{Quem não vier me abraçar, não vier me beijar e não vier dizer que me ama, vai tomar murro! – Geralda, ex-interna, recém-expulsa da escola reformatória de menores no bairro de Paripe, em Salvador, ao chegar de volta à casa dos pais e dos irmãos, numa manhã chuvosa do inverno de 1964.}
 
Há aquelas pessoas aparentemente incorrigíveis na prática do mal, especialmente do mau comportamento, como que subordinadas a uma estrutura cerebral que não lhes permite retificar sua conduta ou disciplinar seus impulsos destrutivos ou explosivos, inclusive ao próprio corpo, muitas delas inteligentíssimas do ponto de vista intelectual ou artístico.
 
É reconhecido cientificamente que o cérebro humano tem áreas que influenciam no comportamento moral, ao ponto de fossilizar certas formas de raciocínio e de análise, enquanto libera espaço à vontade para o fluxo de outras formas. Mas esse condicionamento não implica obrigatoriamente uma disfunção emocional, moral e ética irreversível.
A fossilização de atitudes mentais, seja de quem for, pode resvalar na idiotia, na estupidez e até na maldade, mas pode fixar também atitudes mentais positivas, como o bom humor (ainda que de forma sarcástica ou irônica), o otimismo (ainda que delirante) e a bondade (ainda que complacentemente permissiva ou apática). Depende do padrão vibratório do que se fossiliza nos porões do neocórtex, combinado com o bombardeio continuado de eventuais substâncias químicas, doçaínicas ou desnutritivas no organismo. E depende da qualidade das educações emocional, moral, ética e afetiva de quem de dever, desde os primeiros chorinhos no berço.
 
Muitas pessoas (individuais ou coletivas) já nascem com a carga afetiva transbordando pelo ladrão, cheias de amor para dar, sem precisar qualquer estímulo decisivo para despertar valores morais e éticos associados. São os superdotados afetivos ou superdotados conscienciais, cujo QA (quociente de amor) ou cujo QC (quociente de conscientização) é bem acima da média. Outras, no entanto, nascem com a carga vazia, à espera de ser preenchida com a adequada estimulação externa. São os subdotados afetivos, cujo QA é baixíssimo. Nascem aparentemente para serem muito amadas e muito orientadas, como que para justificar a vinda dos outros a cumprir seu papel. Neste planeta, ainda de provas e de expiação e onde a caridade socorrista ainda é palavra de ordem sobrevivencial e ascensional, quem não nasceu pronto para amar é porque nasceu pronto para ser amado.
{Mas, a carga vazia de amor não quer dizer ausência absoluta de amor. Há dois tipos de carga afetiva. Há aquela à flor da pele, pronta para trabalho de troca e doação. E há aquela carga que, ainda que cheia, vive presa nos recônditos mais profundos da alma, reprimida por fatores históricos, ambientais, traumáticos... Raramente vem à superfície sensorial.
Todos nós temos amor para dar, esteja na profundidade que estiver da estrutura sentimental. Alguns só precisam de pressões qualitativas e quantitativas adequadas de um virabrequim ou de um motor de arranque afetivo externo, para combustar ou pôr em movimento sua carro afetivo na direção de si mesmo e dos outros. Existem até alguns selvagens antiafetivos, cavernosos, brucutus, mas de aparência dócil, educadíssimos, de fala mansa, verdadeiros ovoides sentimentais. Carecem de bombardeios continuados de amor, para fagulharem seus potenciais de doação de si. Outros são cheios de personalidade forte, mal-humorados, reclamadores, mas vivem fazendo o bem habitualmente; são generosos e se preocupam com o bem estar dos outros.}
O pior trauma que alguém pode sofrer logo nos primeiros anos da sua existência é a falta de educação moral e sentimental, principalmente antes dos sete anos, que é o período da implantação mais profunda de valores para toda a vida. E essa falta pode ser um problemão para o traumatizado, principalmente se for um daqueles que já nasceram com a carga da afetividade vazia para a nova existência, e pode ser um problemão para quem com ele se relaciona e se relacionará. É o trauma que mais condiciona o surgimento e o crescimento daquelas pessoas chamadas de casos-limites ou casos sem jeito.
 
O que induz a uma prática premeditada e permanente do mal ou de más atitudes não é a incapacidade de desenvolver mentalizações sobre o certo e o errado. É a soma de fatores históricos, ambientais e carenciais favorecedores à construção de uma personalidade raciocinal, emocional ou moralmente doentia.
A mente explosiva, agressiva, maldosa ou até criminosa, a depender da intensidade e do tempo, pode aleijar o cérebro, mas pode também repercutir na massa clônica perispiritual por duas ou mais encarnações sucessivas. Mas, apesar de eventuais condicionamentos cerebrais predispositivos, a moralidade e a eticidade são atributos do espírito, não do corpo (ao qual pertence o cérebro). A deficiência fisiocerebral não afeta a mente, muito menos a alma, por si só.
 
A deficiência física, inclusive a deficiência cerebral, não afeta a mente espiritual, mas a deficiência emocional e a deficiência química, que estão num padrão vibratório menos denso, com certeza, afeta a mente cerebral, que é reflexa e condicionada. Nada, contudo, que não possa ser remediado, ou até curado com tratamentos medicamentosos, cirúrgico-espirituais e higienizantes e com golpes continuados de amor, orientação, conscientização e muita paciência inicial (dos outros e de si próprio).
O homem é produto do seu passado (pelo que ele fez ou deixou de fazer) e do seu futuro (pelo que ele idealiza e projeta).
As tendências do passado e as perspectivas de futuro marcam o cérebro e a mente, mas também as condições ambientais presentes, especialmente a educação doméstica afetiva, nutricional, física, emocional e moral, além dos traumas psíquicos, carências físicas, químicas e intelectuais, sonhos, imaginações e esperanças quanto a seu futuro.
[Para desenvolver sua teoria de que os traços anatômico-cerebrais podem identificar o futuro criminoso, o criminologista italiano Cesare Lombroso (1836-1909), considerado o fundador da Antropologia Criminal, pesquisou muito mais no meio dos pobres e excluídos sociais do que no meio dos ricos e bem educados, e muito mais entre adultos e reclusos de centros de tratamento do que entre crianças novinhas em folha. Daí a fragilidade inicial dessa sua teoria.]
No mínimo, características físicas podem até denunciar o que fizemos, mas não necessariamente o que faremos. São vários fatores que influenciam à prática de ações destrutivas no presente e no futuro. A noção lombrosiana de “criminoso nato” já é, por si só, preconceituosa. Já tipifica alguém pelo que ele ainda vai praticar. E os outros fatores? Isso é porque eu estou querendo ser gentil com o famoso doutor.
[Apesar disso, Lombroso recomendava educação para os por ele pré-definidos como “criminosos natos”. Quer dizer, ele apostava na recuperabilidade preventiva ou, talvez, melhor dizendo, repressiva, pela educação dirigida.]
Hoje sabemos que também o amor tem participação especial no refinamento de tendências inatas. A transmorfização ou mimetização dos seres é fruto muito mais da sua interatividade com a vida na atual cotidianidade do que com traços denunciativos do que eles tenham feito tempos passados ou até mesmo em existências passadas.
Eventuais desvios psicológicos de nascença não deixam de ser um alerta para quem de dever cuidar logo de retificar seu “diferente” com overdoses de amor. No mínimo vai contribuir para que tais eventuais tendências não virem uma expiação ou uma prova de difícil suportamento na atual cotidianidade, quer para o “diferente”, quer para quem com ele convive.
De qualquer forma, a partir de uma simples análise dos nossos ambientes sociais, podemos concluir, sem precisarmos ser cientistas, que os traços cerebrais não são garantia de tendências psicológicas de quem quer que seja. Vejamos, inclusive, que a maioria dos criminosos não tem nenhuma marca física que corresponda às antropometrias lombrosianas, principalmente os criminosos intelectuais e políticos, concorda? O que estatisticamente tem levado as pessoas ao crime são as drogas, e nelas eu incluo a droga da obsessão, a droga da invigilância e a droga das múltiplas carências domésticas desde a primeira infância.
Associar a má índole, para si e para os outros, a condicionamentos físicos é reconhecer que existe, no mínimo, um lombrosianismo fisio ou quimioneocortical. Se for o caso, haverá um tempo em que bastará uma detecção da área cerebral afetada, logo após o nascimento de cada ser humano, e fazer a devida cirurgia reparadora, para que todos sejam tecnicamente bondosos para o resto da vida. Será o caso?
 
Não podemos negar, contudo, que certas alterações químicas repentinas podem levar a mudanças desastrosas de emoções e de atitudes, até passar o surto.
{Particularmente em alguns diabéticos que não têm suficientemente internalizada uma inteligência emocional em nível consciente e inconsciente, explosões hiper e hipoglicêmicas interferem imediatamente no funcionamento cerebral, a partir, inclusive, de uma forte alteração do quadro emocional, com repercussões imediatas no fluxo e na qualidade do raciocínio, podendo até monstrificar seus pensamentos, palavras e ações durante o surto.
O estopim para a explosão glicêmica de efeitos em cascata e sua decorrente explosão emocional podem se originar de estímulos internos ou externos. Podem ser ondas de pensamento, energias verbais, choques de imagens, de sons, de lembranças, de agressão, de pressão psicológica...
Normalmente, a explosão emocional agressiva, ou contra-agressiva, ocorre em cadeia progressiva, na continuidade do conflito, podendo, em questão de minutos, chegar até a um homicídio.
Somente a ginasticização progressiva da alma, em nível de autocompreensão, paciência, paz interior, humildade e bondade, podem reeducar o cérebro, neuropeptidicamente, contra explosões glicêmicas e emocionais, a partir da injeção diuturna do melhor dos medicamentos: a insulina consciencial com a observância paralela da bula universal para todas as dores: o evangelho puro do Cristo.}
Isso vale para diabéticos e para qualquer um de nós.
Uma explosão consciencial socorrista deve ser disparada imediatamente após uma provocação ou estímulo emocional-alterativo, como um contramíssil, que não deixa de ser uma espécie de “outra face”, aqui usada para surpreender o provocador interno ou externo.
Tal explosão antiexplosiva(!) fará os efeitos emocionais-tsunâmicos virarem, a tempo, uma marolinha.
O alvo imediato da explosão consciencial é inibir tanto a explosão glicêmica ou neuropeptídica quanto a decorrente explosão emocional agressiva ou contra-agressiva, antes que seja caro demais.
Para se desenvolver esse recurso é necessário educar os impulsos psíquicos, de preferência a frio, preventivamente, a partir do estudo, da oração, da meditação, de exercícios respiratórios etc, sem fim, sem trégua. E esse recurso deve ser utilizado por todos os conviviais do “difícil”. Normalmente os “difíceis” tornam-se mais difíceis, porque os que com ele convivem não facilitam muito suas buscas íntimas de melhoria comportamental. O controle, a atenção e a disciplinação devem partir de cada um individualmente, primeiro a si mesmo, para depois se dirigirem para quem mais precisa no ambiente convivial ou convivencial.
E se o estímulo externo tentador for, por sua vez, uma explosão emocional já vinda na nossa direção? O discurso não muda. O importante é barrar sua penetração na nossa alma, com o contramíssil blindador. Se deixarmos a explosão alheia nos invadir intimamente, poderemos até não reagir; aliás, deveremos não reagir. Mas precisaremos depois de mecanismos urgentes de descarga energética, o que uns conseguem socando saco de areia, outros, correndo, outros, desabafando em ombros amigos... Não é o ideal, embora seja melhor do que correr o risco de adoecer com energias pesadas reprimidas. O ideal do ideal mesmo, nesses casos de estimulação ofensiva à emocionalidade, é evitar se ofender ou evitar se traumatizar psicologicamente, dispersando logo os influxos vibratórios pesados, antes de eles atingirem as instalações psíquicas ou físicas. Daí a importância dos eternos burilamentos dos próprios conceitos, dos sentimentos, dos valores, do caráter, das virtudes crísticas. É como ensina o Tai Chi Chuan: no combate, devemos fazer de tudo para não sermos tocados por aquele que tentar nos agredir. E o toque a evitar é não só o físico, mas também o emocional e o mental.
 
A vitória legítima e verdadeira numa guerra de tal jaez, seja, inclusive, a guerra de nervos, é não guerrear. Só essa atitude de insistir na paz, pelo contramíssil da insulina consciencial e compreensiva, mesmo quando já sob provocação, acaba enfraquecendo, rapidinho, o estímulo ao combate. E se puder municiar esse poderoso artefato, também, com oração, gestos de gentileza, sorrisos de brandura e palavras de carinho, melhor ainda. Assim, além da “outra face”, oferece-se também a túnica, o pão. É quando passamos a golpear, com energias vibratoriais superiores, aquele que eventualmente tenta nos agredir, sem que precisemos tocar nele fisicamente, não até vencê-lo, mas até transformá-lo. São golpes de mestre do Tai Chi Chuan.
Ninguém resiste a bem aplicados golpes de amor, de gentileza, de humildade envolvente...
 
“A resposta branda desvia o furor, mas a palavra dura suscita a ira” – Provérbios, 15:1.
 
Quanto mais nos amarmos e nos armarmos nesse nível maior de preparação para reações neutralizantes, idealmente antes de eventual prova de fogo, tanto mais chances teremos de evitar abalroamentos físicos, mentais e emocionais, seja contra nossa base, que é o nosso próprio ser, seja contra a base agressora, que não é necessariamente uma inimiga potencial, quando vista pela luneta da compreensão, da paz e da tolerância. O verdadeiro inimigo é a explosão emocional, que só se empodera e se perfaz se vacilarmos na guarda e na proteção dos patrimônios físicos e psíquicos.
 
“O nosso inimigo não é aquele que nos odeia, mas é aquele que nós odiamos.” – provérbio árabe.
Guerra emocional é intergenocida.
Tudo é questão de educação consciencial de ambos os lados, ou, pelo menos, a partir de um lado só, na direção contagiante do outro.
 
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Reiterando, o pilar-mor da construção de caracteres é a educação doméstica, já a partir das primeiras mamadas (ou melhor, já a partir do planoteste positivo), ou a partir de qualquer tempo.
 
No jogo educativo doméstico, que se utilize o esquema tático 2-2-1, qual seja, dois atos de orientação, dois atos de afeto e um ato de disciplinação, podendo se alternar as posições, conforme a necessidade eventual, a faixa etária e a índole natural do educando.
Idealmente, sempre que a grandeza 1 se fizer mais necessária, que as outras duas se expandam na mesma proporção, na primeira oportunidade, de preferência antes.
E o mais importante é permear a energia do amor em todos os atos desse esquema, especialmente na palavra, inclusive na repreensão.
 
{“Sempre que puder, fale de amor e com amor para alguém. Faz bem a quem ouve e à alma de quem diz” – Irmã Dulce.}
 
[Em Eletrônica, existe o fenômeno das ondas portadoras, que conduzem as ondas de rádio até os receptores. No caso da acústica dos pensamentos e palavras, estas se projetam muito mais eficazmente até os sensórios do receptor, mesmo que seja uma pessoa surda, quando conduzidas por ondas portadoras de amor, que emanam não do cérebro, mas do coração. Quando se diz que uma palavra entra por um ouvido e sai por outro, é porque não foi projetada com amor e, sim, com neutralidade ou indiferença. Conselho ou advertência só cala fundo e por longo tempo ou até para a vida inteira, quando dado com amor, revestido de carga emocional positiva, com padrão vibratório superior, mesmo que em forma de sussurro. No futuro, os cientistas humanos vão estudar a Acústica sob os ângulos material e espiritual, e vão descobrir que, a depender da carga de sentimento que o reveste, um som tanto pode despertar instantaneamente uma consciência divina, como pode induzir a uma morte, ou do emissor ou do receptor, em questão de minutos. Depende das condições circunstanciais de quem emite e de quem recebe. Depende também do nível de concurso de inteligências paralelas que estejam sintonizando com a energia do emissor ou com a energia do receptor. Assuntos para a Acústica do futuro, mas que a sabedoria popular dos antigos já sabe, ainda que intuitivamente, há milhares de anos.]
 
A energia do amor é vibratorialmente bem superior à energia do ódio e de quaisquer outros sentimentos negativos. Por isso, não bastam apenas paciência, tolerância, perdão, compreensão e “deixa pra lá” em relação aos rebeldes, maus e difíceis. É necessário mobilizar e direcionar a energia do amor na direção de quem necessário, idealmente sempre antes de um eventual ataque de baixo para cima, isso idealmente para ajudá-los a desenvolver o amor que eles têm dentro de si mesmos. Amar e amorizar. E é necessária disciplinação (calculada e não emocional), educação moral sobre o certo e o errado, sobre o justo e o injusto, sobre responsabilidade afetiva, emocional e relacional como um todo e para todos. É um jogo paradidático sem fim. A própria vida é um jogo, cheio de lances fáceis e difíceis e nem sempre justos. E nesse jogo, quem não faz pontos positivos, sofrerá pontos negativos, talvez já na próxima rodada. Ficar sem pontuar positivamente, já é estar perdendo.
Temos de amar, como medida preventiva ou como medida repressiva. Temos de atacar de amor, agora, não importa o tempo, não importa o resultado do placar nos ataques e contra-ataques do jogo relacional difícil, mesmo porque o enfrentamento não é de dois times opostos. O time familiar é um só. Logo, com a vitória do amor, todos os jogadores ganham.
 
Por outro lado, medidas às vezes duras de repreensão pela advertência quanto a prováveis futuros de pessoas emocionalmente arredias podem até chocar um petiz duro na queda no educandário do lar, mas a moldura abaixo é para se fixar na parede dos cantinhos da disciplina, tanto na do aprendiz quanto na do educador.
 
{Ainda que seja um cartucho só circunstancialmente utilizável, às vezes é melhor “traumatizar” uma doce criança “difícil” com um sermão moral e social pré-adultizante, do que vê-la se tornar futuramente um amargo adulto “difícil” e cheio de problemas de convivência, por ausência de um bom primário familiar quanto às regras do jogo relacional. Independentemente da forma de governo de cada família-estado, sai bem mais em conta o petiz amadurecer precocemente em raciocínio, dentro do carbureto da boa estufa familiar, do que amadurecer sob o sol causticante da estrada afora, cheia de lobos. E os discursos ético, filosófico, psicológico e policialista, em qualquer padrão de linguagem que se possa entender, combinados com bons exemplos e com o exercício diuturno da afetividade, são os melhores carvões da estufa.}
 
Falar duro, firme e com energia, quando necessário, deve sempre estar num nível vibratorial poderoso e benfazejo. O que o educando absorve mais intimamente para uma real transformação não é somente o sentido nem somente a entonação das palavras, mas principalmente a sua energia. Daí o cuidado do controle emocional que o repreensor deve ter, para não se transformar em um repressor.
 
Os atos de orientação e de repreensão não devem ocorrer no eventual momento de tensão emocional. Em tal momento, a providência socorrista é tentar anular as energias negativas e eventuais explosões emocionais. Quem estiver livre ou acima da tensão, deve usar da autoridade moral, afetiva e emocional, a fim de dispersar as energias tensas, perigosas e danosas para a saúde de todos os envolvidos.
Normalmente, no clima de tensão ou de conflito iminente, jorram-se pelo sangue adrenalina e cortisona, as quais, em excesso, podem predar vorazmente nossa saúde celular e podem desencadear doenças graves e até a morte. Em tal momento de iminência de conflito, as atividades ideais são a oração, as palavras brandas, ainda que firmes, as mentalizações de energias positivantes a quem de necessidade, tudo para apagar o incêndio florestal, enquanto ele ainda está nas primeiras palhinhas. Depois, oportunamente, deve-se chamar o conflitado para as necessárias ponderações, orientações e repreensões, na tonalidade vibratorialmente superior e adequada. Mesmo princípio, na hipótese de perdurar uma linha de conduta ácida ou de agressividade linear, que geralmente se instala a partir de um não recebido. O diferencial, na hipótese, é que o polo que estiver mais tranquilo e não contagiado pela acidez ou fritura adrenalítica ou cortisonal continuada do outro, deve intensificar as orações, a amabilidade, a humildade e a gentileza. Tais posturas devem se iniciar ou perdurar até haver uma oportunidade de conversação mais aberta e terminativa do clima ácido do pólo oposto.
Num primeiro momento, pode ser desestimulante ou nada animador. É um teste difícil para muitos pais/orientadores/educadores/cônjuges/etc, que requer um exercício diuturno de superação muito mais de si mesmo. Não ser compreendido e compreender. Nunca receber um sorriso e ter de sorrir sempre. Não ser amado e ter de amar sem trégua, ainda que precisando continuar a dizer nãos ou a “impor” sins insatisfatórios , quando for o caso, na “democradura”.
 
[Tão importante quanto o não verbal pronunciado é se dizer intimamente não ao não carregado de emotividade ou de agressividade. Esse não ao não verbal agressivo é a arma secreta fundamental para sustentar e melhor garantir a eficiência do não que será emitido para o outro. É o não firme e seguro, mas com amor. É arma essencial da arte da guerra que objetiva o crescimento relacional de um lado e de outro.]
 
Nenhuma prova acontece ou deixa de acontecer por acaso. Porém, a depender de como se a vê e responde, a prova de fogo pode se tornar um martírio, um delírio ou um colírio. É uma verdadeira queda de braço organizada pelo Universo, para tentar aprimorar algumas pendências, às vezes centenárias, entre relacionadores interendividados.
É quando o “melhorzinho” da relação precisa aprender a estar em paz, enquanto combate; a irradiar pensamentos positivos, enquanto recebe setas de ódio e azedume; a perdoar, para ser perdoado, não logo pelo polo incompreensivo, mas talvez por Deus, que tudo vê, tudo ouve e tudo anota. É uma arte marcial dos mestres seniores, e estes conseguem vencer uma luta sem mover um dedo sequer, só nos golpes de amor, de brandura, de olhar complacente, vendo o oponente sempre de cima, a partir de um ângulo de compreensão e ternura transformadores. Mesmo que o “melhorzinho” não seja necessariamente um mestre sênior, ele deve tentar sê-lo, sempre, pelo menos até aprender a quebrar no ar as moléculas de toxinas espirituais que venham na sua direção e também na direção do próprio agressor. O campo de luta-prova é grande e aparentemente sem fim. Esse armagedãozinho doméstico é a maior das provas que alguém pode passar, para vencer seu próprio lado inferior e vencer o lado inferior do outro, até arrancar de dentro deste, e às vezes de si mesmo, o duque, o príncipe que ele sonha e quer, até a verdadeira vitória, que é a vitória do amor recíproco.
Uma das técnicas desse combate continuado é a empatia. É o “melhorzinho” colocar-se na posição do outro, é pensar como o outro, é ver que, muitas vezes, atitudes irracionais, emocionais, agressivas ou até maldosas escondem alguma metamensagem que expressa alguma razão de ser, algum pedido de socorro, alguma carência química, nutricional, moral ou afetiva profunda. O corpo emocional às vezes exprime verdades extralinguísticas com mais eloquência do que o corpo mental (o do pensamento).
Alternativamente, cada um que nao pode se dar o luxo de se encavernar, siga o seguinte estratagema psicofilosófico para me amparar frente a certas necessidades de se relacionar com quem não está muito empático nem muito sintonizado: “O fato de eu deixar de me relacionar paritariamente com alguém que me contrariou ou que se contrariou comigo não implica ter de deixar de estender a minha atenção e o meu afeto para ela, não. O básico é apenas não esperar nenhum retorno de atenção ou de afeto em sentido contrário. A vida relacional é uma estrada de mão dupla, ainda que um lado da pista esteja deserto, enquanto o outro está engarrafado. Depois se alternam os movimentos, quando as obstruções de ambos os lados se resolverem”. [Será que é um começo de aproximação daquela recomendação de Jesus, de amar os inimigos? Ou não é nada disso?]
 
Se, contudo, depois de longa tentativa educativa e transconscientizadora do outro, o surto emocional não cessar ou continuar a erupção de um sentimento negativo já longamente arraigado, é o caso de o “melhorzinho” baixar a guarda da educação dirigida e insistente e passar mais a amar e a beijar o amargurado. Quem sabe se esse estado permanente de mau humor não pode ser convertido ou funcionalizado para uma atividade, ocupação, arte ou profissão compatíveis (isso principalmente quando o “difícil” já é um adolescente de cangote grosso)? De todo estado de ego pode-se tirar proveito ou utilidade para o Universo. Já que é um “caso sem jeito” do ponto de vista emocional e relacional”, que se estimule o crescimento de potenciais valores para o benefício da sociedade e de si mesmo. Pode ser a deixa para a futura suavização dos sentires, dos pensares e dos falares.
Especialmente, na pré-adolescência, quando da explosão da testosterona nos homens, os arroubos de emocionalidade e de agressividade (pré-historicamente necessária ao início de proteção das cavernas-lares, enquanto o pai estava fora caçando), e que se confunde com a hebefrenia (semiesquizofrenia típica de adolescentes ainda mal-resolvidos com a vida intra e inter-relacional, principalmente por carência de educação moral, afetiva e emocional), começam a prevalecer os resultados da educação moral e afetiva dos primeiros sete anos. Se esta foi positiva e marcante, o jovem passará pela crise da adolescência sem maiores traumas e traumatizações. Se não, vai dar mais trabalho nas oficinas de ajuste e conserto a que terá de se submeter adiante, fora do lar.
 
O que não pode nunca é o responsável desistir do seu responsabilizado. Este ainda é o seu rebento, mesmo que já esteja só rebentando. Desistir, nunca. Desistir de continuar adotando e dotando seu próprio adotado sanguíneo, afetivo, afim, educacional ou moral é a pior demonstração de subdotação consciencial, é a pior loucura. Há muitas “pessoas” lá fora “doidas” para “adotar” crianças e jovens mal-amados, mal-amantes, revoltados, revoltantes, difíceis e dificultadores. O papel de adotante deve ser exercido por quem está na responsabilidade direta, ainda que se use um elmo de luz permanentemente em guarda contra as investidas do seu querido “difícil” que ainda está na escuridão consciencial e principalmente contra as investidas externas que se comprazem em destruir relações afetivas fragilizadas. E não falta é gente, do aquém e do além, torcendo contra o amor relacional e fazendo de um tudo para ver o miserê instalado nos lares e nos bares da vida social terráquea, ainda que “torcendo” a favor de um dos lados. Também tais torcedores “piorzinhos” do contra precisam ser alvejados ou golpeados, com a lâmina do pensamento positivo em sua direção, com a oração e entrega de suas vidas a Deus. “É preciso estar atento e forte” (no dizer da canção “Divino Maravilhoso”, de Gilberto Gil e Caetano Veloso).
Cada um usa as armas que pode. Jesus disse que devemos amar os nossos inimigos. Vale, inclusive, para aqueles com os quais não temos obrigações relacionais. Só não quer dizer que devamos suportar passivamente o mal que eles queiram fazer contra relações íntimas sob teste dentro de nossa casa. Devemos rechaçar o mal que vem de fora também com o bem, ainda que usando a esquiva, a negaça (mas nunca golpes baixos), buscando envolver seus portadores, que também são vítimas de si mesmas, com a energia neutralizante da paz e, se possível, com a leitura, em voz alta, do Evangelho, e/ou ligar a radiola em Vivaldi, Chopin ou Bach (a maioria de suas peças musicais são de espantar qualquer espantalho), até as energias negativas se dispersarem. No mínimo, esses “agitadores” de conflitos alheios pela ignorância, que não têm obrigação de permanecer nas nossas cercanias, deixar-nos-ão em paz com a relação que devamos continuar travando com quem de nosso dever, na paz.
Já os que estão em nossas cercanias relacionais nos amam e devemos amar mais intensamente, malgrado as dificuldades de entendimento e os conflitos ou incompreensões de um lado ou do outro.
 
"Se Jesus nos recomendou amar os inimigos, imaginemos
com que imenso amor nos compete amar aqueles que nos oferecem o coração."
- André Luiz, escritor espiritual
 
Se o plano A da educação não tem funcionado, neste caso é de se baixarem todas as armas educacionais e influenciais diretas e esquecer, por um tempo, todas as estratégias de amaciamento do caráter insurreto (se se tratar de um adolescente ou adulto “difícil” crônico). Parta-se, em nível de sugestão, para o seguinte plano B. Estabeleçam ambos os polos divergentes, numa reunião muito clara, racional, objetiva e sem emoções, o seguinte termo de ajuste de convivência relacional, com um “patamar civilizatório mínimo” (Expressão cunhada pelo jurista Maurício Godinho Delgado, referindo-se a condições econômicas que garantam uma sobrevivência minimamente digna do trabalhador):
 
 
{PRINCÍPIOS PARA UM BOM RELACIONAMENTO ENTRE PESSOAS COM PERSONALIDADES, PREFERÊNCIAS E TENDÊNCIAS PSICOCOMPORTAMENTAIS DIFERENTES
Os princípios básicos para um lado são:
1)   Seja como Você é e aceite o outro como ele é.
2) Aceite o outro como ele está, mas não necessariamente como ele quer que Você esteja.
3) Aceite o outro como ele é e até como ele está, mas não necessariamente o que ele quer lhe dar ou o que ele quer fazer com Você.
 
Os princípios básicos para o outro lado são:
4) Seja como Você é e aceite o outro como ele é.
5) Aceite o outro como ele está, mas não necessariamente como Você quer que ele esteja.
6) Aceite o outro como ele é e como ele está, mas não necessariamente o que Você quer dar para ele ou o que Você quer fazer com ele.
[Acrescente-se a expressão “a menos que seja para a melhoria integral de ambos” nos itens 2, 3, 5 e 6.]
 
RESUMO:
7) Cada um seja o que é e o que pretende ser.
8) Cada um esteja como gostaria de estar e como gostaria que o outro estivesse.
9) Cada um dê ao outro aquilo que gostaria de receber do outro para si.
10) Cada um faça com o outro aquilo que gostaria que o outro lhe fizesse.
[Acrescente-se a expressão “desde que seja para a melhoria integral de ambos” nos itens 8, 9 e 10.]}
 
A partir daí, tente cada um cumprir rigorosamente esse “contrato social”. Doravante, pode até entrar o jogo da persuasão, da influência indireta, da ponderação, do convencimento e principalmente do exemplo, mas nunca o da imposição ou da ditadura. Normalmente, é quando começa finalmente a surgir, ainda que de fininho, o tão esperando crescimento de ambos, de um lado em mais amor e abrandamento de temperamento e do outro, em compreensão e respeito.
A harmonia relacional, mesmo entre notas de oitavas diferentes, pode produzir efeitos sonoros muito mais agradáveis e surpreendentes do que vibrações de notas iguais ou na mesma oitava. É questão de apurar os sentidos para captar essa nova peça musical, ainda que estranha, num primeiro momento, para os que estão na plateia.

Josenilton kaj Madragoa
Enviado por Josenilton kaj Madragoa em 20/04/2011
Código do texto: T2920038
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