Semelhantes

Eu nunca duvidei dos negros. Nem dos pretos.

Só lamento a dor deles. Apesar de negro, tenho pele clara.

Estranho não é eu lamentar a dor, mas o fato de eu ser negro com pele clara.

Negro não deveria ser preto?

Ou a cor é apenas mais um elemento que compõe a negritude?

Existem negros de pele preta, negros de pele morena, até negros de pele alvíssima! Assim como há brancos de pele preta, brancos de pele branca e por aí vai...

E vai mesmo. Vai para um estado de mentiras e eufemismos.

Enquanto o mundo se transforma a cada segundo, os negros lutam pelos mesmos direitos dos brancos.

A questão é: por que os negros não lutam pelos direitos dos negros? Talvez ainda não esteja bem “claro” que direitos não são dados, mas conquistados!

Se todos dizem que não têm preconceitos, onde estão os preconceituosos?

Eu mesmo respondo: Estão no meio da gente. Estão em toda parte. Somos todos nós!

O preconceito é inerente ao homem: para sua defesa, sua proteção; como reação ao desconhecido que tememos, uma projeção daquilo que somos no objeto externo...

Querer eliminar algo que nos é tão natural quanto o preconceito, nada mais implica do que em fracasso, pois somos assim.

A questão deveria ser: como empregar o nosso preconceito! Muitos o transformam em vilão, na verdade, ocultando-os, ou seja: além de preconceituosos, tornam-se hipócritas.

E a hipocrisia é mesmo a mola que impulsiona as intransigências raciais. Estas sim, perigosas.

Chamar um preto de preto deveria ter o mesmo peso de chamar um branco de branco; claro, se fossem iguais. Mas brancos e pretos reagem de forma diferente. Isso também é fato. O problema maior não é a agressão vinda do preconceituoso, mas as reações daquele que foi agredido. A agressão verbal só produzirá efeitos internos na “vítima” quando o que for dito for verdadeiro.

Imaginem um homem muito inteligente, um agressor o chamando de burro, mula, retardado... Qual a reação do homem? Talvez ele dê um leve sorriso irônico, vire-se e tente entender a metáfora... Pois, para ele, aquilo só poderia ser uma alegoria!

As alegorias são estas:

Um gordo querendo ganhar uma maratona.

Um branco se dizendo superior e enfrentando o sol sem filtro solar...

Pode ser que alguém queira me provar que estas não são alegorias!

Quem se habilitar a uma destas tarefas terá que nome? Talvez mártir. Talvez uma besta. Besta de carga.

E os chicotes balançam. Balançam porque você acha que todos somos iguais... Não somos iguais. Quem tem sua pele preta que se proteja, ou suba a montanha a pé, ou se camufle de branco. Aos que conseguirem chegar ao topo da montanha, só teremos que reverenciar - talvez por sorte, talvez por grande mérito.

Em um dado momento, o branco avançou mais que os negros. Os brancos criaram mais, produziram mais... por que mecanismos a gente não vai nunca entender mesmo. Brancos e negros traçaram caminhos diferentes. E no segundo encontro, os brancos tinham armas de fogo na mão. As diferenças eram tão grandes, tão visíveis, que pode alguém ter julgado que eram, negros e brancos, de raças distintas. Mas não são?

O passado pode ser tão impreciso quanto o futuro.

Não poderíamos resolver de forma mais simples o problema?

Qual a situação real? (Sem hipocrisia...)

Em que os negros estão em desvantagem? (Alguma deve haver...)

E daí? Daí os negros superam as desvantagens e vão se relacionar de igual pra igual com o branco. Com tantas diferenças, isso não é possível.

Os brancos assumiram mesmo o poder. E os negros gritam pelos seus direitos. Direitos de quem? Direitos não se pedem! Direitos se conquistam!!!

Os negros estão esperando os brancos dizerem: Pronto, somos iguais! Utopia. Mas também há muita gente pensando por aqui, tem muita gente que entende qual é o real problema... E a luta continua, mas continua em ritmo lento. Retirem os eufemismos dos seus discursos.

Vamos ao debate franco. Os negros estão em posição inferior. Precisamos saber em que estamos fracos, em quais trincheiras temos brechas... Precisamos consertar ou reverter estas nossas fraquezas, pois todos as temos. Então, em pé de igualdade, vamos exigir os nossos direitos como gente, como pessoa. Não precisamos ser reconhecidos como coisa nenhuma, não queremos reconhecimento... Queremos aquilo de que somos donos. Queremos a nossa parte neste bolo. Mas ainda estamos apenas querendo! Precisamos assumirmo-nos como donos. Pois só os donos possuem o direito da posse.

Por hoje eu dou palmas para os brancos que, ao descobrirem que eram inferiores aos negros quanto à exposição ao sol, criaram o filtro solar, em vez de apregoar uma igualdade irreal!

O gordo que queria vencer a maratona... Depois de participar de numerosas maratonas sem concluir um só percurso, resolveu se dedicar à criação de uma bota mágica que certamente fará dele um vencedor de maratonas. Eu mando um recado pra ele: Quer vencer a maratona? – Vai emagrecer, gordo! Quer dizer. Fofinho...

Aos que se melhoram - o prêmio.

Aos que se obstinam no caminho certo – o dever cumprido.

Aos que se obstinam contra o despenhadeiro - a morte.

... ou a escravidão.

Ed Borges - Negro e Gordo.

Ed Borges
Enviado por Ed Borges em 22/03/2011
Código do texto: T2863659