Observações Sobre o Poder

Chegamos à conclusão de que o poder ocupa espaço fundamental na organização da sociedade. É uma condição perseguida a partir do momento em que o ser-humano encontra a relação com o outro, e persiste na civilização como propulsor de seu próprio progresso. É nas relações primárias que a criança apreende as vantagens para ela, em termos de sobrevivência, adaptação, incorporação e satisfação de sua vontade, que em si é a obtenção do controle sobre outros. Ela sai do mundo mítico, em que é una com a natureza, e adentra a civilização onde a competição é sempre o foco, encontra nos primeiros anos a figura do pai, como o rei desse mundo primordial, o símbolo maior de liderança e proteção, com o qual se identifica e se reduz, com o ímpeto de vencê-lo.

Essa matriz psíquica de poder constituída nessas relações primárias é aplicada por esses individuo em seu convívio na esfera social e transfere a identificação, a submissão e o sentimento de proteção para aqueles que se assemelham às atitudes vivenciadas com o pai, a mãe, e os irmãos, como se esses fossem a maquete de pátria e nação. Portanto, é o fator psicológico individual produto dessa relação que influencia os processos sociais na esfera pública; onde a opinião pública, ou seja, desalienada, prevalece. Mas se essa relação for repressiva, autoritária, como dissera Reich, torna-se alienante que em somatória com outras psiques de qualidade amiúde provocam o fenômeno conhecido como fenômeno de massa, passível de manipulação pelos aparelhos midiáticos e de marketing ideológico.

Essa figura de líder parece permanecer simbolicamente na figura do pai. Já na concepção da vida o ímpeto de agressividade, de sobrevivência, impelida pelos espermatozóides, parece ser um impulso masculino. O esperma mostra instinto de ação e o óvulo de passividade. Não necessariamente o feminino é submisso, nos parece mais uma hierarquização. E na vida adulta, na conquista, a mulher se sente atraída pelo homem “de atitude”, aquele que se mostra mais agressivo, ativo, em oposição à sua passividade, à sua submissão, parece natural – ela rejeita o homem que se iguala a ela na submissão. Parece-nos uma resposta da natureza para a sobrevivência da espécie, de selecionar os mais aptos. Se não houver movimento no universo não há a manutenção da vida, nem a progressão da espécie. Parece ser uma lei mais geral que não se aplica somente ao ser humano. Portanto, o poder não é um impulso à superioridade, mas à continuidade.

Identificamos que o poder em sua ambivalência pode agir sobre o indivíduo de forma cooperativa ou de forma patológica. Quando visa o bem comum tende a ser baseado na originalidade de sua fundação, ou seja, quando concebido no ato em que a civilização também nasceu e orientado para a organização do caos. Mas de forma contrária escraviza o individuo e o torna gerido pelo complexo de poder, mecanismos de controle e perversão. O poder tem simbolicamente as suas duas facetas: a do Midas que o isola e a do Deus que protege, uni, socializa. Desde prometeu e Adão, partindo do mito e entrando na realidade humana, o poder Divino sempre insuflou no homem o desejo de poder. É o desejo de se tornar Deus, de Controlar todos, não ser subjugado e ser imortal. É o desejo da perfeição que o motiva à sobrevivência e ao progresso. Mesmo o indivíduo miserável, economicamente, alienado, tem o desejo de Poder. O desejo de fazer um mundo melhor, mas a partir de sua ótica, e que certamente, não será o mundo melhor de outro miserável. Mesmo que ele não chegue ao poder ele almeja o poder através de alguém e por essa via se realiza. Quando seu país ganha uma copa do mundo ele assistindo a final pela vitrine de alguma loja sente uma explosão de emoção encher-lhe o peito que lhe dá vontade de gritar: “É campeão! É campeão!”. Mas que na verdade esse grito expressa o seguinte. Sou pobre, mas pertenço a uma nação forte, rica e poderosa.

Contudo, há esses dois tipos de indivíduo em que ambos desejam o poder: o que realmente lidera e o que se alienia. A Psicologia Social afirma através de Silvia Lane que o ser-humano constrói a sociedade, através da sua conduta psicológica, e, ao mesmo é construído por ela, através dos grupos sociais em que ele está inserido. O homem é modificado por sua atitude com o outro à medida que a este o modifica também. Acreditamos que seja assim também entre a relação de poder. E a fim de concluir com um exemplo podemos dizer sobre os grandes conglomerados econômicos que investem milhões nas campanhas políticas, com o intuito que elas defendam seus interesses dentro do país. Com esse trunfo os candidatos criam ilhas de fantasia através de expectativas e promessas que pouco saem do papel – através de propagandas midiáticas espetaculares, que atravessam mandatos sem se concretizarem. Vive-se mais a expectativa do que a realidade, criando um mundo fragmentário, esquizofrênico. Esse individuo que espera é o mesmo que adoece e o mesmo que vai ouvir novas promessas de solução para a sua doença. Hoje a sociedade vive essa ansiedade que advém da predominância das formas de poder contemporâneo, a saber: o capitalismo financeiro, políticas como o neoliberalismo e a globalização e a desenfreada Era da informação que não informa: camufla, direciona tendenciosamente, aquele que não a vê com desconfiança.

Sérgio Caldeira
Enviado por Sérgio Caldeira em 25/05/2011
Código do texto: T2991947
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