CLAUSURAS

Clausura 1: Numa sociedade capitalista, os parâmetros comparativos revelam ao homem que ele é forte na proporção dos objetos e pessoas que domina, independente da qualidade (porque esta palavra implica em valor pessoal), mas diretamente condicionada à quantidade em potencial produtivo desses “objetos pessoais”, assegurados por lei como patrimônio.

Clausura 2: As diferentes respostas possíveis para uma determinada questão, só podem ser entendidas se condicionadas às diferentes situações em que os homens se inserem e aos diversos estágios de valores com os quais a humanidade se con(funde) ao nível da precariedade de certezas (que desmentem sua própria natureza por serem específicas), mas que, no entanto, cumprem um papel mantenedor do equilíbrio humano, que em si, anseia pelo absoluto de sua verdade.

Clausura 3: Nenhuma verdade pode ser estabelecida fora do contexto em que é enfocada e para transcender esse contexto (significa ter aceitação para um bando de pessoas) uma verdade deve projetar a condição humana nivelada por baixo, ou seja, tomada em seus aspectos comuns. Subsidiada pela dúvida e consolidada pela submissão ao medo.

Clausura 4: O campo de ação de determinada força social está limitado aos elementos que a ela estão sujeitos e toda sociedade se baseia na igualdade aparente (mas imposta como dogma para aniquilar qualquer questionamento ou no mínimo não permitir que ele exceda o máximo de estar contido no cérebro de alguém) dos indivíduos que a compõe. Assim, as leis e os costumes determinam em grau o limite de suportação coletiva a partir dos indivíduos tomados em bloco e desprezados como unidades distintas.

Clausura 5: Tomados no sentido de uma observação abrangente e imparcial, todos os valores são absurdos em si mesmos e só podem vigorar e ter validade lógica num esquema social que lhes dê sustentação.

Clausura 6: Não se pode compartilhar certezas se estas não forem entre adeptos de uma busca comum. Uma vez que, somente se houver mais de uma pessoa concordante (cúmplice) é que se estabelecem verdades entre elas. O comum da causa catalisa o absurdo dos meios e os justificam.

Clausura 7: Todas as clausuras acima são “solitárias”. Não há ligação e nem comunicabilidade possível entre elas. Isto significa que nada vale nada uma vez que o todo é restrito. Mantenha as grades fechadas.

(publicado como editorial no Jornal Espaço Aberto nº 05 em Agosto1985 e como texto no Jornal Arte Risco nº 00 em Abril/1987, Juiz de Fora/MG).

Milton Rezende
Enviado por Milton Rezende em 05/12/2010
Reeditado em 05/12/2010
Código do texto: T2654682
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