Anticultura

Sobre a análise filosófico-exegética do conceito de "sexualidade cultural"

1.2: Primeiro Desdobramento da tese pseudo-biológica da inter-sexualidade: Consequencias Lógicas.

(...) e então, a maçã apodreceu, as flores murcharam, a inocência revelou-se astúcia, todas as Santas foram corrompidas e, principalmente, todas as cartas estavam marcadas...

(em meio a um gotejar asqueroso por entre pernas que teimavam em fechar-se sobre si mesmas, com falso pudor; em meio, também, a um terrível e pungente cheiro de baixeza)

por que estavam a gritar e a se rasgar, em fúria? mas elas não sangravam... algo absurdo e perturbador. o que havia acontecido com sua cor? onde estava seu vermelho?

(em meio a gritos e escárnios enlouquecidos de desejo, e jogos sujos e languidez afetada)

(...) de repente (era sempre tão súbito como o azul de um relâmpago), conseguira compreender! é claro! não se podia mais enxergar aquela matiz. não se podia mais, nem em uma eternidade. nem na boca e nem no sangue imundo. porque ela nunca havia existido.

e então, não havia mais motivos para falsidades e ilusões: o que eram aquelas marionetes, senão um teatro sem cor e mesmo sem fios?

(correra. enfim a liberdade... a porta foi fechada com pressa. então sentiu náuseas, e vomitou numa sarjeta imaginária as carícias e os beijos descoloridos)

(Isabel Estrêla - "Anticultura", cap 2, pp. 71-3)