crianças possuíam. Felizmente, pude compreender uma essência que vai muito além, que é muito mais do que isso, não de somente comemorarmos primaveras, mas também comemorarmos invernos e de esperarmos “além do embrulho”.

Outrossim, é, senão a maior, uma das mais distintas virtudes que alguém pode ter. É melhor que otimismo: Ter otimismo é quando eu acredito que nada irá falhar... Ter esperança é quando tudo falha e eu ainda acredito. É de igual forma maior que a coragem: Ter coragem é quando não tenho medo de lutar... Esperança, quando não tenho medo de perder. É mais excelente que a alegria: Ser alegre é “estar” folgado em virtude de algo. Ser esperançoso é “ser” folgado em virtude de nada. Muito mais profunda que a paz: Sentir paz é sentir ausência de guerras... Sentir esperança é gozar em meio às guerras. Mais gratificante que a saudade: Com a saudade a mente lembra e o coração padece... Com a esperança o coração lembra e a alma descansa confiadamente.

Na verdade, ela é a força motriz dos outros sentimentos, impulsionando homens a serem incoerentes (sim, incoerentes!), a acreditarem no que não se vê, a prosseguirem quando não há uma estrada, a dormirem nas tempestades e a lutarem por causas perdidas.

Através da “esperança” Deus “espera” que o homem creia nEle. Foi para suscitar essa nobre paroxítona que quando o povo de Israel se encurralou ante ao Mar Vermelho Deus disse a Moisés: Diga ao povo que marche! Foi Cristo quem dormiu no barco durante a tempestade do mar da Galiléia. Também com esperança o Messias lutou por uma causa perdida (eu e você) e desfez com Seu próprio sangue o império da morte e do pecado. Eis quatro boas razões para se defender uma palavra que exprime um dom tão inefável.

Não me asseguro de que tal dom tenha a sua bastante eficiência para resolver todos os problemas que enfrentamos, passíveis a qualquer ser humano. O que não significa que não resolva outros de importância tanto mais substantiva, alojados dentro de nós mesmos, nos levando a uma concreta superação.

É a tal da esperança que traz o encanto da vida, ou melhor, o tempero da vida, como a paixão inexplicável do poeta ao subverter até mesmo as coisas más em bons versos. Ousar se valer desse tempero equivale a viver um caso de amor com a própria vida (pense nisso). O tempero que se torna amável para aqueles que o rodeiam, que distribui o bem sem olhar a quem. Torna-se cativante, transformador de uma realidade virtual, transformador de uma sociedade desesperançada e que possui um coração de pedra, afetada pela Síndrome de Gabriela e por tantos males quanto possam existir.

A breve conclusão a que chego se torna, enfim, um apelo: Seja incoerente de vez em quando, roube alguns beijos que a vida insiste em sonegar, espere da maneira correta e seja virtuoso... Tenha esperança.

Edmond Conrado de Albuquerque
Enviado por Edmond Conrado de Albuquerque em 10/10/2010
Reeditado em 10/10/2010
Código do texto: T2548153
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