RECADOS SOMBRIOS DO ALÉM - O MEDO - Capítulo I - O RENASCIMENTO

RECADOS SOMBRIOS DO ALÉM - O MEDO Sérgio Portugal 15-janeiro-2011 03:20

Capítulo I - O RENASCIMENTO

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Pois é... a verdade é que mesmo aguardando suas estórias, não as consegui observar... tenho plena certeza que as escreveram, porém... infelizmente não me alcançaram... bem... é realmente muito difícil observar de fato alguma coisa terrena daqui...

Mas o pior de tudo... dos medos, meu mais antagonizante... acabei de ser informado (muuuuiiiiito a contragosto) que me faltam apenas cinco dias até meu novo renascimento...

Ironia maior... ainda que eu venha a estar em breve no plano de suas estórias, levarei anos até encontrá-las e reconhecê-las como respostas a meu desafio...

Maldito ciclo de vida...

E agora... que fazer para evitar o inevitável... ainda sinto aquele rastro de permanência do pavor de meu último nascimento em minha nuca...é horrível saber que terei de viver novamente todo aquele interminável amargo sabor do medo que vivi naquela minha última primeira prisão...

Lembro sem nenhum prazer que ali se dera o inicio de todos os meus medos... medos que me vieram tão fortes quanto (ou mais que) aqueles que eu mesmo sabia contrariadamente impingir aos que me amavam incondicionalmente...

Me recordo de forma detalhada suas maiores dúvidas... viria eu a ser um “ser perfeito”??? ao que me lembro, esse era (em minha leitura à época) talvez o seu maior medo... ao menos, enclausurado, assim era o que eu conseguia perceber... e eu nem sabia o que seria ser um “ser perfeito” realmente... mas já sabia que certamente eu jamais corresponderia tais expectativas, dado minhas (por mim) já sabidas falhas mentais ventrais...

Fato é que, contrapondo todos os anseios e energias benéficas que entendia me chegarem, lembro com horror e muito bem (e em “cores vivas”) do escuro pleno quando desse início de minha última encarnação passada... sabia não ser cego, mas nada enxergava... ao menos nada além do que é possível enxergar a partir do tato... me entendia preso em mim mesmo... cego sem ser cego... num mundo pequeno e frágil, onde toda e qualquer ação minha era praticamente totalmente dependente de outrem... minha ação maior e mais constante e plena era a de agressão àquelas paredes que me prendiam e me escravizavam... interessante notar que a correspondência externa que me chegava em resposta era, incrivelmente, por mim percebida como “ondas de prazer”... como um absurdo ato “sadomasoquista” potencializando minhas agressões...

Me restara ali apenas e tão somente uma total sensação de tolhimento de toda e qualquer ação libertária possível e imaginável, tal minha factual incapacidade de libertação... eu nada podia fazer, além de me sentir um total inapto para mudar aquele cenário sombrio...

Minha sensação de liberdade era apenas um sonho a se realizar... num futuro distante... num tempo que me era completamente desconhecido, que me cabia apenas aguardar, vivenciando uma situação de algo inalcançável... e eu assim seguiria ainda por muito tempo, sem ter sequer a certeza de meu próprio nascimento... vivendo apenas o seu “talvez”...

Bem... é assim que termino meu relato desse meu primeiro infeliz encontro (deixo a vocês a visão de sequência dessa minha saga)... dessa minha primeira insuportável e longa experiência... desse meu primeiro jugo a esse que seria por tanto tempo meu maior algoz (e que me perseguiria por toda uma inteira existência minha - e que depois descobri que... inclusive... além desta)...

O MEDO...

(aqui... rezo pela impermanência de suas lembranças... o que, lamentavelmente, eu, não tive a sorte de ter tido o merecimento de ter)...