Solidão



Solidão em uma mente que evoluiu para conviver com demais humanos.
 
Acredito que não mais existam pensadores que ainda hoje ponham em duvidas que a mente do homem evoluiu para um ser social.
 
Eu pessoalmente entendo que somos geneticamente pré-programados para conviver em grupos. Nossa evolução desde a fase pré hominídeos foi muito árdua. Vivemos em grupos pequenos onde a convivência era uma arma a favor da sobrevivência e da perpetuação daquele conjunto genético de cada grupo.
 
Nascemos prematuros, foi uma necessidade da evolução para uma massa cerebral maior. Tivemos que nascer prematuros, ou não teríamos como elevar o volume cerebral. Se não nascêssemos prematuramente não haveria como nascermos de parto natural. Este fato por si só, o nascimento prematuro, levou a necessidade de que existisse uma tendência natural/mental de que convivêssemos em grupos para que estas crianças e suas mães pudessem sobreviver, uma vez que o tempo de maturação e independência destas mesmas crianças e suas mães era muito longo.
 
A convivência em pequenas comunidades tribais/patriarcais possibilitou indiretamente o aumento do volume de nossa massa cerebral, e em paralelo a evolução foi nos moldando a sermos seres sociais. Estas comunidades, ainda tribais, se auto ajudavam e assim nossa sobrevivência e perpetuação foi garantida. Esta união ganha poder sinérgico e assim pudemos chegar até aqui, sobrevivendo a todo o difícil e tormentoso passado de nossos mais de seis milhões de anos. Neste período a evolução teve tempo de nos levar a espécimes mais bem ajustadas a sobrevivência em coletividade.
 
O problema, a meu ver, é que a cerca de quinze mil anos, ou um pouco mais, deixamos de ser nômades, o que implicava em comunidades menores, e passamos a viver de forma sedentária, nos localizando fisicamente em áreas mais férteis, e desta forma as pequenas comunidades tribais explodiram em cada vez maiores comunidades. Neste momento perdemos nossa importância relativa e passamos a ser apenas mais um, assim, acabamos segregando estas grandes sociedades e criamos sempre grupos menores aos quais nos apegamos como uma fuga para encontrar aquela sensação de sermos socialmente relacionados. Mesmo assim, a dinâmica, a pressa e a “emergencialidade” do mundo que nós mesmos criamos nos leva cada vez mais a sermos ilhas solitárias em plena convivência social. Aos poucos nem mesmo nossos visinhos passam a ser vistos como comunidade e sim apenas como pessoas que por fatalidade moram perto de nós. A própria mobilidade geográfica nos leva a termos cada vez mais diferentes visinhos ao nosso redor, e assim nós vamos nos tornando cada vez mais frios e insensíveis para com esta mesma sociedade em que mentalmente estávamos preparados para viver socialmente.
 
Esta dicotomia, a necessidade mental de sermos seres sociais e a realidade de sermos cada vez mais indiferentes com os que nos cercam, uma vez que mesmo nossas famílias vão sendo paulatinamente separadas pela necessidade de muitas vezes nos mudarmos para locais mais distantes de nossos familiares, nos leva a um problema existencial. Necessito ser social, necessito de laços e de relacionamentos e me vejo obrigado a viver solitariamente.
 
Ser solitários é uma contingência natural para mim, necessitamos reaprender a conviver e a saber que somos solitários, mas que não perdemos jamais a responsabilidade social sobre nossos atos.
 
Felizes daqueles que aprendem a ser humanamente solitários, sendo socialmente responsáveis e humanitariamente ativos. Felizes os que ainda tem verdadeiros amigos, próximos o bastante para manterem a necessidade mental dos laços de relacionamentos sociais.
 
Somos humanos, então somos seres sociais que necessitam a aprender a não abrir mão de sua necessidade social, mas viver de forma solitária, tendo sempre em mente que somos responsáveis socialmente pelos nossos atos.


Arlindo Tavares
Enviado por Arlindo Tavares em 15/03/2011
Código do texto: T2850122
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