A observância das leis crísticas é sempre bumerangue, reflexiva e expansiva, numa espécie de efeito dominó, reação em cadeia, bola de neve ou efeito borboleta circular. Uma simples ajuda individual aqui e agora pode desencadear uma sequência de ações boas que vão se multiplicar em outras ações boas, ao ponto de toda uma comunidade, sociedade, nação ou o mundo inteiro se transformar para melhor. O próprio primeiro iniciador da ação primária vai receber o retorno de todo o efeito, direta ou indiretamente. No mínimo, vai viver melhor e ser mais feliz no endereço completo em que vive, a saber: complexo de eus (corpos físicos e sutis (incluindo a aura)), espaço residencial, rua ou estrada, bairro ou vila, cidade ou povoado, município, estado ou província, região, país, continente, planeta, sistema, constelação, galáxia e todo o Universo.
O dificultador maior às vezes é seguir a mensagem crística por entre os vagalhões oceânicos e entre espinhosas veredas cheias de interpretações ideológicas, sinais de trânsito enganadores, mistérios, carências, limitações, ilusões e outros quejandos típicos da nossa condição de seres humanos navegadores e caçadores de si mesmos.
Precisamos de algumas âncoras, sextantes, faróis e bússolas, para não ficarmos à deriva no mar das ideologias, embora esses próprios equipamentos de navegação sejam ideologemas. E como há ideologias neste mundo! Muitas delas, embora sobre bases totalmente falsas, são construídas de forma tão detalhada e convincente que ilude milhões de pessoas durante longos anos, camuflados sob textos aparentemente sensatos e inteligentes.
. Quando a verdade aparece e desmascara a inteligentemente bem montada ilusão, o estrago no corpo social já deixou sequelas de demorada reconstrução, enquanto os responsáveis pela “falsidade ideológica” se mandam com as burras apinhadas de tutu. O problema é que às vezes o joio se parece tão bem com o trigo, que dificulta sua distinção a olho nu. Isso depende muito do dom de raciocinar criticamente ou do tempo.
Há muitos textos circulando por aí, de autoria de supostos bons velhinhos ou velhinhas, dando lições de alegria, de paz, de otimismo e de outros valores reunidos como segredos da boa vida. Devemos, contudo, ler com alguma criticidade esse material superabundante e superotimista. Muitos desses textos impressionáveis e imprimíveis não passam de discursos hedonistas camuflados, ainda que exortando o mais sutil dos egoísmos: a espiritualização, a evolução a um, a purificação pelo afastamento das pessoas humanas envolvidas em interesses terrenais e em sofrimentos.
Normalmente, a maioria das mensagens-correntes autoestimativas que circulam na internet e na televisão valoriza mesmo é o “carpe diem” emocional. Estimula o fazer tudo que se quer agora no campo dos prazeres exclusivamente hedônicos, como viajar, cuidar fanaticamente da aparência, cercar rigidamente o patrimônio familiar... Estimula o ser extasiantemente feliz, a curtir cada minuto da vida com banalidades e frivolidades desviantes do essencial da vida, enquanto se tem fichas de energia vital e do cartão de crédito para gastar. Quase sempre não estimula a responsabilização com o futuro e com um presente mais compatível com as vontades de Deus para cada um de nós aqui na Terra, especialmente aquela relacionada ao amor fraterno e solidário. Enquanto isso, as sarjetas multiformes andam cada vez mais apinhadas, principalmente a sarjeta do egoísmo e do egocentrismo, inclusive dentro de fortalezas eclesiásticas.
Muitos dos aparentemente sábios e vetustos conselheiros de mensagens inspiradoras (em verdade, garotos-propaganda de interesses mercadológicos) nem existem. Tratam-se de textos artificialmente montados.
São uma verdadeira colcha de retalhos autoajudísticos, cuja observância plena é impossível. Esquecem mesmo é que Jesus veio para viver no meio social mais carente e curar primordialmente os imperfeitos e os pobres, entre os quais os de espírito e, inclusive, os que, dentre estes, estiverem passando ali num carrão de luxo.
O problema é que muitos seguidores do Messias transformaram o conceito genérico de que “é mais fácil um camelo passar pelo fundo de uma agulha do que um rico entrar no reino dos céus”, para o campo da inveja ou para o campo do preconceito generalizado contra todo e qualquer rico material ou financeiro. Genericamente, a frase é corretíssima, mas particularmente, cada caso é um caso, e ninguém nunca conhece todos os condicionamentos do comportamento de nenhum rico ou de quem quer que seja.
Não que eu não reconheça a importância do pensamento positivo como força motriz de transformações melhorativas, mas a questão maior não é como se vê a vida, mas, sim, o que se faz na vida com seus pensares, seus sentires e seus agires.
 
Até ostensiva demonstração de prática de alguma ação objetivamente maligna, aparências comportamentais sempre podem enganar. A miséria, em qualquer de suas modalidades, costuma se ocultar atrás de todo tipo de aparência.
Devemos afastar-nos da mundanidade ególatra, materialística e hedônica, jamais dos mundanos, porque estes são nossos irmãos e são mais assistidos pelo Cristo do que quem se acha acima deles.
O dever do verdadeiro cristão (principalmente o que ainda tem ligações residuais com a mundanidade), é urgir em esforços para ajudar, sem preconceitos, seja a quem for que lhe estenda a mão, direta ou indiretamente. Cada um de nós é um mendigo, em algum nível, em alguma modalidade, em alguma circunstância.
O importante é tentarmos ajudar a todos, inclusive os que não querem ser ajudados por se acharem superiores, autossuficientes, arrogantes, egoístas, prepotentes, ignorantes, fanáticos etc. Podemos não conseguir ajudá-los, mas devemos deixar o nosso recado, a nossa tentativa de ajuda, a nossa semente na soleira da sua memória, com amor. Pode ser útil para eles no futuro.
Quanto aos hedonistas, viciados e mergulhados em sarjetas de qualquer espécie, devemos, sempre que possível, oferecer também a mesma ajuda discursiva, da qual eles nem querem, nem sabem que precisam. O único eventual cuidado que devemos ter, neste caso, é o de não sermos ajudados por eles a nos tornar um deles. É a técnica dos salva-vidas, que ao estenderem a mão para segurar um náufrago, cuidam de pegá-lo pelo braço, não pela mão, senão o desesperado vai grudar nele até derrubá-lo do bote água adentro. Ou seja, se não podemos momentaneamente levantar, cuidemos para que não caiamos juntos. Cuidemos de não nos envolver emocionalmente com a situação do precisado. Cuidemos de não entrar direto no assunto, se a tentativa de ajuda for conversacional. Se for o caso de um viciado em qualquer droga consciencio-alterativa, idealmente que essa ajuda conversacional seja tentada quando o precisado estiver em estado de lucidez ou em uma circunstância efetivamente propícia.
 
"É preciso prosseguir, ainda quando se saiba que os outros não estão preparados para a nossa generosidade." - Artur da Távola
 
Temos que tentar ajudar, sempre, direta ou indiretamente, oferecendo as condições que julgarmos necessárias para que o necessitado da vez busque crescer com suas próprias pernas. A ajuda legítima, ainda que localizada, especificada ou circunstancial, é a que contribui para a melhoria integral do próprio ser, aqui ou alhures, agora ou adiante.
A mendicância prevalente, principalmente a afetiva, é fruto de uma sociedade que não ama, que não educa para a solidariedade multinivelar, que deixa os carentes “não autossuficientes” na sarjeta, a partir de uma perversa seleção social materialística e doentemente pragmática, fundada no egoísmo, o mal dos males.
Então, os pedintes de todo jaez têm também uma função social, que é nos chamar à atenção, de nos transformar interiormente, de nos concitar à expansão da nossa hominalidade, de acender a luz, de motivar-nos à prática automatizada do amor. A semear incessantemente na seara do Cristo, para que esta se retransforme no jardim do Éden que buscamos no futuro (já relativamente bem próximo). Precisamos sempre da caridade que os pedintes nos fazem.
Assim, a partir dessa perspectiva, se Você não atende quem lhe estende a mão pedindo qualquer ajuda financeira, moral, emocional ou espiritual, também não o censure nem o desdenhe. Jesus costuma andar por aí disfarçado de pedinte, e ele poderá rapidamente trocar de visual, para lhe estender a mão em ajuda, já na próxima esquina, quando Você for o precisado de outro tipo de proteção.
Outra: quem apedreja, com ações, palavras ou pensamentos, algum passante ou restante que não “bate na sua telha”, ou que esteja, por exemplo, ostentando suas luxúrias ou seus luxos materiais, com orgulho ou com arrogância, também está em pecado. Pecado da alma. Ambos, apedrejador e apedrejado, certamente estão precisando de ajuda, ainda que em níveis diferentes. A lei do amor é clara: quem não está ajudando, precisa ser ajudado, de alguma forma, principalmente se estiver “desajudando”, prejudicando, apedrejando, piorando o quadro de quem precisa receber ajuda, ainda que só conscientizadora. O próprio sucesso espiritual ou moral de alguns torna-os arrogantes em relação aos que não alcançaram as mesmas vitórias pessoais. Sucesso cria e mata. O verdadeiro sucesso deve ser sempre controlado pela mente superior, para não se desvirtuar do propósito maior, que é a paz e o amor fraterno, obrigação de todos nós, seja nos sucessos, seja nos insucessos.
Algumas demonstrações de desamor ao próximo são aquelas já famosas frases-pedradas do tipo:
“a mão de Deus pesará sobre seus ombros!”,
“ele pagará até sua quarta geração!”,
“o lago de fogo o aguarda!”,
“toma! Quem manda não aceitar a Jesus!”,
 
Podem ser frases ditas sob emoção, mas jamais seriam frases ditas por Jesus. Um terceiro que ouvir tais absurdos deve orar imediatamente pelo praguejado, que pode estar, ou não, circunstancialmente em alguma sarjeta moral, e pelo praguejador, que, com certeza, está numa sarjeta anticrística, da mesma forma que eu, se aplaudir, ou se criticar o crítico.
 
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O importante é ajudar. É para isso antes de tudo que cada um de nós veio à Terra. Esta é a missão maior de cada um de nós. Ajudar e ajudar-se, ajudar a ajudar e ajudar a ajudar-se.
O ideal é ajudar não por ajudar apenas, mas ajudar o próximo a se erguer de sua queda circunstancial ou ajudar a manter melhor dentro de sua condição aparentemente destinatória ou cármica. Entretanto, o que passa na mente do ajudado ou o que o ajudado fará logo a seguir com a ajuda recebida ou depois que se melhorar, bem... aí não é com o ajudante, em principio. O mais importante é o ajudante fazer a sua parte, com muito, muito amor. Oferecer a ajuda, mas oferecê-la envolvida em uma energia afetiva. O ajudado levará a ajuda concreta e levará também a energia afetiva em seu íntimo, e essa energia de certa forma ajudá-lo-á a crescer em decisão sobre o que fazer da sua vida daí em diante.
A ajuda meramente mecânica, automática, mais para aliviar a consciência do ajudador também é válida, em princípio, mas está mais para o assistencialismo do que para o verdadeiro amor. A ajuda crística deve ser antes de tudo transformadora, entusiasmadora, estimulante a uma autoajuda do ajudado, em seguida ou em tempos adiante. Bem, mas tudo isso são metas ideais. Ninguém sabe o que se passa na mente de cada ajudante e na mente de cada ajudado. Daí o básico mesmo, é cada ajudante ter pelo menos a boa vontade de ajudar e cada ajudado, a boa vontade de receber. O resto é com o Universo.

Josenilton kaj Madragoa
Enviado por Josenilton kaj Madragoa em 17/03/2011
Código do texto: T2854576
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